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Geral

- Publicada em 22 de Novembro de 2019 às 14:20

Morre Henry Sobel, rabino símbolo da defesa dos direitos humanos no Brasil

Quando Vladimir Herzog foi assassinado, o jovem Sobel desafiou a versão oficial da ditadura militar

Quando Vladimir Herzog foi assassinado, o jovem Sobel desafiou a versão oficial da ditadura militar


ELSON SEMPE PEDROSO/CMPA/JC
Morreu na manhã desta sexta-feira (22), em Miami (EUA), o rabino Henry Sobel, aos 75 anos. Segundo sua assessoria, ele não resistiu a complicações associadas a um câncer no pulmão. O sepultamento será neste domingo (24), em Nova Jersey. Ele deixa a esposa e uma filha.
Morreu na manhã desta sexta-feira (22), em Miami (EUA), o rabino Henry Sobel, aos 75 anos. Segundo sua assessoria, ele não resistiu a complicações associadas a um câncer no pulmão. O sepultamento será neste domingo (24), em Nova Jersey. Ele deixa a esposa e uma filha.
Rabino emérito da Congregação Israelita Paulista, Sobel teve forte atuação na defesa dos direitos humanos no Brasil. Quando o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado, em 25 de outubro de 1975, o jovem rabino Sobel não engoliu a versão oficial da ditadura militar. Enfrentando pressões, realizou o enterro do jornalista no centro do cemitério, se recusando a aceitar a alegação de suicídio - o que, segundo a religião judaica, o levaria a fazer o sepultamento nas margens do lugar.
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Dias depois, Sobel liderou, junto com d. Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, e Jaime Wright, pastor presbiteriano, o célebre ato ecumênico em homenagem a Herzog. A catedral da Sé ficou lotada e uma multidão tomou conta da praça, num silencioso e contundente protesto contra a ditadura.
Nascido em Lisboa (Portugal), Sobel se mudou para Nova York na infância com a família. Nos anos 1970, aceitou o convite para se tornar rabino da Congregação Israelita Paulista, em São Paulo, onde residiu até 2013, quando trocou o Brasil por Miami.
Sobel também ficou marcado pelo episódio das gravatas -quando, em 2007, foi detido por causa do furto numa loja nos EUA. "Trinta e sete anos [no Brasil] e puf! Fiz o impensável", desabafou, trêmulo, em um filme sobre a sua trajetória lançado em 2014.
À época, sofrendo de depressão e confuso com a medicação, o rabino encarou o precipício: foi afastado da direção da Congregação Israelita Paulista e passou a ser execrado e ridicularizado. Segundo um dos depoimentos no filme, setores conservadores do judaísmo, sempre insatisfeitos com a atuação aguerrida de Sobel, aproveitaram o episódio para tirá-lo de cena.
O rabino, em entrevista coletiva na época dos fatos, falou ser "muito difícil" para ele "explicar o inexplicável". Em entrevista à Folha de S.Paulo em 2014, no entanto, afirmou: "Foi uma falha moral minha".
"Por que eu fiz aquilo? Como se justifica? Ainda não achei a resposta, mas certamente vou trazer uma de volta de Miami", acrescentou, referindo-se à sua mudança, na ocasião, para os EUA.

Autobiografia

Em sua autobiografia "Um Homem. Um Rabino", publicada em 2008, Sobel abordou principalmente as relações com a família, a religião e a política. Dedicou um considerável espaço ao seu envolvimento "na luta contra a ditadura militar", com um certo tom heroico.
Num capítulo intitulado "Vladimir Herzog", ele lembrou que se recusou a enterrar o jornalista judeu como "suicida" - causa mortis divulgada oficialmente pelo regime militar.
O rabino relatou o diálogo que teve com "um funcionário" da Congregação Israelita Paulista: quando o rapaz citou sinais de tortura no corpo de Herzog, Sobel disse: "Então não vamos enterrá-lo como suicida".
O "funcionário" então questionou: "O sr. tem certeza, rabino?". Ao que Sobel respondeu: "Total. Se alguém perguntar, diga que é um pedido do rabino Sobel".
Ainda na obra, ao escrever sobre "a mídia e o poder", ele afirmou: "A verdade é que, a partir do caso Vladimir Herzog, ganhei uma projeção na mídia que jamais imaginara ao desembarcar no Brasil. O que, é claro, nunca havia sido meu objetivo: o engajamento obedeceu a um dever de consciência, a convicções religiosas e humanistas. Porém, o fato é que eu me tornara um judeu conhecido nacionalmente".

Celebridade

Figura notória por aparecer em publicações que iam desde as revistas da comunidade judaica até a Caras, Sobel reservou um capítulo de sua autobiografia para os "chiques e não famosos".
Ali, deixando transparecer um certo deslumbramento com a alta sociedade, citou as bênçãos que concedeu a casais "mistos" (de religiões diferentes), como Marta Suplicy e Luis Favre; Thereza Collor e Gustavo Halbreich; John Neschling e Patrícia Melo.
No de Luciano Huck e Angélica, ele diz que ficou "muito impressionado com a lista de convidados". "Havia gente famosíssima: Gilberto Gil, Abílio Diniz, Naomi Campbell... Mas também estavam lá dezenas de funcionários da Rede Globo, de todos os níveis, muita gente simples."
Todos foram tratados com a mesma fineza que os chiques e famosos. "Foi um exemplo de dignidade", disse o rabino, sempre disposto a reforçar sua luta pela igualdade social.

Família

No capítulo "Em família" da autobiografia, ele contou sem muito entusiasmo que "hoje, passados mais de 30 anos, meu casamento com Amanda é bom".
Tanto Amanda quanto a filha do casal, Alisha, nascida em 1983, se queixaram em diferentes momentos de um marido e um pai ausente, por causa da dedicação ao trabalho. Alisha casou-se em 2014 com o executivo Luis Carlos Szuster.
No fim da obra, quando volta a falar das gravatas, Sobel lembra da "solidariedade e o calor humano" que recebeu de personalidades como o ex-presidente Lula, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) e o ex-arcebispo de São Paulo Cláudio Hummes.
"Não falo com essas pessoas pela influência. São amigos de verdade", afirmou, desconversando sobre a versão de que o grau de influência de seus relacionamentos, de certa maneira, ajudou a preservá-lo no episódio.
A Federação Israelita do Rio Grande do Sul divulgou nota lamentando a morte do rabino. "O rabino foi um grande defensor dos direitos humanos no Brasil", diz a nota, citando a busca pelo esclarecimento do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, de origem judaica, cometido pelos órgãos de repressão em São Paulo, em 1975.
Folhapress
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