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Patrimônio histórico

- Publicada em 04 de Setembro de 2018 às 01:00

200 anos de história perdidas no Rio de Janeiro

Bombeiros só conseguiram conter as chamas depois 
de seis horas

Bombeiros só conseguiram conter as chamas depois de seis horas


/fotos CARL DE SOUZA/AFP/JC
Na noite de domingo, os brasileiros assistiram à destruição de mais de 20 milhões de itens abrigados no interior do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona Norte do Rio de Janeiro, por um incêndio de grandes proporções. As coleções, focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica, compunham o acervo do prédio, que completou 200 anos em junho. O fogo foi contido depois de seis horas, mas a Defesa Civil carioca decidiu manter o local interditado devido ao risco de desabamento interno. A falta de água nos hidrantes próximos ao prédio, aliás, dificultou a atuação dos 80 homens e dos 21 caminhões do Corpo de Bombeiros, que relatou dificuldades no combate às chamas. Os bombeiros tiveram de apelar a caminhões-pipa e até para a água de um lago. Um inquérito policial será instaurado para apurar as causas e as responsabilidades pelo dano. 
Na noite de domingo, os brasileiros assistiram à destruição de mais de 20 milhões de itens abrigados no interior do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona Norte do Rio de Janeiro, por um incêndio de grandes proporções. As coleções, focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica, compunham o acervo do prédio, que completou 200 anos em junho. O fogo foi contido depois de seis horas, mas a Defesa Civil carioca decidiu manter o local interditado devido ao risco de desabamento interno. A falta de água nos hidrantes próximos ao prédio, aliás, dificultou a atuação dos 80 homens e dos 21 caminhões do Corpo de Bombeiros, que relatou dificuldades no combate às chamas. Os bombeiros tiveram de apelar a caminhões-pipa e até para a água de um lago. Um inquérito policial será instaurado para apurar as causas e as responsabilidades pelo dano. 
A tragédia só não foi maior porque o horário de visitação do museu já havia se encerrado quando as chamas ganharam força. Equipes do Centro de Operações Rio, da Defesa Civil, da Guarda Municipal e do Corpo de Bombeiros atuaram durante toda a noite de domingo e parte da madrugada de ontem para apagar as chamas e trabalhar no rescaldo. Funcionários do museu, professores e admiradores da instituição se reuniram em frente ao prédio e alguns tentaram resgatar itens do acervo, entrando no local para retirar objetos. Durante a manhã, a tragédia era destaque na imprensa internacional, figurando nas páginas dos sites dos principais jornais do mundo, como The New York Times, The Guardian, El País e o Le Figaro.
Em manifestação oficial, o ministro da Educação, Rossieli Soares, reconheceu a responsabilidade do governo federal pela tragédia. "A responsabilidade existe, é histórica e entendemos que agora é o momento da reconstrução, com todo mundo", disse, embora também tenha argumentado que essa responsabilidade "não é exclusiva de agora", em alusão aos governos anteriores. Em resposta à tragédia, o presidente Michel Temer tratou de anunciar a criação de uma rede de apoio econômico para viabilizar a reconstrução do museu. Formado inicialmente pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e pelos bancos Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Vale e Petrobras, o grupo deve se empenhar nesse objetivo "no tempo mais breve possível." O próprio ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, admitiu, porém, que o dano ao acervo é "irrecuperável", e afirmou que o incidente poderia ter sido evitado.
A vice-diretora do museu, Cristiana Serejo, estima que 90% do acervo tenha sido destruído e que a reconstrução do prédio deve custar em torno de R$ 15 milhões. "Sobrou parte do acervo dos invertebrados, do setor de vertebrados e de botânica. Foram retiradas algumas cerâmicas, peças minerais e os meteoritos, talvez uns 10%", relata. O crânio de Luzia, fóssil da mulher mais antiga das Américas, foi uma das vítimas do fogo. Descoberta em meados de 1970, calcula-se que o fóssil, encontrado em Minas Gerais, tinha mais de 11 mil anos.
O incêndio ocorreu antes que recursos oriundos de um contrato de patrocínio com o Banco Nacional de Desenvolvimento (Bndes), no valor de R$ 21,7 milhões, fossem repassados à Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj), gestora do museu. O repasse serviria à restauração do prédio histórico, incluindo a recuperação física da estrutura, e fazem parte da terceira fase do plano de investimento para a revitalização, somando-se a outros R$ 24 milhões, destinados em duas fases anteriores pelo banco.
A Ufrj, inclusive, já tem um histórico com relação a esse tipo de ocorrência. Na última década, a universidade tem sido palco de diversos incêndios, que destroem construções importantes para a educação e para a pesquisa científica. Neste ano, incêndios atingiram o laboratório de metalurgia do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia e o nono andar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, conhecido como Hospital do Fundão. Em agosto de 2017, o fogo consumiu o alojamento da universidade, e em outubro de 2016, o oitavo andar da reitoria. Já em 2014, um curto-circuito em um ar-condicionado incendiou o Centro de Ciências da Saúde. A Faculdade de Letras pegou fogo em setembro de 2012 e, em 2011, o Palácio Universitário, na Praia Vermelha, zona sul do Rio, sofreu danos causados por um incêndio.

Repasses federais à instituição caíram pela metade nos últimos cinco anos

O descaso quanto à segurança estrutural do Museu Nacional era perceptível. A instituição não tinha porta anti-incêndio, sprinklers, seguro contra incêndio, Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) e seguro para o acervo. 
Além da negligência, o investimento foi reduzido. Um levantamento feito pela Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados mostra que os pagamentos para o museu foram de R$ 979 mil em 2013, recuando para R$ 643 mil no ano passado. Em termos nominais, essa queda é de 34%.
Considerada a inflação do período, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os pagamentos ao museu caíram 49% no período, de R$ 1,3 milhão em 2013 (montante corrigido) para os R$ 643 mil. Os dados se referem a repasses do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Brasileiro de Museus, ligado ao Ministério da Cultura, para itens como capacitação de servidores, concessão de bolsas de estudo, reestruturação, expansão e modernização.
A instituição vinha passando por dificuldades geradas pelo corte no orçamento para a manutenção. Desde 2014, não recebia a verba de R$ 520 mil anuais que banca a manutenção. Em 2013, por exemplo, o governo pagou R$ 545 mil para o funcionamento do museu. No ano passado, essa quantia despencou para R$ 166 mil. Os números de 2018 são de janeiro a agosto. O governo comprometeu-se a repassar R$ 204 mil neste ano, porém pagou, efetivamente, R$ 98 mil. Os repasses foram menores em todos os anos seguintes a 2013: R$ 941 mil em 2014, R$ 638 mil em 2015 e R$ 841 mil em 2016.