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Educação

- Publicada em 25 de Dezembro de 2018 às 21:49

O atendimento a crianças superdotadas no Rio Grande do Sul

Antes da identificação das habilidades, professores sugeriram que Rômulo era hiperativo

Antes da identificação das habilidades, professores sugeriram que Rômulo era hiperativo


/MARCELO G. RIBEIRO/JC
A vida do pequeno Rômulo Augusto Figueiró, de nove anos, é a de uma criança normal. Tímido na frente de desconhecidos, falante entre os íntimos, o garoto mostra, desde os primeiros anos, uma predileção por dinossauros e o sonho de ser paleontólogo. Filho do meio, Rômulo faz, escondido, os deveres escolares da irmã mais velha, e busca conhecimento em sites como YouTube. Os interesses pouco comuns chamaram a atenção da mãe, a assistente financeira Ana Gomes, de 42 anos, que passou a observar cuidadosamente o comportamento do filho. Depois de procurar psicólogos e pedagogos, constatou-se que Rômulo, assim como 19.451 matriculados na Educação Especial do Ensino Regular ou da Educação de Jovens e Adultos (EJA), de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), possui altas habilidades, o que também é conhecido como superdotação.
A vida do pequeno Rômulo Augusto Figueiró, de nove anos, é a de uma criança normal. Tímido na frente de desconhecidos, falante entre os íntimos, o garoto mostra, desde os primeiros anos, uma predileção por dinossauros e o sonho de ser paleontólogo. Filho do meio, Rômulo faz, escondido, os deveres escolares da irmã mais velha, e busca conhecimento em sites como YouTube. Os interesses pouco comuns chamaram a atenção da mãe, a assistente financeira Ana Gomes, de 42 anos, que passou a observar cuidadosamente o comportamento do filho. Depois de procurar psicólogos e pedagogos, constatou-se que Rômulo, assim como 19.451 matriculados na Educação Especial do Ensino Regular ou da Educação de Jovens e Adultos (EJA), de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), possui altas habilidades, o que também é conhecido como superdotação.
Apesar de Rômulo não ser portador de necessidade especial nem de qualquer doença, o comportamento da criança, por se diferenciar da maneira como seus colegas de série se portam em sala de aula, foi visto com maus olhos por educadores. Optando por não identificar o colégio, Ana, que também é conselheira na Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação, conta que a superdotação de Rômulo não foi identificada em ambiente escolar. "Sugeriram que ele era hiperativo e que eu procurasse um psicólogo. Depois de me informar, fiquei sabendo que é um erro comum. As crianças começam a ficar inquietas porque se sentem ociosas", relata a assistente. Rômulo foi taxado de "metido" - inclusive por professores - pela capacidade de aprender mais rápido e por manifestar interesses diferentes de outras crianças da mesma idade. "Ao mesmo tempo, o emocional dele é de uma criança de nove anos. No ano passado, vi que ele parou de ler, deixou isso de lado, não queria copiar a matéria no caderno."
A experiência de Rômulo é compartilhada por diversas crianças diagnosticadas com altas habilidades. A identificação desse tipo de condição é, muitas vezes, confundida com outras patologias, como o transtorno do déficit de atenção e a hiperatividade. Isso ocorre porque, como aprendem mais rápido do que os colegas da mesma idade, os superdotados ficam entediados em sala de aula e podem apresentar um comportamento bagunceiro ou de desinteresse. "Existe um mito de que o aluno com habilidades especiais é muito bom em tudo, que não precisa de ajuda. A superdotação não tem essa característica. A genialidade é um dos aspectos, mas pode ser específica em uma área - pode ser muito bom em matemática, e ser dentro da média ou abaixo da média em outras áreas", explica a assessora de educação especial da Secretaria Estadual de Educação, Maristela Deos. As crianças também podem demonstrar facilidade em áreas como o esporte, as artes ou a liderança, e esses aspectos raramente são desenvolvidos dentro da sala de aula.
O ideal é que os pais, atentos aos filhos, percebam essa velocidade de aprendizado e procurem orientação. No entanto, nem sempre as famílias estão informadas ou sabem reconhecer as características, acreditando que a criança é apenas inteligente. Quando essa identificação não ocorre, porém, as próprias crianças, ao se perceberem diferentes, tentam suprimir essas características ou passam a se isolar, por medo de serem excluídos do grupo ou de sofrerem algum tipo de bullying.
Se a identificação não ocorre no âmbito familiar, acaba ocorrendo na escola. Uma das estratégias para identificar a criança com altas habilidades consiste na aplicação de questionários padronizados aos professores, aos colegas e aos pais do aluno. A partir das respostas, as informações são cruzadas. "São perguntas do tipo 'quem é o melhor aluno da turma em matemática?' Se o mesmo nome sempre aparece, o professor pode ficar mais atento. É o que aconteceria em um mundo ideal", explica a mestre em Educação e membro da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação, Lúcia Lamb, lamentando que esse tipo de trabalho não ocorra em todos os casos. Se não estimulada, a alta habilidade pode se perder ou trazer prejuízos à criança.

