Um espaço aberto iluminado, com bancos, árvores, flores e um grande chafariz. É assim que os moradores lembram da antiga aparência da Praça Júlio de Castilhos, localizada no bairro Independência, em Porto Alegre. Há mais ou menos três anos, porém, a imagem de quem visita a esquina da rua 24 de Outubro com a Ramiro Barcelos é diferente: plantas secas e mal cuidadas, pintura descascada e um chafariz fora de funcionamento. Moradores e comerciantes reclamam que a praça está suja, perigosa e completamente abandonada.
A Praça Júlio de Castilhos faz parte da realidade dos porto-alegrenses desde 1890. Desde 1995, por meio de termo de adoção, é de responsabilidade do Hospital Moinhos de Vento (HMV). Naquele ano, passou por revitalização e, desde então, segundo informou o hospital, em nota, "realiza a limpeza diária do local e manutenção periódica por meio de contrato com empresa terceirizada."
Recentemente o chafariz foi vandalizado e peças foram roubadas. A reposição dos itens está sendo providenciada pelo hospital.
Em datas comemorativas, os moradores lembram que o espaço era decorado e recebia apresentações artísticas. Segundo nota enviada pelo HMV, "a programação de Natal passou a ser feita dentro do Hospital, para evitar transtornos para o trânsito e para garantir a participação também de pacientes e colaboradores."
Recentemente, a praça passou alguns meses sem iluminação. "Tivemos que ir até a Câmara Municipal implorar para que ligassem a luz novamente. Falaram que cortaram a luz para redução de custos. Ficou muito perigoso. Na praça inteira, éramos a única fonte de luz", afirma Tatiana Scheffer, funcionária do carrinho de cachorro-quente Dog do Formiga, localizado em uma das esquinas da praça. Ela conta, também, que aumentou muito o número de pessoas em situação de rua que habitam o local. "O abandono da praça diminuiu muito o movimento. Notamos que quando os moradores de rua não estão aqui, temos mais clientes. As pessoas se sentem coagidas por eles, que ficam pedindo dinheiro ou comida."
O dono do Mini Mercado Progresso, na rua Ramiro Barcelos, também percebe o aumento no número de pessoas em situação de rua. Reni Sgarabotto afirma que os moradores não frequentam mais a praça. "Quem vem aqui são pessoas de outros bairros, que precisam ir em algum dos hospitais e matam tempo na praça. Os moradores não vêm mais para tomar chimarrão e conversar", relata. Ainda que a situação esteja ruim, Reni, que trabalha no mesmo local há 32 anos, afirma que antes da adoção do HMV era bem pior. Em relação as pessoas em situação de rua, o hospital afirmou que "não pode realizar a abordagem ou realocação, pois trata-se de problema social de responsabilidade do poder público municipal".
Desde novembro do ano passado, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) está seguindo um cronograma de limpeza e revitalização das mais de 600 praças de Porto Alegre. Como a Praça Júlio de Castilhos foi adotada pela iniciativa privada, a instituição adotante é responsável pela limpeza, conservação e manutenção do local. A SMSUrb prometeu o conserto das calçadas para o segundo semestre de 2020.