Nunca antes na história mundial, atletas de alto rendimento passaram tanto tempo afastados de suas atividades. Mesmo com a continuidade de exercícios físicos em casa durante o período de quarentema mais proibitivo ou no retorno gradual que vem ocorrendo, os esportistas têm enfrentado desafios. Para entender um pouco desse processo, o Jornal do Comércio conversou com Alex Itaborahy, fisiologista do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), integrante do Laboratório Olímpico.
O professor de Educação Física e doutor em Ciências pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) explica que a interrupção devido à pandemia do coronavírus atrapalhou grande parte dos atletas, exceto alguns poucos, que conseguiram trabalhar normalmente. "O atleta está acostumado a utilizar muita energia para dar conta da carga de treinos. Quando tem uma parada abrupta, o organismo não promove o ajuste gradual dessa utilização energética", explica.
O passo seguinte é a alteração na composição corporal. A diminuição da atividade reduz o estímulo à musculatura e, com isso, há perda da massa magra, mais significativa a partir da segunda semana e, por óbvio, terá um acúmulo de massa gorda. "O atleta passa a ter uma perda de força e de resistência ao cansaço, gerando a afadiga e a redução da capacidade aeróbica. Este processo se agrava ainda mais na quarta semana. Por fim, ele tem uma redução considerável da performance", aponta.
Dentro desse quadro, pode acorrer ainda o aumento da ansiedade, a queda na qualidade do sono e um dos principais riscos para um atleta de alto rendimento, a lesão. "Imagine o seguinte cenário: você altamente motivado para voltar a treinar, mas sem a percepção subjetiva da redução drástica da sua performance, e volta a trabalhar com aquele ímpeto, com cargas muito próximas as que utilizava antes da interrupção. Com isso, a capacidade de repetir os movimentos está reduzida e existe um enorme potencial de ocorrer uma lesão", resume.
Para um atleta chegar à excelência em seu dia a dia, o trabalho da fisiologia é essencial. Neste momento, é obrigatória a realização de uma série de avaliações: teste corporal, com medidas de gordura e massa muscular, testagem do metabolismo, que irá identificar a necessidade calórica ingerida, teste cardiopulmonar durante exercícios, que mede a troca de gases, e o teste de força, específico à cada modalidade. Associado a esse combo, é importantíssimo o acompanhamento psicológico.
Itaborahy ainda desataca um outro ponto: o atleta que retornou às atividades, após ser contaminado pela Covid-19. "A doença tem uma peculiaridade que afeta a capacidade pulmonar, podendo ter algum reflexo na musculatura. Claro que tudo depende de cada caso. Tem atleta que pode ter apenas uma gripe e ficar bem, como podem ocorrer casos um pouco mais complexos", explica.
Além dos testes convencionais já citados, o atleta passará por uma avaliação da função pulmonar, para saber se sua capacidade respiratória foi prejudicada, um eletrocardiograma, uma tomografia de tórax e, mais à frente, um teste ergométrico com um cardiologista. "Passada essa etapa e liberado pelos médicos, o atleta entra naquele mesmo pacote de testes discutidos antes", finaliza Itaborahy.
Pensando nisso, o COB desenvolveu um material, que está disponível em seu site (www.cob.org.br), para atletas e treinadores, com todos os detalhes para um retorno mais apropriado dentro do contexto de alta performance de um esportista olímpico.