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DE FRENTE PARA O GUAÍBA

- Publicada em 05 de Julho de 2018 às 21:55

Monumentos conectam população à beleza da orla

Escultura próxima à usina do Gasômetro homenageia a cantora porto-alegrense Elis Regina

Escultura próxima à usina do Gasômetro homenageia a cantora porto-alegrense Elis Regina


LUIZA PRADO/JC
Nem só de pôr do sol vive a orla do Guaíba. Junto às cores do entardecer refletidas na água, a orla é adornada por um acervo de monumentos. O trecho entre a Usina do Gasômetro e o Anfiteatro Pôr-do-Sol é composto por um conjunto de cinco obras conectadas ao meio ambiente. Todas buscam unir a arte, o cenário e as pessoas que por lá passam.
Nem só de pôr do sol vive a orla do Guaíba. Junto às cores do entardecer refletidas na água, a orla é adornada por um acervo de monumentos. O trecho entre a Usina do Gasômetro e o Anfiteatro Pôr-do-Sol é composto por um conjunto de cinco obras conectadas ao meio ambiente. Todas buscam unir a arte, o cenário e as pessoas que por lá passam.
Para Manuela da Costa, arquiteta da Coordenação de Memória Cultural de Porto Alegre, a arte tem o poder de reconduzir o olhar das pessoas, fazendo emergir a essência do entorno. "Uma obra pode fazer pensar por que a água cai e te faz olhar para o rio. Te faz pensar sobre a poluição da água", analisa. A arquiteta acredita que os monumentos têm o potencial de virar os olhos da cidade para o Guaíba, para que os porto-alegrenses entendam melhor a sua história e a sua relação com o meio ambiente.
Girassóis à Beira do Guaíba, da artista plástica Ana Natividade, é a escultura mais antiga do acervo da orla, e ficava próxima ao Anfiteatro Pôr-do-Sol. Antes de ser depredada, era composta por quatro girassóis feitos de ferro, nos quais os raios de sol transpassavam o núcleo da flor em certa hora do dia.
Criada em 1992, a obra foi uma das vencedoras de um concurso promovido pela prefeitura da Capital. Ao longo do tempo, os girassóis foram vandalizados e furtados. Quando a revitalização da orla do Guaíba começou, em 2015, somente um dos quatro girassóis estava lá. Por isso, a prefeitura optou por recolher a obra e refazê-la.
A recuperação do monumento ocorrerá na revitalização do trecho 2 da orla do Guaíba, entre a Rótula das Cuias e o anfiteatro, ainda sem data para acontecer. "Ficou para uma próxima etapa por questão de orçamento, porque seria necessária a restauração completa do monumento", explica Manuela.

Obras levam o olhar do visitante em direção ao lago Guaíba

Monumento Paisagem, de Mauro Fuke, é composto por 648 degraus

Monumento Paisagem, de Mauro Fuke, é composto por 648 degraus


/LUIZA PRADO/JC
Os outros quatro monumentos foram feitos para a Bienal do Mercosul de 2005 e permaneceram na cidade. Todos levam o olhar dos visitantes para o Guaíba.
Olhos Atentos, de José Resende, fica quase ao lado da Usina do Gasômetro. Originalmente, o artista imaginou colocar a obra na beira do Guaíba, e não em cima do talude. Devido à instabilidade do terreno próximo ao lago, o plano mudou.
A obra é composta por uma grande estrutura de ferro suspensa na diagonal, funcionando como um mirante para olhar o Guaíba. Desde 2009, estava proibido subir na escultura, já que efeitos do tempo, corrosão por urina e excesso de peso causaram risco de desabamento do piso. "O problema é que as pessoas entram lá e pulam. A ideia é interagir com o monumento, mas não desse jeito, e sim entrando e olhando o pôr do sol", observa Manuela.
O piso do mirante foi trocado durante a revitalização da orla, e uma placa foi colocada informando a limitação máxima de pessoas por vez na estrutura. As laterais do mirante seguem pichadas. A expectativa é que, com a adoção das áreas verdes por empresas, a fiscalização para bom uso do monumento seja qualificada.
A obra Cascata, de Carmela Gross, está localizada logo depois da Olhos Atentos, em direção ao Anfiteatro Pôr-do-Sol. A artista elaborou uma espécie de escadaria na qual o visitante pode descer do nível do talude para o da água, andando por placas de concreto justapostas. Durante a revitalização, o monumento passou por limpeza e adaptação de níveis. A intenção da escultora é que, em dias de chuva, a obra pareça, de fato, uma cascata, que se integra às águas do Guaíba.
Mauro Fuke é o autor da obra Paisagem, composta por 648 degraus em diferentes níveis, para que as pessoas sentem-se e conectem-se com a natureza e o cenário ao redor. "Busco um envolvimento do expectador. Também usei granito rosa para vincular a obra com a extração de granito que ocorre do outro lado do rio, em Guaíba", relata. Com a revitalização, as capas de granito dos degraus foram renovadas.
 

Depredação e furtos prejudicam acervo

Mauro Fuke considera que a depredação é parte do processo e sempre acontecerá, mesmo que por uma minoria da população. "É uma questão de cidadania. A obra foi feita, alguém se preocupou com aquilo, pensou e executou aquela obra, mas há pessoas que não consideram aquilo como parte da vida e da cidade delas", avalia. Fuke vê como natural que, em um país em que há tantas questões a serem resolvidas, a cultura fique em segundo plano.
A quarta escultura doada pelos artistas da Bienal de 2005 foi Espelho Rápido, de Waltercio Caldas, que remete ao espelho d'água do Guaíba e ao espelho de laje de granito branco de que é feita a base da obra. Em cima do espelho, figuram rochas e, até serem furtados, também havia tubos de aço inoxidável.
Próxima à Rótula das Cuias, a Espelho Rápido não foi beneficiada com a revitalização da orla, sofrendo apenas readequação do nível onde estava instalada. Sua restauração está prevista para a segunda etapa da qualificação.
A Rótula das Cuias é marcada pela presença da escultura Supercuia, de Saint Clair Cemin, apresentada na Bienal de 2013. A orla também conta, desde 2009, com uma estátua em homenagem à cantora Elis Regina, feita por José Pereira Passos, ao lado da Usina do Gasômetro. No calçadão de Ipanema ainda há a Mãe Oxum, esculpida por Beto Babão, em homenagem às religiões africanas.