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Grenal 427 - Libertadores: Onde estava a torcida de Inter e Grêmio?
Policial recomenda que torcedores Lucas Antônio e Ariadne assistam em casa ao jogo
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC/
Patrícia Comunello
O futebol está sem torcida presencial, mas os estádios não saem da vida dos torcedores, nem que seja para arriscar uma espiada no entorno, para depois terminar a sessão do clássico em frente à TV ou do celular. Foi assim no Grenal 427, pela Libertadores, e deve ter repeteco no sexto clássico de Grêmio e Inter no ano, neste sábado (3), pelo Campeonato Brasileiro.
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O futebol está sem torcida presencial, mas os estádios não saem da vida dos torcedores, nem que seja para arriscar uma espiada no entorno, para depois terminar a sessão do clássico em frente à TV ou do celular. Foi assim no Grenal 427, pela Libertadores, e deve ter repeteco no sexto clássico de Grêmio e Inter no ano, neste sábado (3), pelo Campeonato Brasileiro.
A reportagem do Jornal do Comércio acompanhou o Grenal 427, no dia 23, do lado de fora do Beira-Rio e flagrou a paixão pelos clubes, até de quem normalmente, sem pandemia, não se manifestaria.
"Sinto falta da muvuca do torcedor, do cheirinho do churrasquinho, dos gritos dos ambulante", admite a colorada e agente de trânsito em Porto Alegre Sheila Azevedo, escalada para trabalhar.
VÍDEO: Do entorno do Beira-Rio ao sofá de casa, de olho no Grenal 427
Colega de Sheila, o gremista Felipe Grimaldi lembrou que, no primeiro Grenal da Libertadores, em 12 de março e com oito expulsos, teve torcida na Arena: "É um Grenal histórico da Libertadores, é uma pena não ter os torcedores como tivemos na Arena", ressente-se. "Mas, de certa forma, fica facilitada nossa missão, né Sheila", devolve Grimaldi.
No dia 3 de outubro, novo clássico, desta vez pelo Campeonato Brasileiro, será travado na Arena, casa do Tricolor, e, de novo, os agentes poderão ter de trabalhar.
Sheila, colorada, e Grimaldi, gremista, têm menos trabalho, mas sentem falta da muvuca de dia de jogo
E o que dizer dos torcedores?
Os primos Lucas Antônio, administrador, e Ariadne Oliveira, profissional de Educação Física, tentaram despistar a Guarda Municipal e Brigada Militar para chegar ao portão por onde o ônibus do Inter entraria no pátio do estádio, com bloqueio em todos os acessos.
"A gente veio com a taça recepcionar o ônibus e fomos abordados pela BM, pois não poderíamos ir onde estavam outros torcedores. Só queríamos mostrar nosso amor e a taça", diz Lucas, que não escondia a frustração. "Já que não conseguimos chegar perto, que o Inter ganhe finalmente um Grenal", torcia Ariadne, que deu meia-volta e se dirigiu com o primo para casa onde torceriam sentados no sofá. A vitória, tão acalentada, acabaria não vindo.
"Trago a taça em todos os jogos da Libertadores desde 2010. espero que, na Copa atual, deixe ela de vez no Beira-Rio", projeta o administrador. Da tentativa de chegar perto - outros colorados conseguiram e fizeram puxaram cânticos na chegada do time de Eduardo Coudet -, os primos acabaram tendo de prestar esclarecimentos, mostrar documentos e ouvir do soldado da BM Tiago Vieira um conselho:
"No momento, não pode torcer presencialmente, mas em casa, no conforto do lar, está autorizado". O soldado, questionado sobre o seu time do coração, disse que era "torcedor":
"Agora temos de torcer contra o vírus (novo coronavírus) para passar esta fase e conseguirmos a vitória para a vida".
Ali mesmo, uma hora e meia antes do jogo, que começaria às 21h30min, o repórter da rádio Grenal Bruno Soares tentava transmitir a única muvuca possível, de poucos torcedores. "A gente faz uma cobertura diferente, porque não acessamos o estádio, mas vamos estar atentos a todos os detalhes", assegura o repórter., que rende-se:
"Torcida no estádio é emoção. Futebol a gente faz para a torcida. A gente espera que dentro de campo os jogadores corram muito para representar os torcedores".
Enquanto Soares não tinha credencial para entrar, o fotógrafo Alexandre Schneider da agência Getty Images, chegou puxando uma mala com rodinhas, guarnecendo seu equipamento. "Para conseguir estar aqui, fiz o teste da Covid-19 de RT-PCR, que deu negativo. Achava até que já tinha pego o vírus, porque estou sempre viajando para cobrir campeonatos", conta o fotógrafo.
Schneider, que entrou no Beira-Rio: 'O caldeirão que se forma com estádio lotado dá uma adrenalina'
Schneider diz que jogo sem torcida "é muito estranho, muito estranho". "O futebol perde a magia. O caldeirão que se forma com estádio lotado dá uma adrenalina, isso afeta nosso trabalho também", garante Schneider, que mora em São Paulo e trabalhounas últimas duasCopas do Mundo e é veterano de cobertura de Libertadores e competições nacionais.
"A torcida é o 12º jogador", lembra o comerciante aposentado e colorado Arno Costamilan.
Comerciante foi matar a saudade do beira-Rio, antes de assistir ao jogo pela TV, em casa
"Já tinha feito check-in para este jogo lá em março. A esta hora, 19h30min, estaria lotado aqui na frente", recorda o comerciante, que foi dar uma caminhada com a mulher Cecília e, claro, fez questão de incluir o Beira-Rio no roteiro.
