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Patrimônio

- Publicada em 12 de Setembro de 2018 às 01:00

Museu de Ciências Naturais em risco de alagamento e incêndio

Biomas e ossadas são representados nas salas de exposição do prédio, localizado dentro do Jardim Botânico

Biomas e ossadas são representados nas salas de exposição do prédio, localizado dentro do Jardim Botânico


/MARCELO G. RIBEIRO/JC
Sem verba específica para manutenção, o Museu de Ciências Naturais (MCN), localizado dentro do Jardim Botânico, em Porto Alegre, precisa de reparos urgentes, que envolvem desde a troca do telhado até a recuperação da parte elétrica. O risco é de alagamentos e incêndios. Para evitar tragédias como a do congênere Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído por um incêndio no dia 2 de setembro, o Corpo de Bombeiros deve fazer uma vistoria no local nos próximos dias, para pontuar quais obras são mais emergenciais.
Sem verba específica para manutenção, o Museu de Ciências Naturais (MCN), localizado dentro do Jardim Botânico, em Porto Alegre, precisa de reparos urgentes, que envolvem desde a troca do telhado até a recuperação da parte elétrica. O risco é de alagamentos e incêndios. Para evitar tragédias como a do congênere Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído por um incêndio no dia 2 de setembro, o Corpo de Bombeiros deve fazer uma vistoria no local nos próximos dias, para pontuar quais obras são mais emergenciais.
O Museu de Ciências Naturais possui uma área física de 3 mil metros quadrados dentro do Jardim Botânico, com salas de exposições e setores internos, como laboratórios, gabinetes e coleções científicas que não podem ser acessadas pelo público geral, exceto em duas ocasiões por ano. Ficam expostas amostras das coleções, que possuem acervo de quase meio milhão de exemplares de animais, plantas e fósseis da fauna e da flora gaúchas. Ficam expostas ossadas de anfíbios e répteis, às vezes datadas de milhões de anos de existência, além de simulações dos biomas dos campos, dos banhados e das florestas subtropicais, existentes no Rio Grande do Sul.
Em torno de 25 a 27 mil pessoas visitam o museu todos os anos, principalmente estudantes de escolas de Porto Alegre - parte do público geral, apesar de poder ir, nem sabe da existência do museu. O quadro de funcionários é composto por 29 pessoas, sendo 22 da área técnica, cinco da educação ambiental e duas de outros setores.
O prédio foi construído nos anos 1960 para abrigar a TVE, mas acabou nunca recebendo a emissora. Em 1974, o museu e a parte administrativa da Fundação Zoobotânica (FZB) - que coordena a coleção, o Jardim Botânico e o Zoológico de Sapucaia do Sul - passaram a ocupar a sede, o que gerou, desde o início, necessidade de adaptar o espaço.
Hoje, segundo a secretária estadual do Meio Ambiente, Ana Pellini, o ideal mesmo seria fazer um prédio novo, adequado ao funcionamento de um museu. Entretanto, o governo do Estado não tem recursos nem mesmo para a reforma da edificação atual. "Não temos estimativa de custo, mas sempre nos dizem que a reforma geral seria tão onerosa quanto a construção de uma nova sede", conta. Outra alternativa seria mudar o museu de lugar, mas a comoção que a transferência geraria na sociedade faz o governo descartar essa possibilidade. O jeito, então, está sendo investir em uma reforma gradual em problemas pontuais.
A prioridade da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) é reformar o telhado, para que não chova mais dentro do museu. Atualmente, o projeto de conserto está sendo feito pela Secretaria Estadual de Obras. Quando o estudo for finalizado e o preço estabelecido, o recurso estará disponível junto à Secretaria Estadual da Fazenda. "É o mais urgente, porque está chovendo dentro, é uma situação terrível", destaca Ana.
O segundo passo será reparar os danos da fiação elétrica, após vistoria do Corpo de Bombeiros marcada para os próximos dias. "Queremos saber o que precisa ser arrumado mais urgentemente, não só pelo risco de perder o acervo, mas, principalmente, pelas pessoas que trabalham no museu. O próprio caso do Museu Nacional poderia ter sido muito pior se houvesse pessoas lá dentro", ressalta Ana. Depois, outras reformas serão feitas, conforme recursos forem obtidos. Em paralelo a isso, está sendo executada a digitalização de todo o acervo.

Verba da FZB é praticamente toda utilizada em manutenção, não sobrando para investimentos

A Fundação Zoobotânica, que passa por processo de extinção, possui orçamento unificado para todos os órgãos que administra, e a verba usada para manutenção é repassada conforme demanda. Em 2017, foram gastos R$ 1.387.990,00 (uma média de R$ 115,6 mil por mês) para a manutenção da administração central, do Jardim Botânico e do Museu de Ciências Naturais, entre reparos, água, luz, telefone, frota, serviços e materiais. Em 2018, até agosto, foram despendidos R$ 791.628,81, uma redução de 15% nos recursos usados, uma vez que a média mensal, neste caso, foi de R$ 98,9 mil.
Ana Pellini assegura que a extinção da FZB não implicaria em menos recursos para manutenção, que já não são diferenciados no orçamento há anos. "A verba que temos é quase só para custeio, e não para investimento. É complexo", admite. Com a perspectiva de concessão do Zoológico para a iniciativa privada, o plano da secretaria é ampliar a verba do Estado usada no museu e no Jardim Botânico.
A secretária também garante que a extinção da fundação não trará mudanças no funcionamento do Museu de Ciências Naturais, muito menos no seu acervo. "Não há mudanças na atividade final, só na parte administrativa. O museu e o Jardim Botânico ficam onde estão, e queremos até melhorá-los", defende. Por enquanto, o governo está impedido judicialmente de demitir os celetistas concursados que trabalham nesses espaços. Ana não descarta a demissão do quadro, ou de parte dele, se a liminar na Justiça for derrubada, mas aponta que há quadro técnico na Sema para repor pessoal.
Em carta aberta sobre os 60 anos do Jardim Botânico, na segunda-feira, o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, a Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente e o Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente alertam que o local se encontra "sob risco iminente", diante da extinção da FZB. As entidades chamam atenção para o enxugamento do quadro de funcionários e para o risco de "perda de dez coleções envasadas com 2.094 exemplares de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção" por "negligência governamental e procrastinação no atendimento às decisões judiciais e necessidades e demandas essenciais à manutenção das estruturas para coleções especiais".