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lazer

- Publicada em 19 de Março de 2019 às 21:56

Moradores da Cidade Baixa pedem ações da prefeitura

Moradores reclamam de atos de violência, confusões e desvalorização de imóveis

Moradores reclamam de atos de violência, confusões e desvalorização de imóveis


GIULIA SECCO/CMPA/JC
Apesar de divergências em alguns pontos, a visão de representantes de várias entidades de moradores do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, parece convergir em um ponto específico: a região não tem mais como receber os blocos de Carnaval, pelo menos no atual formato. A opinião foi exposta repetidas vezes na tarde de ontem, durante reunião na Câmara de Vereadores da Capital. Relatos de uso de drogas, pessoas urinando ao ar livre, exploração de menores e muitos comportamentos inadequados foram frequentes durante o encontro, que tinha como objetivo cobrar ações que diminuam a angústia de quem reside no bairro.
Apesar de divergências em alguns pontos, a visão de representantes de várias entidades de moradores do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, parece convergir em um ponto específico: a região não tem mais como receber os blocos de Carnaval, pelo menos no atual formato. A opinião foi exposta repetidas vezes na tarde de ontem, durante reunião na Câmara de Vereadores da Capital. Relatos de uso de drogas, pessoas urinando ao ar livre, exploração de menores e muitos comportamentos inadequados foram frequentes durante o encontro, que tinha como objetivo cobrar ações que diminuam a angústia de quem reside no bairro.
Neste ano, a folia no bairro boêmio foi reduzida a dois dias, acontecendo somente no sábado e na terça-feira de Carnaval. Ainda assim, a Brigada Militar acabou intervindo após reclamações contra frequentadores mais exaltados. "O prefeito (Nelson Marchezan Júnior) disse que tivemos um Carnaval de rua de qualidade, organizado e seguro. Não foi nesse planeta, eu garanto", afirma a moradora Denise Rodovski. Além dessas confusões, outros eventos recentes preocupam os moradores, como o triplo homicídio na rua João Alfredo, ocorrido em janeiro.
Na visão de Carla Santos, presidente do grupo Vizinhança na Calçada, o bairro tem virado um "desastre a céu aberto" no período noturno - em especial, nos fins de semana e em eventos como o Carnaval de rua. "O problema é o pós-carnaval. Depois que o bloco passou, com toda a estrutura para isso, boa parte do público fica e não vai embora", diz. Segundo ela, já foram feitas cobranças para que seja ampliada a oferta de transporte coletivo, já que muitos frequentadores da Cidade Baixa são de baixa renda e não têm recursos para aplicativos, além da limpeza imediata de ruas e calçadas.
Além da falta de sossego, alguns proprietários reclamam da desvalorização dos seus imóveis, que teriam perdido valor de mercado em consequência das constantes ocorrências. "Eu não chamo mais ninguém para pousar na minha casa, porque tenho vergonha. Digo que é melhor ficar em um hotel", afirma Hermógenes Pereira Júnior, presidente da Associação de Moradores da Cidade Baixa. Outra questão muito frisada tem a ver com a criação de um comitê gestor, envolvendo diferentes grupos ligados ao bairro, que estaria sendo protelada pelo Executivo municipal.

'Perde todo mundo', diz presidente de liga de blocos de rua

Já o presidente da Liga dos Blocos Descentralizados, Otávio Pereira, considera que os problemas são decorrentes de uma cadeia de omissões e más decisões do poder público. Entre esses problemas, ele lista a falta de políticas públicas municipais, as dificuldades em torno do Conselho Municipal de Cultura e o descumprimento de preceitos da Lei Orgânica e do Plano Diretor voltados ao lazer da população. "Perde todo mundo", resume.
Ele alega que os organizadores dos blocos tiveram grandes prejuízos com o modo como a prefeitura organizou a folia neste ano, e acabaram associados com confusões que não são de sua responsabilidade. Uma de suas propostas para o impasse é um novo processo de regulamentação do Carnaval de blocos, a partir da Câmara de Vereadores. "O espaço de discussão é aqui, não de cima para baixo, goela abaixo", acentua Pereira.
Presente ao encontro, o titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Eduardo Cidade, contestou uma das alegações dos moradores, de que haveria um "festival" de alvarás provisórios na região. Segundo ele, dos 2.387 alvarás válidos no chamado quadrilátero da Cidade Baixa, apenas 194 são provisórios. Além disso, afirmou que a fiscalização dos ambulantes tem sido realizada, enumerando 330 autuações, 766 apreensões e 667 atendimentos a solicitações feitas pelo telefone 156. Segundo o secretário, é preciso uma "mudança de cultura" em torno do modo como a população porto-alegrense enxerga o bairro.
Representando a Associação dos Comerciantes da Cidade Baixa, Maria Isabel Nehme se disse favorável a processos de legalização de estabelecimentos e à realização de um estudo de impacto de vizinhança, com foco nos frequentadores que não entram nos bares e restaurantes. "A rua tem trazido uma população que precisa ser estudada adequadamente, e que também quer lazer", acentua. Mas adverte para o risco de a discussão, se mal conduzida, acabar por "demolir" a visão coletiva sobre a Cidade Baixa. "Está se criando uma imagem negativa, de um bairro marginal, de crime e insegurança, e a realidade não é esta. É preciso valorizar o que há de positivo", argumenta Maria Isabel.