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DE FRENTE PARA O GUAÍBA

- Publicada em 13 de Dezembro de 2018 às 22:31

À espera de dias melhores

Praça Araguaia, a 'pracinha do Timbuka', atrai frequentadores por sua tranquilidade, mas carece de melhor estrutura

Praça Araguaia, a 'pracinha do Timbuka', atrai frequentadores por sua tranquilidade, mas carece de melhor estrutura


MARCO QUINTANA/JC
Vila Assunção é um bairro tranquilo na Zona Sul de Porto Alegre. Nele, localiza-se a Praça Araguaia, uma das tantas que, não fosse a proximidade com o Guaíba, passaria batida pela maioria da população. Mas a memória afetiva dos frequentadores não permite esquecer que ali já foi um lugar agitado, conhecido como "pracinha do Timbuka", em alusão ao famoso bar que funcionou na região por quatro décadas.
Vila Assunção é um bairro tranquilo na Zona Sul de Porto Alegre. Nele, localiza-se a Praça Araguaia, uma das tantas que, não fosse a proximidade com o Guaíba, passaria batida pela maioria da população. Mas a memória afetiva dos frequentadores não permite esquecer que ali já foi um lugar agitado, conhecido como "pracinha do Timbuka", em alusão ao famoso bar que funcionou na região por quatro décadas.
A demolição do prédio, em 2008 - após ação judicial, por conta de irregularidades -, simbolizou o fim de uma era para muita gente. Sem o Timbuka ou outro bar nos arredores, o comércio ficou restrito aos ambulantes de fim de semana, e a área perdeu um pouco da atratividade. Mesmo assim, ainda manteve seu charme.
"Gosto de tomar sol aqui, não existe lugar mais tranquilo. É uma coisa mais meio termo em relação ao Gasômetro, sabe?", compara o empresário Cássio Renck, 47 anos. Morador do bairro Petrópolis, quando tem uma folga, ele vai para a pracinha relaxar. Renck não é exatamente saudoso do Timbuka, pois gosta da tranquilidade da região. "Um dia ainda quero morar aqui", confessa. Mesmo assim, acha que a área está um pouco degradada e lamenta a falta de pelo menos um quiosque para vender bebidas e alimentos. "É complicado, não tem nem onde comprar uma água mineral com esse calor."
A poucos metros, sentado embaixo de uma árvore, o músico Thiago Castanho aproveita o silêncio para ler um livro. Veio do bairro Jardim Carvalho, na Zona Leste, para visitar a mãe e resolveu ficar mais algumas horas. "Nasci e me criei na Zona Sul, gosto muito desse lugar. É bom durante a semana, pela calmaria, e também aos sábados e domingos, quando o pessoal traz instrumentos musicais, tem ambulantes. Não chega a ser como na época do Timbuka e dos outros bares, mas tem movimento". Castanho, no entanto, acha que a praça está malcuidada. "A Smams (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade) veio recentemente, dá para notar", diz, apontando para as árvores podadas. "Mas é só. Tem poucas lixeiras e não há nenhum bar próximo", observa.
Do outro lado da avenida Guaíba, junto à estrutura onde antes ficava o bar que foi demolido, o aposentado José Antônio Costa, 63 anos, busca outro meio de relaxar: a pesca. Mas avisa: quando pega um peixe, logo devolve ao lago. "Já tentei comer, mas é sujo, tem gosto de lama", diz, fazendo cara feia. Hoje vivendo no bairro Teresópolis, Costa lembra de quando era criança e, então morador na Medianeira, ia até a Vila Assunção de bicicleta. "É muito bonito isso aqui. Quando não venho pescar, dou uma volta na pracinha", afirma. Também sente falta de um comércio na região, mas não no estilo do Timbuka, que considera "meio bagunçado".
O papo logo atrai curiosos e chama a atenção dos amigos João Batista Araújo, 59 anos, e Giseli Lemos, 51. Ambos conversavam na praça e atravessaram a avenida para ver do que se tratava a aglomeração. De passagem pela Capital para visitar a filha, Araújo, hoje morador de Palhoça (SC), não esconde a saudade dos tempos de efervescência na Zona Sul. "Era bom demais aqui, tinha o Timbuka, o Sava Clube (ainda em atividade). Eram tempos de Saturday Night Fever", brinca o aposentado, referindo-se ao clássico filme de 1977 sobre a era da discoteca, traduzido no Brasil como Embalos de Sábado à Noite.
Para ele, assim como para Giseli, que é diretora de escola e mora na Tristeza, o problema da região é o mesmo do resto da cidade: insegurança. "Nós sentamos um de frente para o outro, porque daí cada um vigia um lado", explica Araújo. "Falta segurança euma estrutura melhor. Não dá para deixar abandonado", complementa a professora.

Prefeitura tem planos para revitalizar o trecho

Questionada sobre os planos da prefeitura tanto para a praça Araguaia quanto para o entorno, a engenheira-agrônoma Gabriela de Azevedo Moura, gerente do projeto estruturante da orla e integrante da Coordenação de Áreas Verdes da Smams, diz que há melhorias previstas para ambos os espaços. "Todos os trechos da orla, mesmo os que não estão incluídos no projeto do Jaime Lerner (a revitalização planejada pelo arquiteto vai da Usina do Gasômetro até o arroio Cavalhada) serão contemplados. A praça Araguaia e os 230 metros que fazem a composição daquela via (avenida Guaíba) são fantásticos do ponto de vista visual. Pensando nisso, temos um estudo baseado no entorno, levantando as necessidades de acordo com a região", explica a agrônoma.
Segundo Gabriela, uma ocupação nos moldes do antigo Timbuka seria temerária, pois o movimento em dias úteis é baixo. "O local se adéqua mais a comércio ambulante, até porque nossa orla é estreita e tem muito vento sul, o clima não favorece. Se colocássemos estruturas fixas, no inverno ficariam abandonadas", pondera.
A agrônoma prefere não dar estimativas para o início das obras, mas diz que não devem demorar pelo fato de a revitalização da orla ser prioridade da prefeitura. "A ideia é aproveitar a estrutura que ficou abandonada (do Timbuka), que é uma espécie de arquibancada, projetando um alargamento de passeio e a qualificação desse espaço. E do outro lado, a praça Araguaia está, de fato, bem degradada. A programação de roçada está sendo feita, como em qualquer lugar, mas a praça precisa ganhar algo mais: bancos, uma pequena academia para a terceira idade, um redesenho dos canteiros, que estão meio perdidos. É um projeto simples, explorando o que tem de melhor ali, que é a paisagem."