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DE FRENTE PARA O GUAÍBA

- Publicada em 05 de Outubro de 2018 às 00:21

A praça que Porto Alegre esqueceu

Atrás do muro da Mauá e dos trilhos do Trensurb, praça está inacessível há décadas

Atrás do muro da Mauá e dos trilhos do Trensurb, praça está inacessível há décadas


CLAITON DORNELLES /JC
Hoje em dia, ninguém senta para conversar ou tomar sol na Praça Edgar Schneider. Aliás, a maioria dos moradores de Porto Alegre não deve sequer saber que ela existe, mesmo passando boa parte de seu dia a poucos metros dela. Localizado à beira do Guaíba, dentro da estrutura do Cais do Porto, o espaço foi concebido para ser um convite à aproximação entre a cidade e o lago. O Centro, porém, foi crescendo de costas para a orla, as barreiras foram se multiplicando, e a Capital acabou esquecendo de um pedaço da própria história.
Hoje em dia, ninguém senta para conversar ou tomar sol na Praça Edgar Schneider. Aliás, a maioria dos moradores de Porto Alegre não deve sequer saber que ela existe, mesmo passando boa parte de seu dia a poucos metros dela. Localizado à beira do Guaíba, dentro da estrutura do Cais do Porto, o espaço foi concebido para ser um convite à aproximação entre a cidade e o lago. O Centro, porém, foi crescendo de costas para a orla, as barreiras foram se multiplicando, e a Capital acabou esquecendo de um pedaço da própria história.
Atualmente, é possível avistar a praça de longe, indo ou voltando nos trilhos do Trensurb. Ela está na região das docas, em frente a um frigorífico inaugurado nos anos 1930 e que, hoje, está desativado. Porém, a área de 4,2 mil metros quadrados sofreu com décadas de abandono, e é preciso alguma imaginação para perceber que o pequeno conjunto de árvores e grama alta e seca já foi, de fato, uma praça.
Batizada em homenagem ao destacado político e reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul nos anos 1940, a praça foi inaugurada em 1962, como parte do conjunto arquitetônico do porto de Porto Alegre. Acessá-la a pé não era difícil, e uma linha de trem passava nas proximidades, rumo à estação Ildefonso Pinto, perto do Palácio do Comércio. No entanto, o esplendor do local durou pouco mais de uma década, e as mudanças na região central fizeram o espaço sumir da mente dos porto-alegrenses.
Primeiro, foi a construção do muro da Mauá, parte do Sistema de Proteção contra Cheias da Capital. A estrutura, concluída em 1974, criou uma barreira ao acesso direto ao local. As obras do Trensurb, concluídas com a entrega dos trens em março de 1985, reforçaram o isolamento. Os curiosos, contudo, ainda podiam acessar o cais pela entrada principal e ir caminhando até lá - alternativa que acabou no final dos anos 1990, quando a maior parte das atividades portuárias foi encerrada e o acesso tornou-se restrito. Desde então, a Edgar Schneider caiu em silêncio, completamente desligada da cidade.
Hoje, as quatro bancadas de pedra maciça que delimitam as antigas extremidades do espaço encontram-se em ruínas. Ao centro, circundadas por 14 árvores, duas ninfas se erguem. As estátuas são parte da obra Moças da Fonte, esculpida por Alfred Hubert Adloff, alemão radicado na cidade e nome destacado da arte gaúcha na primeira metade do século passado. Entre outras tantas, também são de sua autoria imagens como as estátuas do viaduto Otávio Rocha e a Samaritana, fonte localizada na Praça da Alfândega.
A obra, porém, não chama a atenção de quase ninguém. Os poucos que eventualmente lá passam - trabalhadores do cais, em sua grande maioria - não parecem reconhecer a beleza das esculturas, hoje manchadas e danificadas em vários pontos. No pé direito de uma delas, abriu-se um grande buraco, onde alguém enfiou uma garrafa plástica de refrigerante.

Espaço será revitalizado, mas ainda não há data para o começo das intervenções

A expectativa do poder público e do consórcio Cais Mauá do Brasil é de que a Edgar Schneider ganhe uma nova vida, a partir dos esforços de revitalização da região. As melhorias, porém, ainda devem demorar. As renovações da praça, das docas e do antigo Frigorífico do Porto estão previstas na terceira e última parte do projeto, que tem extensão total de 3,2 quilômetros. Hoje, a empreitada está na etapa inicial, voltada às melhorias e reutilização dos armazéns. A segunda fase envolve o Gasômetro e adjacências - ou seja, é preciso avançar bastante antes que as visitas à praça voltem a ser uma opção de lazer para os porto-alegrenses.
O ex-diretor-presidente do consórcio Cais Mauá do Brasil, Vicente Criscio, explica que o local, quando resgatado, será transformado em um espaço de convivência. "O projeto mudou um pouco com o tempo, mas a ideia não é caracterizar a área como um espaço gastronômico ou de caráter comercial. Esse perfil ficará mais concentrado na área dos armazéns. A projeção é que (a área da praça) seja um espaço de convivência, para as pessoas conversarem, tomarem chimarrão", diz. As Noivas do Cais serão restauradas, e a Edgar Schneider deverá ser a maior das dez praças previstas para o complexo.
O antigo frigorífico seria, originalmente, transformado em um centro de eventos ou em um hotel, em conjunto com as três torres comerciais que serão erguidas no setor. Porém, a análise da estrutura levou à conclusão de que o prédio, por suas características arquitetônicas, não é adequado para esse tipo de utilização. Ao invés disso, deve formar um conjunto conceitual com a Praça Edgar Schneider, sendo destinado a atividades culturais e com algumas soluções paisagísticas em seu interior. O investimento total no setor das docas deve ficar em torno dos R$ 300 milhões.
A grande questão, então, passa a ser o acesso a esse espaço - afinal, o muro e os trilhos do trem não serão removidos, e não existem, no momento, estruturas adequadas para contornar essas barreiras. Entre as contrapartidas do empreendimento está a construção de uma via ligando a rua Ramiro Barcelos ao Cais, e que inclui um túnel, que passará por baixo da Avenida da Legalidade.
Além de evitar que vias já sobrecarregadas, como a avenida Mauá, sofram com fluxo ainda maior, a passagem beneficiará os que desejarem ir à praça restaurada, já que se conectará diretamente às torres comerciais das proximidades. Na região das docas, haverá também um estacionamento, com capacidade prevista de 2.036 vagas. A obra está em estágio de elaboração do projeto técnico, e ainda não há estimativa de custos ou data para o início dos trabalhos.