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DE FRENTE PARA O GUAÍBA

- Publicada em 14 de Junho de 2018 às 22:05

Uma praia onde não é possível tomar banho

Ipanema é usada para caminhadas, passeios e prática de esportes

Ipanema é usada para caminhadas, passeios e prática de esportes


MARCELO G. RIBEIRO/JC
É raro, hoje, ver alguém se banhando nas águas de Ipanema, antigo balneário de Porto Alegre. O local é usado para caminhadas, passeios à base de chimarrão e, eventualmente, para a prática de esportes aquáticos. "Não me arriscaria a tomar banho aqui. Vejo algumas crianças na água e me apavoro", explica o adestrador Voltaire Dutra Paes, de 55 anos. O pavor se deve à poluição do Guaíba naquele trecho.
É raro, hoje, ver alguém se banhando nas águas de Ipanema, antigo balneário de Porto Alegre. O local é usado para caminhadas, passeios à base de chimarrão e, eventualmente, para a prática de esportes aquáticos. "Não me arriscaria a tomar banho aqui. Vejo algumas crianças na água e me apavoro", explica o adestrador Voltaire Dutra Paes, de 55 anos. O pavor se deve à poluição do Guaíba naquele trecho.
Morador do bairro Nova Ipanema, Paes passeia diariamente no calçadão com cachorros da vizinhança. Adora a região, mas admite que ela "se estraga" com o cheiro recorrente de esgoto. "Tem saída de esgoto em alguns pontos. Fica todo o lixo ali, com resíduos orgânicos, assusta só de ver", afirma o adestrador. Ele lamenta a falta de consciência ambiental da população e de investimentos do poder público. "Em qualquer lugar do mundo, isso teria sido resolvido, e as pessoas poderiam aproveitar o Guaíba como aproveitavam há 50 anos", observa.
A representante comercial Simone da Silva José, de 40 anos, mora em Gravataí, mas trabalha uma vez por semana em Ipanema. "Sempre aproveito para ficar um pouco na areia, me conectar com a natureza", revela. Simone não acha que a água em Ipanema é poluída, e só não se banha ali porque não há medidores de profundidade instalados nem presença de salva-vidas. "Seria interessante melhorar a estrutura, investir e divulgar. Muita gente não sabe que isto aqui existe e acaba indo para o litoral", salienta.
Já o aposentado Martim Dartsch, de 68 anos, mora em Ipanema desde que nasceu. Para ele, o problema é que o lago, ali, é uma baía, na qual chegam o esgoto e o lixo despejados em arroios, o que não mudou desde a implantação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Serraria, em um bairro próximo. "Como há uma espécie de redemoinho, a água não circula. Seria preciso limpar regularmente os arroios e tirar as vilas próximas deles", pontua. De fato, esse é um dos pontos abrangidos pelo Programa Integrado Socioambiental (Pisa), que ofereceu indenização a habitantes do entorno do arroio Cavalhada, para que deixassem suas moradias irregulares e buscassem um imóvel fora de áreas de risco.
Conforme o gerente de Gestão Ambiental do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), Rodrigo da Rocha Andrade, a estratégia é investir em desinfecção em lugares nos quais não há despejo de esgoto de outras cidades e outros tipos de poluição oriundos de indústrias e do setor agropecuário, como já foi feito nos bairros Lami e Belém Novo. É o caso também de Ipanema, mas a região exige, ainda, uma série de investimentos. "As pessoas querem a praia de Ipanema de volta, mas, até pelas redes antigas existentes lá, ainda não está despoluída", argumenta o biólogo.
Por enquanto, a ETE Serraria ainda não abrange a área. "Temos um problema técnico grande de bombeamentos lá. É um desafio de engenharia, porque, nos anos 1990, o pessoal decidiu interceptar até a água da chuva para ver se despoluía, e se criou um esgoto misto, que agora está ultrapassado", diz Andrade.

Análise da água mostra que houve melhorias com o Programa Socioambiental

Com as melhorias do Pisa, o Dmae resolveu fazer um estudo para avaliar se o Guaíba estava, de fato, sendo despoluído com o tratamento de esgoto, que é apenas uma das fontes de contaminação - agricultura, indústria, recreação e navegação são outros "usuários" do lago e poluem suas águas. A pesquisa comparou os monitoramentos realizados entre janeiro de 2010 e março de 2014 e os realizados entre abril de 2014 e julho de 2017. O resultado foi positivo. O estudo envolveu oito pontos de monitoramento em Porto Alegre. O melhor resultado foi na altura da Usina do Gasômetro, onde, até março de 2014, era lançado o esgoto não tratado de toda a Zona Leste e do Centro.
Com o fim do lançamento, os técnicos do Dmae averiguaram se a qualidade da água daquele ponto para baixo (em direção à Zona Sul) estava melhor. De fato, esses pontos mantiveram, em média, o mesmo grau de poluição em termos de falta de oxigênio, presença de coliformes e de fósforo, tendo redução de amônia em um trecho e aumento em outro, mas a diminuição foi clara em quase todos os pontos e índices abaixo do local. A melhoria mais efetiva foi das Estações de Tratamento de Água (ETA) dos bairros Menino Deus e Tristeza.
De acordo com o gerente de Gestão Ambiental do Dmae, Rodrigo da Rocha Andrade, foi a primeira vez, em 15 anos de carreira, que ele ficou feliz com os resultados. "Foram resultados de impacto, e pode ser que tenhamos melhorias ainda maiores no futuro", comemora o biólogo.
Hoje, a ETE Serraria trata cerca de 1,3 mil litros por segundo, e Porto Alegre tem 67% do esgoto tratado. O objetivo é chegar a 2,5 mil litros por segundo e seguir até a capacidade máxima, de 4 mil litros por segundo, abrangendo 80% da Capital.