"Vim matar a saudade. Agora vou para casa assistir à partida", avisou, apressando o passo, para chegar logo na residência no bairro Azenha.
Uma hora depois quem aportou na calçada da Padre Cacique foi o comerciante Aldemir Chaves, as duas filhas e a esposa. "Queria entrar no estádio, vim de Curitiba. Agora vamos voltar ao hotel e assistir de lá", consola-se Chaves.
Família Chaves chegou de Curitiba e foi para a área do estádio, mas viu o jogo pela TV do hotel
"Mesmo só chegando perto (estádio) já arrepia", confessa o comerciante. A família Chaves acabou encontrando os primos barrados pela BM e aproveitaram para tirar uma selfie com a réplica da taça. A mini aglomeração empolgada foi saudada pelo som de buzinas dos veículos que cruzavam a avenida.
O agente de fiscalização da prefeitura Paulo Azambuja e o colega Bruno Bampi já estavam longe. Os dois tinham uma missão antipática, aos olhos de quem tentasse assistir ao jogo no entorno. "Se um bar ligar uma TV e gerar aglomeração vai ser autuado", avisou Azambuja.
Mas antes de retomar a ronda com o colega, na calçada da Padre Cacique, em frente ao templo Colorado, o agente revelou: "Sou colorado, é muito triste ver isso tudo aqui vazio." A camisa polo vermelha, sob o colete de trabalho, não foi mera coincidência.
Azambuja (à direita) estava de olho em aglomerações, mas confidenciou: 'É muito triste ver isso tudo vazio'
Duzentos metros dali, no posto de combustível em frente ao estádio, o frentista Reger Dutra e os colegas já circundavam um nicho na lateral das bombas de abastecimento. Minutos antes do apito dentro do estádio, eles já acompanhavam a transmissão do SBT, em TV aberta, pela telinha do smartphone.
O som alto das vozes dos locutores se misturava ao barulho de apitos e vozes que vazava do cenário real do jogo.
"Quando der gol, vamos saber antes mesmo do locutor anunciar na televisão, porque as luzes externas do estádio se acendem", conta o frentista, que, em dias normais de jogos com o fluxo da torcida, estaria guardando carros que tomam conta dos espaços do posto. "A gente fecha as bombas e fica cuidando para não ter arranhão em veículos", explica.
"Agora está tudo vazio, mas assim podemos assistir ao jogo", comemora, soltando uma gargalhada.
Dutra (à direita, de costas) assistiu à partida pelas imagens no celular; sem pandemia estaria trabalhando
O trio de colorados, sentado em frente ao pedestal onde o celular é instalado, ganha a companhia de um quarto frentista, que já chega provocando: "O Grêmio vai ganhar por 2 a 0".
"Não, o Tricolor vai marcar primeiro, o Inter vai empatar e depois fará o segundo, liquidando a partida por 2 a 1", previu Reger, que foi derrotado, pois Pepê marcaria o gol da vitória tricolor.
"Para a BM, facilita um pouco não ter a torcida", atestou o major Daniel Araújo, comandante da 1ª Companhia de Choque, Mesmo sem confusão e pouca movimentação, a corporação levou efetivo de peso, com companhia de Choque, batalhão da região, cães farejadores, motos e cavalaria.
Araújo justifica que a inteligência da BM apurou que torcidas poderiam protestar na área. A segurança também é acertada em conversas com os clubes e a Conmebol. "Nossa preparação é para o pior cenário."
Do estádio para a sala de casa
Da frente do estádio à sala de estar de casa, acomodado no sofá, com direito a petiscos e uma cervejinha. Foi assim que o engenheiro civil Matheus Bier deu início à sessão da noite de quarta-feira ligado na TV e no clássico, na residência da família no bairro Auxiliadora.
Bier começou o jogo com petiscos e cervejinha e terminou provocando o rival com a vitória
"O Grêmio não vem de boa fase, se empatar já sai no lucro", analisou Bier.
Longe de Bier, André Gonçalves com o filho Lorenzo, no bairro Santana, estavam mega empolgados na largada. "É o novo jeito de torcer na pandemia, na frente da televisão", resume Gonçalves.
No intervalo do primeiro para o segundo tempo, Bier elevou a confiança no time de Renato Portaluppi e já considerava que um gol seria merecido pelo desempenho do grupo.
O clima era outro na casa de Gonçalves. Lorenzo era o mais decepcionado com a desenvoltura em campo. Aos 10 anos, o garoto indicou os problemas do Colorado. Crente que o jogo poderia mudar a favor do Inter, o garotinho revelou o segredo da esperança:
Lorenzo com o pai não escondia a decepção, mesmo contando com a força da 'água abençoada'
"Tomei bastante água abençoada", garantiu. "Água abençoada da Igreja filho", confirmou o pai.
Fim de Grenal, Bier não resistiu em tirar uma casquinha:
"É sempre bom ganhar, ainda mais do nosso rival."
Para o clássico de sábado, na Arena, a mesma agitação é esperada. Como é na Arena, pai e filho não iriam, mesmo que a torcida fosse liberada, o que ainda não tem previsão.
Já Bier, que é sócio do Grêmio e tem entrada liberada, vai repetir a torcida, sentado no sofá da sala, com petiscos e cervejinha.