Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Geral

- Publicada em 22 de Janeiro de 2019 às 22:29

'Vamos descapitalizar as facções', avisa nova chefe da Polícia Civil gaúcha

Entre medidas já anunciadas, Nadine reduzirá de 20 para oito plantões policiais em Porto Alegre

Entre medidas já anunciadas, Nadine reduzirá de 20 para oito plantões policiais em Porto Alegre


RODRIGO ZIEBELL/SSP RS/DIVULGAÇÃO/JC
Isabella Sander
O clima no gabinete da Chefia de Polícia mudou - ao longo do dia, muitas mulheres circulam pelo espaço, não só como secretárias, mas como delegadas, diretoras de departamentos e, agora, também na posição de comando, de chefe da Polícia Civil. A nova gestora, Nadine Anflor, parece animada com a função. Com experiência de 15 anos como delegada, sendo sete na Delegacia da Mulher, Nadine conta, em entrevista ao Jornal do Comércio, como se sente ao se tornar a primeira mulher a alcançar o topo da carreira da Polícia Civil. Entre as prioridades de sua gestão, estão a integração entre departamentos, a busca pela descapitalização das facções criminais e o foco na prisão dos líderes do tráfico, e não só dos traficantes da ponta.
O clima no gabinete da Chefia de Polícia mudou - ao longo do dia, muitas mulheres circulam pelo espaço, não só como secretárias, mas como delegadas, diretoras de departamentos e, agora, também na posição de comando, de chefe da Polícia Civil. A nova gestora, Nadine Anflor, parece animada com a função. Com experiência de 15 anos como delegada, sendo sete na Delegacia da Mulher, Nadine conta, em entrevista ao Jornal do Comércio, como se sente ao se tornar a primeira mulher a alcançar o topo da carreira da Polícia Civil. Entre as prioridades de sua gestão, estão a integração entre departamentos, a busca pela descapitalização das facções criminais e o foco na prisão dos líderes do tráfico, e não só dos traficantes da ponta.
Jornal do Comércio - Quais são as prioridades de sua gestão?
Nadine Anflor - Nossa prioridade é manter a excelência do trabalho da Polícia Judiciária, atuando fortemente na elucidação dos homicídios e mantendo ou melhorando o índice de 70% de elucidação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), porque nosso maior patrimônio é a vida. Teremos um olhar especial para os crimes contra o patrimônio, principalmente os cometidos com arma de fogo. Em Porto Alegre, focaremos nos roubos de veículos, que sempre são um potencial latrocínio, investigando a associação criminosa, porque, muitas vezes, fechamos o inquérito policial pelo crime de roubo e não conseguimos investigar qual quadrilha está por trás daquilo. No Interior, focaremos nos roubos a bancos, que têm assustado a população. Dentro do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), solicitamos ao novo diretor um olhar específico para prisões de líderes de facções, e não só de vapozeiros (intermediários). Investigações com mais tempo e qualidade maior. Combateremos também os índices de violência contra a mulher, pois tivemos aumento nos feminicídios nos últimos meses. Reforçaremos a investigação no Departamento de Grupos Vulneráveis (DPGV), que é um setor novo. No segundo semestre, abriremos a Delegacia de Combate à Intolerância, para trabalhar com discriminação racial, sexual e religiosa, entre outras. Buscaremos melhorar a qualidade do atendimento ao cidadão em geral, um grande desafio desta gestão. A Polícia Civil vem fazendo grandes operações, com bons resultados, mas devemos olhar também para a vítima, como ela está sendo recebida e tratada. As estruturas nos plantões são inadequadas, o que faz com que o próprio policial tenha dificuldade de atender. Temos que fazê-lo se sentir bem, para que bem acolha a população.
JC - Como melhorar o atendimento à população?
Nadine - Temos um projeto de racionalização de plantões em Porto Alegre, para que sejam concentrados em algumas delegacias. Pedimos a compreensão da população nesse sentido, mas vamos provar que, não tendo 20 portas abertas, como temos agora, mas oito, e em menos lugares, o atendimento será melhor. Hoje, muitas vezes, na madrugada, há um único servidor, que precisa sair para jantar, aí a porta eventualmente fecha e é constrangedor uma pessoa se socorrer na polícia e encontrar a porta fechada. Cada região continuará sendo atendida, e não vamos fechar delegacias, e sim plantões. Estamos mapeando onde há duas ou três ocorrências registradas na madrugada, muitas vezes não criminais, envolvendo acidentes de trânsito ou perda de um documento. Também queremos melhorar um pouco o atendimento da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), dentro do Palácio da Polícia, onde entram todos os flagrantes e ocorrências 24 horas, e depois expandir para o Interior.
