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Educação

- Publicada em 03 de Setembro de 2018 às 01:00

Carreira docente tem baixo interesse no Rio Grande do Sul

Nos últimos dez anos,licenciatura da Ufrgs teve menos candidatos do que média geral dos cursos

Nos últimos dez anos,licenciatura da Ufrgs teve menos candidatos do que média geral dos cursos


IGOR SPEROTTO/DIVULGAÇÃO/JC
A carreira de professor está cada vez menos atraente para o estudante que faz vestibular. Com base no número de interessados em cada curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), nos últimos anos, é possível verificar que todos os de licenciatura são menos procurados do que o restante das graduações da instituição. Enquanto a densidade de candidatos por vaga, nos últimos dez anos, variou entre 7,6 em Ciências Biológicas e 1,7 em Artes Visuais, a média dos outros cursos foi de 8,1 interessados para cada vaga.
A carreira de professor está cada vez menos atraente para o estudante que faz vestibular. Com base no número de interessados em cada curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), nos últimos anos, é possível verificar que todos os de licenciatura são menos procurados do que o restante das graduações da instituição. Enquanto a densidade de candidatos por vaga, nos últimos dez anos, variou entre 7,6 em Ciências Biológicas e 1,7 em Artes Visuais, a média dos outros cursos foi de 8,1 interessados para cada vaga.
Do vestibular de 2009 até o de 2018, o número geral de interessados na Ufrgs teve a menor média em 2010 (6,6 por vaga) e um pico em 2010 (10). A média geral foi superior à média de cada curso de licenciatura em todos os anos.
Um exemplo do baixo interesse nas licenciaturas é o curso de Educação Física - que, até 2011, possuía divisão entre licenciatura e bacharelado e, em 2012, passou a ter duas turmas abertas por turno, sem distinção entre as formações. O resultado foi que, entre 2011 e 2012, o número de interessados dobrou na turma que, antes, era de licenciatura, passando de 3,7 para 7,4 candidatos por vaga. Já a quantidade de interessados em bacharelado se manteve estável, de 4,9 para 5,5 candidatos por vaga.
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No final de julho, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgou estudo sobre a carreira docente. O resultado é que, no Brasil, apenas 5% dos jovens de 15 anos pretendem ser professores da Educação Básica, enquanto 21% pensam em cursar Engenharia. No Peru, o índice dos que pretendem optar pela docência é de menos de 3%, contra 32% que querem se tornar engenheiros. A principal razão apontada é o baixo salário. Por outro lado, em nações onde a profissão é mais valorizada, o interesse tende a ser maior. Na Coreia do Sul, por exemplo, 25% dos jovens têm a intenção de lecionar, e, na Espanha, são quase 20%. 
Em meio à tendência de queda, contudo, uma surpresa - entre 2015 e 2016, foi registrado um aumento no número de candidatos na carreira de professor. A explicação, segundo o coordenador das Licenciaturas da Ufrgs, Sérgio Franco, é que o período foi marcado pelo fechamento de licenciaturas em instituições privadas, justamente em função da falta de procura, e a consequente busca maior por aquelas graduações na instituição federal.
A tendência de fechamento não acontece, por outro lado, no Ensino a Distância (EaD). Levantamento da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) calcula que, nos últimos dez anos, o número de cursos de graduação nessa modalidade aumentou de 181 para 693. Sem necessidade de espaço físico, essas graduações se tornam mais baratas do que as presenciais. A crítica de instituições como a Ufrgs e universidades privadas, bem como de entidades de classe, é que os cursos a distância teriam viés mais lucrativo do que pedagógico.
Para Franco, o decréscimo de candidatos tem a ver com a desvalorização social da profissão do professor. "O principal emprego para o licenciado é a escola pública, e nem preciso falar da realidade dela hoje. A carreira de professor - talvez a mais importante da sociedade - é mal valorizada socialmente, o que faz com que quem a procure tenha interesses mais ligados a ideais do que a questões concretas", observa. O coordenador salienta que boa parte dos alunos das licenciaturas vem de estratos sociais mais baixos, nos quais os salários e a profissão representam um status maior do que nas classes médias e altas.
Além do baixo interesse, a taxa de evasão também é maior nos cursos de licenciatura. No segundo semestre de 2017, por exemplo, o percentual de evadidos em relação ao de vinculados no total dos cursos da Ufrgs foi de 5,5% (1.761 estudantes). Quando o filtro busca apenas pelas licenciaturas, no entanto, o índice aumenta para 8% de evasão (782 estudantes).
Conforme o coordenador, a separação entre licenciatura e bacharelado no ingresso reduz o número de evadidos. Por isso, a universidade tem feito essa separação. Em 2018, por exemplo, foi lançada graduação em Biologia/Licenciatura. "Na Matemática, a separação tornou a taxa de evasão uma das menores do Brasil", ressalta.
Franco chama a atenção para o resultado do baixo interesse na carreira de professor - a falta de docentes em disciplinas como Física, Matemática e Geografia. "É um grande nó que estamos criando, e a estratégia não pode ser fechar escolas que têm menos alunos, e sim melhorar condições para incentivar que as pessoas se tornem professores", pontua. Para o coordenador, a falta de docentes aumenta a desigualdade social, já que quem fica sem professor é quem não tem condições de pagar um. 
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Falta de professores no Rio Grande do Sul é maior nas disciplinas de Geografia e Língua Inglesa

A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) também sente a redução. Conforme o diretor de Recursos Humanos, José Adilson Santos Antunes, nunca foi feito um levantamento, mas percebe-se que a falta de professor varia conforme a região. Na área que engloba Bagé, por exemplo, há defasagem na formação em História, Geografia, Artes Visuais e Língua Inglesa.
A falta de professores de Geografia é generalizada no Estado. Recentemente, docentes de Língua Inglesa também se tornaram mais escassos. O motivo é a sanção da Lei nº 11.161/2005, que tornou a oferta de aulas de Espanhol obrigatória a partir de 2010. "As universidades começaram a formar professores de Português-Espanhol, e não mais de Português-Inglês", explica Antunes. Com a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), porém, será obrigatório o ensino de Inglês, em 2020, a partir do 6º ano do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. A preocupação da Seduc é que não haja educadores para preencher o quadro necessário.
Uma estratégia adotada para amenizar o problema é a contratação emergencial de estudantes, a partir do quarto semestre, em licenciatura que tenha alguma semelhança com a disciplina para a qual há faltas - um graduando de Biologia, por exemplo, pode dar aulas de Química e Física. "Tentamos evitar isso para qualificar o ensino, mas é uma alternativa até que se faça um concurso para repor."
Nos últimos dez anos, entre 2008 e 2017, houve diminuição na procura pelo magistério. Em 2008, havia 15.932 alunos matriculados no Estado. Até 2017, o número caiu para 11.689, com redução de vagas, especialmente, na rede privada. Antunes crê que a principal razão seja financeira. "O próprio piso salarial não é satisfatório, porque qualquer área com Ensino Superior vai pagar mais para 20 ou 40 horas", observa. Para lecionar por 20 horas semanais, o profissional com magistério recebe um salário de cerca de R$ 700,00, mais completivo, até chegar ao valor do piso - hoje, em R$ 1.227,68. Quem possui Ensino Superior completo recebe 85% a mais do que o básico. No fim da carreira, o professor com licenciatura pode receber até R$ 4,2 mil para 40 horas semanais.