Mais de 200 crianças frequentam salas de recursos nas escolas públicas do Estado

Pensando nisso, o ensino público oferece uma alternativa às crianças que precisam de um espaço e um tempo para desenvolver essas especificidades. No Estado, 50% das escolas públicas oferecem aulas no turno inverso para esses alunos, mas Maristela Deos, assessora de educação especial da Secretaria Estadual de Educação, garante que todos com altas habilidades são atendidos. Em 2018, 202 crianças e adolescentes estavam matriculados nas salas de recursos.
"O que se percebe é uma dificuldade na identificação. As crianças escondem, as pessoas também pensam que o aluno precisa ser bom em tudo, e os próprios pais acreditam que essa nomenclatura é uma frescura", conta a assessora, que alerta para a necessidade de desmitificação da questão. No Estado, aproximadamente 1,5 mil professores estão capacitados a atuar nas salas de recursos, todos especialistas em Educação Especial. Lúcia Lamb, da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação, no entanto, crê que a rede estadual ainda carece de reforços de pessoas capacitadas a visitar as escolas e a assessorar os professores no processo de identificação. O ideal, aponta, seria a criação de uma rede de pessoas que possam auxiliar nesse trabalho, tanto no âmbito familiar como no escolar.
No ensino privado, a inclusão do aluno em uma sala de recursos funciona da mesma maneira. De acordo com a assessora pedagógica do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe-RS), Naime Pigatto, o jovem é apresentado a atividades que possam ajudar nas áreas que têm dificuldades. "Muitas vezes, um aluno tem essa superdotação em matemática, mas tem muita dificuldade nas relações humanas. O professor da sala de recursos vai traçar todo um plano individual de atendimento para ele a fim de desenvolver essas potencialidades", explica.
Às vezes, a incapacidade de lidar com essas características faz com que se busque, como prioridade, acalmar a criança. "Temos tido um comportamento de neutralização, por meio de remédios. A sociedade não reflete sobre isso, geralmente pensam que é hiperatividade. Por não estarem devidamente identificadas, (as características) são atribuídas a outras condições", explica o presidente da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (Faders), Roque Bakof. Isso resultada, para ele, na infelicidade do jovem, que não desenvolve todo o potencial, e na perda dos benefícios por parte da sociedade.
Embora a experiência inicial de Rômulo tenha sido traumática, hoje, o menino frequenta a sala de recursos. "Ele fica meio entediado, mas precisa partir de algum ponto. Se tu não mostrares o que sabes fazer, não podes ir a uma etapa adiante", conta Ana. Pelo que tem visto, as salas do município são mais equipadas se comparadas aos espaços dos colégios estaduais. "Ele disse que viu que existem crianças parecidas com ele. Foi uma luz no fim do túnel", relata a mãe.