JC - Quais os desafios como a primeira mulher a ser chefe de Polícia?
Nadine - São 77 anos de história, é realmente uma quebra de paradigmas, mas minha intenção ao aceitar esse desafio é que isso não seja mais notícia, porque tenho certeza de que teremos muitas outras chefes de Polícia e comandantes-gerais da Brigada Militar. Somos 37% de mulheres policiais civis, as primeiras entraram na década de 1970. O caminho e as batalhas que trilharam ao longo dos anos me fizeram chegar até aqui, então chego para representá-las. Tudo o que quero é igualdade, não ser mais nem menos, nem ter uma polícia mais feminina ou masculina. Na própria investigação nos locais de crime, se tivermos um homem e uma mulher no local, a riqueza de detalhes trazidos para dentro da investigação é muito maior, porque o homem enxerga algumas coisas que a mulher não enxerga, e vice-versa. Se já somos 37% da corporação hoje, já estava, sim, na hora de ter uma mulher como chefe de Polícia. A metade dos diretores que escolhemos é de mulheres, e isso não foi uma intenção matemática da atual gestão, mas uma coincidência, pois a escolha foi feita pelo critério da competência, do trabalho e da capacidade de integração. Precisamos de pessoas que saibam trabalhar em conjunto e se integrem, e esses diretores e diretoras foram escolhidos fundamentalmente pela capacidade que terão de integrar os departamentos, porque queremos que as investigações sejam feitas em conjunto por Denarc, Departamento de Investigações Criminais (Deic) e DHPP.
JC - Que importância terá a inteligência na sua gestão?
Nadine - A inteligência, hoje, é o coração de toda a instituição policial. O Gabinete de Inteligência terá como missão fazer levantamentos e, principalmente, trocar informações com delegados de todas as regiões do Rio Grande do Sul. Precisamos mapear onde estão acontecendo os crimes, e é através da inteligência que avançaremos. Não tenho dúvida de que precisamos de investimento, mas já chegamos a um patamar satisfatório. Outra prioridade é o combate à corrupção. A Operação Lava Jato teve reflexo nas polícias de todo o Brasil, inclusive na nossa. O combate a toda e qualquer forma de corrupção tem que ser uma das prioridades, inclusive a corrupção policial, por meio de uma corregedoria forte. É através de inquéritos de lavagem de dinheiro, recuperação de ativos e descapitalização do poderio econômico das facções que avançaremos e controlaremos a segurança pública no Rio Grande do Sul.
JC - De que maneira a Polícia Civil pode atuar na prevenção à criminalidade?
Nadine - Embora a Polícia Civil atue na repressão, não há mais como não olhar para a questão preventiva na segurança pública, porque, caso contrário, vamos continuar enxugando gelo. Temos de pensar no adolescente cooptado pelo crime, na ausência da família e do Estado. Acredito que o Departamento de Grupos Vulneráveis terá como papel principal a repressão, mas reprimindo vai trabalhar a prevenção também. Temos projetos de prevenção dentro da Polícia Civil, como o Papo de Responsa, no qual o policial vai até a escola e conversa com os adolescentes, e temos o Galera do Bem, dentro do programa Mediar. A Polícia Civil tem mais de 40 núcleos de mediação no Estado, e pretendemos trabalhar muito nesse sentido. As pessoas não conseguem mais conversar, e a mediação faz com que, com um mediador da Polícia Civil, elas conversem e medeiem seus conflitos. Dentro desse projeto, há outro para adolescentes, que é o Galera do Bem, para fazer a mesma coisa, só que dentro das escolas. Precisamos voltar a fomentar isso na sociedade, que somos diferentes, e essas diferenças devem ser respeitadas.
JC - Por fim, como combater o tráfico?
Nadine - Com a presença da polícia na periferia. A polícia é a presença do Estado, e tem que entrar, fiscalizar e combater. A orientação para o Denarc é focar nos grandes líderes. Temos que descapitalizar, tirar o dinheiro deles. A polícia é a primeira que tem que estar lá, não pode se afastar, mas, no momento em que entramos, com ações pontuais, o Estado tem de ingressar com todos os outros serviços. Esse é o grande desafio de qualquer gestor público. Da nossa parte, não vamos abandonar as periferias. Infelizmente, hoje, não temos o efetivo ideal, então serão operações programadas, e não unidades na periferia, mas muitas delas terão parceria com a Brigada Militar.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO