Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Esportes

- Publicada em 19 de Fevereiro de 2020 às 20:48

'Preconceito não é um problema do negro, mas da sociedade'

Marcelo Carvalho trabalha há seis anos com o Observatória da Discriminação Racial

Marcelo Carvalho trabalha há seis anos com o Observatória da Discriminação Racial


NÍCOLAS CHIDEM/JC
Deivison Ávila
O episódio de racismo contra o atacante Moussa Marega, do Porto, na partida contra o Vitória de Guimarães, no domingo (16), só reforça que o preconceito está longe de terminar no futebol. O francês de 28 anos, naturalizado malinês, se revoltou com os insultos recebidos na partida pelo Campeonato Português, principalmente, após marcar o gol da vitória por 2 a 1, e abandonou o campo. Esse e outros atos de racismo, homofobia, misoginia e xenofobia no campo seguem ocorrendo em todo o mundo. E para tentar frear estas ocorrências e debater o preconceito, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, há seis anos, acompanha esses episódios. E o que Marcelo Carvalho, idealizador do grupo, pôde constatar, é que os casos aumentam a cada ano. Só em 2019, foram 60 ocorrências no Brasil, sendo 16 no Rio Grande do Sul. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Carvalho falou sobre os planos do Observatório para 2020.
O episódio de racismo contra o atacante Moussa Marega, do Porto, na partida contra o Vitória de Guimarães, no domingo (16), só reforça que o preconceito está longe de terminar no futebol. O francês de 28 anos, naturalizado malinês, se revoltou com os insultos recebidos na partida pelo Campeonato Português, principalmente, após marcar o gol da vitória por 2 a 1, e abandonou o campo. Esse e outros atos de racismo, homofobia, misoginia e xenofobia no campo seguem ocorrendo em todo o mundo. E para tentar frear estas ocorrências e debater o preconceito, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, há seis anos, acompanha esses episódios. E o que Marcelo Carvalho, idealizador do grupo, pôde constatar, é que os casos aumentam a cada ano. Só em 2019, foram 60 ocorrências no Brasil, sendo 16 no Rio Grande do Sul. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Carvalho falou sobre os planos do Observatório para 2020.
Jornal do Comércio - O que pode mudar para o Observatório da Discriminação Racial no Futebol em 2020?
Marcelo Carvalho - Temos recebido contatos de agências de publicidade. Estamos organizando um evento para este início de ano para apresentar o relatório do que ocorreu em 2019, que teve muitos casos de racismo. A ideia é reunir pessoas para debater não apenas os casos, mas para pensar ações concretas de combate ao racismo estrutural. Queremos dar continuidade aos projetos com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com os patchs nas camisas dos clubes. E o principal é que queremos envolver os atletas para que falem sobre o preconceito que sofrem no campo.
JC - Que exemplo o senhor pode dar dessa aproximação do atleta com o debate?
Carvalho - Pegando o caso do Taison. Ele sofreu o racismo. Em um primeiro momento, tem um posicionamento referente ao que está sofrendo, mas, depois, foi muito difícil pegar alguma palavra do que ele sofreu e como estava percebendo a questão. Meu desejo é que os jogadores que sofreram ou sofrem racismo falem mais a respeito. Percebemos nestes seis anos de trabalho que falta informação para que os atletas saibam que não basta fazer o boletim de ocorrência. É preciso dar sequência ao processo judicial para que o agressor responda pelo ato. Inclusive, estamos com uma parceria com o Ministério Público para que essa informação chegue melhor aos jogadores.
JC - O senhor acredita que ainda falta engajamento dos clubes nestes episódios de preconceito?
Carvalho - Com certeza. O próprio Roger Machado é um exemplo disso. Ele só se posicionou (durante uma coletiva pós-jogo, o treinador do Bahia falou sobre a questão do racismo no futebol), porque se sente acolhido e seguro no Bahia. Em outro clube, talvez, não se sentiria seguro para falar.
JC - Ainda existe um limitador para que o clube se aproxime desse debate?
Carvalho - O racismo sempre foi bastante discutido dentro das militâncias negras. Falta aos clubes entenderem que o preconceito não é um problema do negro, mas da sociedade. Não foi o negro que inventou o racismo. Os clubes ainda não perceberam o quanto isso afeta seus atletas, o quanto traz de prejuízo psicológico para um jogador. Os clubes têm uma hegemonia branca em suas diretorias e isso faz com que não entendam a gravidade do racismo. Isso só vai mudar a partir do momento que houver uma maior diversidade, um maior espaço para que pessoas negras se posicionem.
JC - O que falta para o Observatório ter uma maior abertura para discutir o preconceito?
Carvalho - Temos um sonho de que os clubes e, principalmente as entidades - CBF, federações locais e tribunais de justiça desportiva regionais -, entendam a necessidade de falar sobre racismo não só quando acontece. Com isso, eles podem passar a entender a necessidade do Observatório crescer dentro desse contexto de trabalho, monitoramento e combate. Hoje, diversos clubes e entidades recorrem a nós para ter dados e balizar suas campanhas, mas, em contrapartida, o Observatório pouco recebe dessas entidades. O nosso trabalho ainda é voluntário. Precisamos nos profissionalizar, receber recursos e pensar ações de combate. Se continuarmos sendo mantidos dessa forma amadora, vai ser muito difícil dar uma passo à frente. Vamos ficar sempre nessa questão da denúncia dos casos. Precisamos de apoio para dar esse passo à frente.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO