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Geral

- Publicada em 26 de Maio de 2020 às 21:11

Com casos de Covid-19 na Fase, servidores não se sentem seguros no trabalho

Orientação é para que internos usem máscara ao circular pelas unidades

Orientação é para que internos usem máscara ao circular pelas unidades


CAMILA DOMINGUES/PALÁCIO PIRATINI/JC
A confirmação de 15 casos positivos de Covid-19 chamou atenção para a situação da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul (Fase). No dia 18 de maio, João Batista Ramos de Freitas, um dos 13 servidores que testaram positivo para a doença, morreu. Os outros 12 funcionários já estão curados, assim como dois adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, que também foram contaminados. A instituição desmentiu haver um surto de coronavírus em uma de suas unidades de Porto Alegre.
A confirmação de 15 casos positivos de Covid-19 chamou atenção para a situação da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul (Fase). No dia 18 de maio, João Batista Ramos de Freitas, um dos 13 servidores que testaram positivo para a doença, morreu. Os outros 12 funcionários já estão curados, assim como dois adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, que também foram contaminados. A instituição desmentiu haver um surto de coronavírus em uma de suas unidades de Porto Alegre.
Freitas era agente do Centro de Internação Provisória Carlos Santos (Cipcs), por onde entram os adolescentes recém-chegados à Fase e permanecem por 15 dias antes de serem deslocados. Até a morte do servidor, o Cipcs já contabilizava outros dez casos positivos entre os servidores. Segundo Francisco Pereira, agente do Cipcs, entre quinta-feira (21) e sexta-feira (22) da semana passada surgiram mais três novos casos de servidores infectados na unidade.
Após a morte de Freitas, a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde afirmou que testaria todos os adolescentes que ingressassem, mas essa medida não foi colocada em prática. O engenheiro de Segurança do Trabalho da Fase, José Jolair, relata que foram recebidos cerca de 630 testes rápidos para testar os funcionários das unidades que tiveram casos confirmados.
Segundo Jolair, os testes já estavam acontecendo mas, de acordo com Pereira, poucos colegas tinham sido testados até sexta-feira. "Esses novos casos podem significar que o vírus pode continuar ativo aqui. O pessoal quer, pelo menos, fazer a testagem. Todo mundo está apreensivo para saber se está ou não com a doença", afirma. O agente da Cipcs relata, ainda, que não houve uma descontaminação no ambiente e que isso preocupa a ele e aos colegas.
Pereira também conta que a Fase não comunicou os servidores dos casos confirmados. O estado de saúde dos funcionários é divulgado através de conversas informais entre os colegas. Nas outras unidades, a narrativa não é diferente. Segundo Fábio*, servidor do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) POA I, e Andressa*, servidora do Centro de Convivência e Profissionalização (Ceconp), a informação chegou através da imprensa. "Sabíamos de cerca de seis ou sete casos. Quando vi que a imprensa informou 15 casos confirmados, fiquei muito desconfortável e com medo", afirma Andressa.
Além da subnotificação, Fábio também denuncia a falta de condições propícias para o enfrentamento da pandemia. Segundo ele, os meninos são responsáveis pela higienização dos espaços que usam. "Propomos essas atividades pela questão do resgate de valores, mas essa é uma situação diferente. Eles não têm os equipamentos necessários para realizar a limpeza específica da pandemia", relata. Lá, o uso de máscaras é somente necessário para os funcionários. Mas, ainda assim, Andressa e Fábio apontam que os colegas não costumam usar a máscara corretamente.
A coordenadora de Saúde do Adolescente da diretoria socioeducativa, Márcia Nunes, argumenta, porém, que todos os adolescentes têm máscaras e possuem indicação de usá-las o dia todo, principalmente durante as atividades de convívio coletivo. A defensora pública responsável pelo atendimento aos internados provisórios na Cipcs, Fernanda Sanchotene, afirma que sempre vê os jovens de máscara, ainda que por chamadas de vídeo. Já o defensor público responsável pelo atendimento da Comunidade Socioeducativa (CSE) e da unidade da avenida Padre Cacique, Rodolfo Lorea Malhão, diz que os adolescentes estão orientados a usar máscara quando circulam pela unidade, e não apenas quando estão restritos em suas alas ou dormitórios.
Dos 1,8 mil servidores da Fase, mais de 360 estão afastados por pertencerem a grupos de risco ou por terem apresentado sintomas da doença. Dos que continuam trabalhando, poucos se sentem seguros nos ambientes. Segundo Edgar Costa Sperrhake, presidente do Semapi-RS, sindicato que representa os trabalhadores de fundações ligadas ao governo estadual, funcionários entram em contato diariamente para dizer que estão com medo. "O principal pedido é o da testagem. Eles querem saber, porque estão com medo por si e pela suas famílias", ressalta.
Malhão afirma que há pouco mais de duas semanas houve uma reunião entre defensores, promotores, presidente da Fase e o juiz do juizado da Infância e Juventude, Charles Bitencourt, para discutir a testagem, que ficaria à cargo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre. Depois disso, somente adolescentes com sintomas foram testados. O Jornal do Comércio entrou em contato com a SMS e com a Secretaria Estadual de Saúde, porém nenhum órgão assumiu a responsabilidade pelo cuidado com a Fase.
*Nomes fictícios para que os funcionários não sejam identificados
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