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Transporte público

- Publicada em 11 de Março de 2019 às 22:25

Aumento pode levar empresários a desistirem de operar lotações

Segundo associação, número de passageiros caiu 45% em cinco anos

Segundo associação, número de passageiros caiu 45% em cinco anos


MARCO QUINTANA/JC
Os permissionários do serviço de lotações em Porto Alegre bem que tentaram evitar, mas as tarifas vão mesmo aumentar de R$ 6,00 para R$ 6,60 a partir de amanhã. O reajuste de 10% nas viagens, além de pesar no bolso dos usuários, pode também comprometer a própria continuidade do serviço. Alegando prejuízos crescentes e pressionados pela ascensão dos serviços de transporte individual via aplicativos, alguns proprietários de lotações já falam abertamente em desistir do negócio.
Os permissionários do serviço de lotações em Porto Alegre bem que tentaram evitar, mas as tarifas vão mesmo aumentar de R$ 6,00 para R$ 6,60 a partir de amanhã. O reajuste de 10% nas viagens, além de pesar no bolso dos usuários, pode também comprometer a própria continuidade do serviço. Alegando prejuízos crescentes e pressionados pela ascensão dos serviços de transporte individual via aplicativos, alguns proprietários de lotações já falam abertamente em desistir do negócio.
"Para nós, a situação é insustentável, desesperadora. Não tem como operar", resume Clarimundo Flores, permissionário da linha Guerino-Lindóia e que representa um grupo de pequenos proprietários de lotação na Zona Norte. Ele garante que dois profissionais autônomos que cedem veículos para sua linha já decidiram largar o negócio - e o custo para um novo veículo, em torno dos R$ 300 mil, torna impraticável o aumento de frota. Outras linhas, como a Ipiranga/Pucrs, enfrentam problemas semelhantes, segundo Flores.
No começo do mês, permissionários tentaram, em reuniões com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), encaminhar uma mudança na tarifa, sem sucesso. Atualmente, o aumento nas lotações está atrelado ao dos ônibus, devendo resultar em uma passagem entre 1,4 e 1,5 vezes maior. A passagem de R$ 6,60, no caso, fica no limite mínimo de reajuste. Pela proposta dos empresários, a cláusula mudaria para um gatilho de 1,2 a 1,5 vezes - o que, se fosse aplicado ainda neste ano, permitiria manter o valor das viagens de lotação nos R$ 6,00 atuais.
Porém, tanto a EPTC quanto a Associação de Transportadores de Passageiros (ATP), que reúne as empresas de ônibus de Porto Alegre, se posicionam contrários a qualquer mudança. A alegação da prefeitura é de que a prioridade, dentro do sistema de transporte coletivo, é dos ônibus, sendo a oferta de lotações apenas complementar aos coletivos maiores. O aumento atrelado, neste caso, evitaria "uma concorrência desigual" entre as duas alternativas, segundo nota da EPTC.
Por sua vez, a ATP alega que a manutenção do gatilho "é essencial para a sobrevivência do sistema de transporte coletivo" do município. Segundo o diretor executivo da ATP, Gustavo Simionovschi, o modelo social baseado em isenções, atualmente empregado nos ônibus, depende decisivamente dos passageiros pagantes - um equilíbrio já precário, e que estaria fadado à "falência gradual" se os passageiros migrarem para outro meio, como as lotações.
De acordo com o gerente executivo da Associação de Transportadores de Passageiros por Lotação de Porto Alegre (ATL), Rogério Lago, o sistema apresentou, no período de cinco anos, queda de 45% no número de passageiros transportados. O principal concorrente, argumenta, é o serviço oferecido por aplicativos, que conta com liberdade bem maior para determinar os valores cobrados. O sentimento, segundo Lago, é de que a prefeitura comete uma injustiça com os permissionários.
"Queríamos entender por que o mesmo peso (entre ônibus e lotações) não é levado em conta na hora de exigir um parâmetro de tarifa para os aplicativos. As linhas curtas estão morrendo", acentua. Na visão da ATL, os ônibus não são concorrentes das lotações, uma vez que o segundo modelo já teria um cliente cativo - muito mais sensível a embarcar em um carro particular do que migrar para um veículo com capacidade maior. "O discurso é de que ônibus e lotações, ou mesmo as kombis escolares, são importantes para tirar automóveis da rua e melhorar a mobilidade. Mas esses aumentos vão ter um efeito contrário, vão deixar a cidade ainda mais entupida de carros", adverte.
Está prevista para hoje uma nova reunião entre os empresários de lotação, na busca de alternativas diante do aumento iminente. Clarimundo Flores não acredita em grandes mudanças, e identifica uma postura dúbia por parte da ATL - que afirma ser contra o aumento, mas votou a favor do reajuste no encontro do Conselho Municipal de Transportes Urbanos (Comtu) que sacramentou as novas tarifas. Uma desobediência semelhante à do ano passado, quando as lotações se recusaram a aplicar o aumento para R$ 6,05, poderia "custar muito caro" aos permissionários neste momento, sendo pouco provável um posicionamento nesta direção.
 

Para usuários, qualidade não justifica aumento nas passagens

No Centro, boa parte dos terminais de lotação ficam concentrados em torno da Esquina Democrática, na Borges de Medeiros. O horário de pico para esses veículos ocorre por volta das 17h, com a formação de longas filas. Entre os populares ouvidos pelo Jornal do Comércio, uma opinião se fez praticamente unânime: o atual valor das lotações não tem contrapartida na qualidade do serviço oferecido.
"A gente paga muito por uma lotação que, muitas vezes, é um lixo", diz Everton Castro Medeiros, profissional de informática que mora no Partenon. Usuário frequente do serviço, ele diz que prefere deixar o automóvel pessoal em casa, para não gastar com as caras opções de estacionamento no Centro. O aumento não o fará desistir, garante, mas causa insatisfação. "Para aumentar a passagem de novo, deveriam primeiro se concentrar em oferecer um serviço a contento", diz ele. 
Moradora da Lomba do Pinheiro, Luciana Brás é técnica de enfermagem no Hospital Cristo Redentor e considera a lotação uma opção mais prática de deslocamento, em especial, nos fins de semana. Mas tem notado queda na qualidade do serviço. "Às vezes, vão enfiando gente até não dar mais, como se fosse ônibus", reclama. 
A doméstica Inajara Pereira utiliza a linha Glória apenas eventualmente, quando precisa resolver questões pessoais no Centro. "Bom não fica (com o aumento), mas ainda assim acaba não pesando tanto, vale a pena. Quem usa mais vezes certamente sente mais."