Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu que o vírus Zika, além de se replicar no cérebro de pessoas adultas, também causa prejuízos de memória e problemas motores. Os pesquisadores usaram tecido sem doença de pacientes adultos que se submeteram a cirurgias no cérebro, mas não tinham Zika, e colocaram o vírus no tecido. Observaram que o Zika infectava aquelas células, principalmente os neurônios, e se replicava no tecido.
Uma das coordenadoras da pesquisa, a neurocientista Claudia Figueiredo, explica que os pesquisadores decidiram ver qual seria o efeito se infectassem o cérebro de um camundongo adulto com o Zika. Constatou-se que o vírus se replicava e tinha preferência por áreas relacionadas com a memória e o controle motor. "E era justamente isso que estava alterado nos pacientes quando eles tinham o vírus em quadros mais complicados. Não só o vírus se replicou, mas o camundongo ficou com prejuízo de memória e motor", afirma. O mesmo pode acontecer com pessoas adultas.
Segundo a neurocientista, o prejuízo de memória ocorreu não apenas na fase adulta da infecção, mas também após a infecção ter sido controlada nos camundongos. O vírus teve um pico de replicação de vários dias. "Só que 30 dias depois, quando o vírus já está com quantidade baixa no cérebro, o animal continua com prejuízo de memória". A pesquisadora esclareceu que 30 dias na vida de um animal equivalem a dois, três ou quatro anos na vida de um humano.
Os pesquisadores usaram um anti-inflamatório e viram que esse tratamento melhora o prejuízo de memória. Os cientistas acreditam que a descoberta pode contribuir para a elaboração de políticas públicas para tratamento de complicações neurológicas por Zika em pacientes adultos.