Porto Alegre tem o maior índice de fumantes do País

Porto Alegre não tem o que comemorar neste 29 de agosto, Dia Nacional de Combate ao Fumo. De acordo com o Vigitel, estudo que compõe o sistema de vigilância de fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) do Ministério da Saúde, em 2018, a Capital registrou a maior frequência de fumantes do Brasil, tanto entre homens (17,3%) quanto entre mulheres (11,9%). Salvador (BA) tem o menor índice entre homens, de 6,8%, e São Luís (MA), entre as mulheres, de 2,8%. Em 2017, Porto Alegre estava em terceiro lugar entre as capitais com maior frequência de fumantes acima de 18 anos, com 16,7% dos homens. Entre as mulheres, era de 9%.

De acordo com o coordenador do Programa Municipal de Controle ao Tabagismo, Roberto Bouer, a Secretaria Municipal de Saúde segue trabalhando, diariamente, para tentar retirar a Capital dessa liderança indesejada. "A estratégia é dividida em alguns pontos. Primeiro, na oferta do tratamento; segundo, na qualificação do quadro profissional dos servidores; e, por último, na formação de parcerias com a sociedade civil e com a mídia para campanhas de combate ao fumo", explica.

Atualmente, a meta da prefeitura é oferecer tratamento contra o tabagismo em 70% das unidades de saúde - não somente nas unidades de referência, mas em qualquer posto que o paciente tenha preferência. Além do tratamento, a ideia é trabalhar fortemente a conscientização. O Programa Nacional de Tabagismo prevê, ainda, o controle do consumo de álcool (o que leva a fumar mais) e o incentivo à prática de exercícios para evitar o ganho de peso.

De acordo com o Vigitel, 8% dos homens com mais de 18 anos fumam 20 ou mais cigarros por dia no Brasil. Entre as mulheres, 3% das entrevistadas consomem essa quantia.

O tabagismo é considerado uma doença crônica e epidêmica, sendo a maior causa isolada evitável de doenças e mortes precoces no mundo. A nicotina, droga psicoativa presente nos derivados do tabaco e que causa a dependência, fez com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluísse o tabagismo no grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas, na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).

O cigarro eletrônico não fica de fora das estatísticas e já é considerado um dos novos vilões da dependência do tabaco. Bouer explica que, por serem saborizados e terem contato com a água, o vapor produzido tem ainda mais absorção pelo organismo. O mesmo efeito é encontrado no narguilé. "Estima-se que uma pessoa, para ser considerada tabagista, tenha que fumar 100 miligramas, ou seja, um miligrama por cigarro, o que equivale a 100 cigarros, durante a vida e ainda faça uso do cigarro. Em uma sessão de narguilé (que, em média, pode variar entre 20 e 80 minutos), a pessoa deixa de ser um experimentador para se tornar um tabagista, já que o narguilé equivale a 100 cigarros fumados", exemplifica o coordenador do Programa Municipal de Controle ao Tabagismo.

A OMS estima que 7 milhões de pessoas morram a cada ano pelo consumo de cigarros. Mais de 6 milhões são resultado do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 890 mil são de fumantes passivos.

No Brasil,o Instituto Nacional do Câncer aponta que 428 pessoas morrem por dia por causa da dependência a nicotina - 156,2 mil por ano. Além disso, 70% das doenças crônicas não transmissíveis, as que mais matam - respiratórias, cardiorrespiratórias, cânceres e diabetes -, são todas impactadas pelo tabagismo, seja ativo, passivo ou residual.

As pessoas que desejam buscar tratamento para o vício podem procurar qualquer unidade de saúde, tanto em Porto Alegre quanto no Interior. Na Capital, a população também conta com o aplicativo Eu Faço Poa. Assim que começar o tratamento, o paciente passará por um trabalho psicológico até apresentar condições de tomar medicação. Os números, porém, não são nada animadores. De dez pessoas que tentam abandonar o cigarro, apenas três conseguem.