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Patrimônio Histórico

- Publicada em 16 de Dezembro de 2018 às 22:16

Casa da Estrela busca um futuro menos sombrio

Residência ganhou fama na região como local cheio de mistérios

Residência ganhou fama na região como local cheio de mistérios


CLAITON DORNELLES /JC
Na parte mais bucólica do bairro Petrópolis, bem longe de olhares distraídos e automóveis apressados, esconde-se um dos conjuntos arquitetônicos mais peculiares de Porto Alegre. Em meio a um barranco, em um ponto onde a rua Camerino se transforma em um conjunto de escadas, está a Casa da Estrela. Na frente da residência, uma grande paineira se ergue, de modo que é preciso subir pelas escadas para contemplar a beleza do imóvel - um lugar que muitos, até hoje, associam com misticismo e histórias obscuras.
Na parte mais bucólica do bairro Petrópolis, bem longe de olhares distraídos e automóveis apressados, esconde-se um dos conjuntos arquitetônicos mais peculiares de Porto Alegre. Em meio a um barranco, em um ponto onde a rua Camerino se transforma em um conjunto de escadas, está a Casa da Estrela. Na frente da residência, uma grande paineira se ergue, de modo que é preciso subir pelas escadas para contemplar a beleza do imóvel - um lugar que muitos, até hoje, associam com misticismo e histórias obscuras.
De acordo com a prefeitura, a edificação de 165m² vai abrigar, em breve, um centro cultural. Lançado no final de novembro, um edital para recuperação e posterior utilização do espaço recolheu duas propostas, cujos envelopes devem ser abertos no começo desta semana. O levantamento mais recente, de 2015, estimava o custo das intervenções em torno de R$ 560 mil.
Construída no estilo neocolonial, a Casa da Estrela data da segunda metade dos anos 1940. Seu proprietário, Mário Fernandes Pantoja, tinha fama de esotérico e era raramente visto pelos vizinhos. Além disso, alguns elementos arquitetônicos peculiares - em especial, uma estrela de pedra na entrada da casa, que hoje está descaracterizada - criaram uma aura de mistério em torno do lugar.
Quem viu a moradia por dentro garante que parte do passado místico da Casa da Estrela continua no local, muitos anos depois da morte dos moradores originais. Ouvido pela reportagem, um homem que vive de trabalhos informais e identificou-se apenas como César garante ter morado, durante alguns meses, na peça mais alta da Casa da Estrela, após um incêndio ter destruído o local onde vivia com familiares. "O teto é de concreto, e tem uma estrela de cinco pontas desenhada, dentro de um círculo", conta ele - em uma descrição que coincide com relatos de profissionais que estiveram na residência, e que também remete a um pentagrama, figura importante em uma série de rituais.
César diz ter alugado a peça de um outro ocupante, que atuava como vigia de rua e decidiu residir na casa abandonada. Após reintegração de posse, o vigia e sua família foram encaminhados a um abrigo municipal.
A residência foi alvo de uma pesquisa realizada pela empresa Lumia, uma consultoria em pesquisa histórica que elabora laudos para tombamentos e inventários. Segundo a empresa, o imóvel foi incluído pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) no inventário municipal em 2004, com recomendações de que a grande paineira do terreno também fosse preservada. Posteriormente, o conjunto de escadas do entorno foi declarado como de interesse para preservação. Após pedido de reconsideração da então proprietária, que desejava construir um edifício no terreno, a prefeitura decidiu, em setembro de 2009, adquirir o imóvel.
Desde então, o principal desafio tem sido encontrar uma instituição que deseje fazer uso da casa. Tentativas com a Câmara do Livro e a Associação Gaúcha de Proteção Ambiental resultaram infrutíferas. Nesse período, a estrutura não recebeu qualquer reparo: hoje, vidraças e janelas estão danificadas, e parte do telhado está desabando. A esperança é que, a partir das propostas entregues à prefeitura, a Casa da Estrela possa ter um destino menos nebuloso.
> Confira mais imagens da Casa da Estrela e dos imóveis no bairro Petrópolis:

Capital quer entregar proposta para solucionar inventário do Petrópolis nos próximos dias

Praça Mafalda Verissimo, com a histórica caixa dágua, é um dos símbolos do Petrópolis

Praça Mafalda Verissimo, com a histórica caixa dágua, é um dos símbolos do Petrópolis


MARCELO G. RIBEIRO/JC
A Casa da Estrela é um dos primeiros imóveis declarados como de interesse histórico no Petrópolis, sendo um dos poucos a constar na lista de proteção da Capital antes de 2013, quando a Epahc deu início ao processo de inventário no bairro. Além da casa, a Praça Mafalda Verissimo, onde fica a caixa d'água que foi um dos pilares para a urbanização da área, também motivou esforços de conservação, que tomaram forma em movimentos como Petrópolis Vive e Proteja Petrópolis.
No momento, uma ação civil pública do Ministério Público (MP-RS) cobra a prefeitura para que dê andamento ao inventário, oficializando a entrada dos cerca de 400 logradouros na lista de proteção. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, está sendo construída uma solução alternativa, que diminuiria o total de imóveis listados e restringiria a preservação a uma parte específica do bairro. Ainda não há maiores detalhes sobre a proposta, que deve ser apresentada ao MP-RS no decorrer desta semana.
Polêmico desde a primeira listagem, divulgada em 2014, o inventário do Petrópolis segue motivando divergências. Parte dos moradores questiona o modo como a questão foi conduzida, alegando prejuízos econômicos e no direito de propriedade. "Gosto da minha casa, não quero vendê-la, mas fomos prejudicados", diz Lais Pinto de Lima, que reside com o marido em uma casa inventariada na rua Álvares Machado. Em sua visão, a construção de um prédio ao lado reduziu o valor de sua residência - o que se amplia na medida em que ela própria e seus familiares não podem negociar o terreno da mesma forma, caso desejem.
Advogado que representa parte dos proprietários do bairro, Daniel Nichele diz que alguns pequenos construtores adquiriram imóveis para construção de edifícios, encaminhando os projetos antes do inventário e ficando no prejuízo quando a lista bloqueou as intervenções. "Não se pode ficar cinco anos sem definição nenhuma. Ou se dá segurança jurídica para quem já tem um projeto andando, ou se define que o interesse coletivo está acima do individual, bloqueia, mas indenizando os proprietários", argumenta Nichele.
Outros moradores, porém, defendem o inventário como uma ferramenta importante para preservar a história do bairro, que remonta ao início do século passado. Integrante do movimento Proteja Petrópolis, o advogado Álvaro Jôffre Souza Arrosi questiona a visão de que a lista só reverteria em prejuízo aos proprietários. "Temos, no bairro, casos de imóveis que foram adquiridos justamente por estarem inventariados. E esse valor depende muito da preservação do entorno. Muitos compradores se interessam (por residências antigas), mas não vão querer uma bela casa em meio a um distrito industrial, por exemplo."
Confira outras reportagens da série sobre o Patrimônio Histórico de Porto Alegre: