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DE FRENTE PARA O GUAÍBA

- Publicada em 07 de Fevereiro de 2019 às 21:47

Do Mirante do Cristal, um Guaíba que ninguém pode ver

Danificado por temporais, local está fechado há dois anos e não há data para reabertura

Danificado por temporais, local está fechado há dois anos e não há data para reabertura


CLAITON DORNELLES /JC
Quem já subiu no Mirante do Cristal garante que a vista é espetacular. Localizada na avenida Diário de Notícias, na Zona Sul de Porto Alegre, a estrutura de 20 metros de altura oferece um panorama privilegiado do pôr do sol no Guaíba, sem edificações atrapalhando e com um ângulo de visão superior a 270°. Uma perspectiva, sem dúvida, deslumbrante para os apaixonados pelo principal cartão-postal da Capital. Pena que as visitas ao espaço estejam totalmente paradas há cerca de dois anos, e que os reparos necessários na estrutura para a reabertura do local não tenham nenhuma previsão de entrega à população.
Quem já subiu no Mirante do Cristal garante que a vista é espetacular. Localizada na avenida Diário de Notícias, na Zona Sul de Porto Alegre, a estrutura de 20 metros de altura oferece um panorama privilegiado do pôr do sol no Guaíba, sem edificações atrapalhando e com um ângulo de visão superior a 270°. Uma perspectiva, sem dúvida, deslumbrante para os apaixonados pelo principal cartão-postal da Capital. Pena que as visitas ao espaço estejam totalmente paradas há cerca de dois anos, e que os reparos necessários na estrutura para a reabertura do local não tenham nenhuma previsão de entrega à população.
O mirante é parte da Estação de Bombeamento de Esgoto (EBE) Cristal, que coleta os efluentes dos arroios Cavalhada e Dilúvio, e os transmite até a estação de tratamento da Serraria, uma das estruturas centrais do Programa Integrado Socioambiental (Pisa). O projeto, como um todo, tem como objetivo ampliar a capacidade de tratamento de esgotos em Porto Alegre - o que, como consequência direta, aumentaria as chances de retomar a balneabilidade em pontos mais ao Sul do Guaíba, como a Praia de Ipanema. Ao todo, a Estação Cristal custou R$ 21 milhões, incluindo a bela torre que transformaria o Pisa em atração turística da cidade.
De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), o fechamento da área de observação tem relação direta com dois eventos climáticos severos ocorridos na Capital nos anos de 2016 e 2017. Os temporais danificaram uma das portas de entrada, além de quebrar parte das laterais do mirante, que são envidraçadas.
"Como a vidraria é importada, demorou mais tempo para finalizarmos a contratação. Foi necessário realizar adequações nas especificações para lançar o edital na terceira vez, quando tivemos interessados e um empresa vencedora", explica o órgão, em resposta enviada à reportagem por e-mail.
Inaugurado em 2014, no dia do aniversário de 242 anos de Porto Alegre, o Mirante do Cristal era, nas palavras do então prefeito José Fortunati, um modo de corrigir um erro com a comunidade da Zona Sul da cidade. Em entrevista publicada em 2014 pelo Jornal do Comércio, ele dizia que o Pisa havia se concentrado demais nos aspectos técnicos, sem observar o lado social com o devido cuidado. Dessa forma, o espaço foi concebido não apenas para oferecer uma vista privilegiada do Guaíba, mas também como chamariz para diferentes atividades em torno da conscientização ambiental.
Além de encher os olhos com a beleza do lago, os visitantes podiam também participar de uma visita guiada, realizada individualmente ou em grupos, aprendendo sobre o funcionamento do sistema de esgotamento sanitário e recebendo sensibilização sobre o papel da sociedade nesse processo. As visitas ocorriam, preferencialmente, nas tardes de sábado e eram limitadas a 20 pessoas por vez.
Um passeio que, é claro, não acontece há bastante tempo. Na página dedicada ao Mirante do Cristal no site do Dmae, ainda há um calendário disponível com datas para o agendamento de visitas, mas a seleção de qualquer data fornece sempre a mesma resposta: segundo o sistema, "não há vagas disponíveis" para a data escolhida.
No momento, segundo o Dmae, estão sendo feitas "melhorias internas e adequações" no mirante, com o objetivo de torná-lo menos vulnerável aos impactos de eventos adversos, como ventos fortes e temporais. Além disso, a prefeitura deve definir um novo formato para o atendimento do público no local, que está em fase de estudos. Não existe, porém, um prazo para que essas etapas sejam concluídas, muito menos uma data para que o mirante volte a ser uma opção de lazer e contemplação para porto-alegrenses e turistas.

Projeto arquitetônico foi destaque mundial

Estrutura foi considerada uma das mais significativas construções da história recente da Capital

Estrutura foi considerada uma das mais significativas construções da história recente da Capital


CLAITON DORNELLES /JC
A visão privilegiada do Guaíba não é a única beleza associada ao Mirante do Cristal. Projetada pelos arquitetos Moacyr e Sérgio Moojen Marques, a estrutura é considerada uma das mais significativas construções da história recente da Capital. O projeto representou o Brasil na VIII Bienal Ibero-americana de Arquitetura e Urbanismo, ocorrida em 2012 em Cádiz, na Espanha.
Na ocasião, a torre, integrada às chaminés de equilíbrio e à casa de bombas da EBE Cristal, foi considerada uma das dez obras mais significativas erguidas no Brasil no começo da década. Revistas de prestígio internacional na área da arquitetura, publicadas na Argentina e na Coreia do Sul, deram amplo destaque ao mirante.
Do ponto de vista arquitetônico, um dos destaques da obra é a capacidade de harmonizar as estruturas necessárias para o bombeamento de esgoto com a paisagem da orla naquele trecho. As duas chaminés de cimento cinzento, em especial, criariam um impacto negativo, amenizado a partir da presença do belvedere para observação. A ideia de associar o tratamento de esgoto com turismo e beleza natural foi considerada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental um marco na história do saneamento do Estado.
Inaugurada poucos meses antes das partidas da Copa do Mundo na Capital, a estrutura fica relativamente próxima ao estádio Beira-Rio, o que foi visto como uma vantagem para incentivar turistas estrangeiros a conhecer melhor a Zona Sul da cidade. A torre, com altura equivalente a um prédio de oito ou nove andares, também oferecia opções para futuros eventos e exposições, além de duas salas, no térreo e no nível superior, com exibição permanente de dados sobre o Programa Integrado Socioambiental. Espaços que acabaram subaproveitados, na medida em que toda a edificação permanece inacessível a visitantes.