Ninguém duvida da força que um título da Libertadores tem para as finanças de um clube de futebol. O tricampeonato do Grêmio teve um efeito imediato: as vendas de materiais nas lojas próprias físicas e on-line em dezembro de 2017 significaram entre 20% e 25% do faturamento naquele ano no segmento. Mas não dá para viver só de título. Em 2019, o Grêmio ficou no jejum de taças nacionais e sul-americanas, mas a receita com materiais da marca não parou de crescer.
Por isso, o segmento ganha reforço este ano com uma espécie de time extracampo para alavancar receitas, ao lado de mais produtos e do fluxo dos sócios ativos. "O título dá visibilidade, mas isso mostra uma estabilidade muito clara. O Grêmio atinge maturidade e percepção da marca", observa o executivo de marketing tricolor, Beto Carvalho.
Em 2020, com um orçamento 10% mais magro que em 2019 - R$ 341,9 milhões frente R$ 379,2 milhões -, o clube espera aumentar a renda com produtos em 15% a 20%. A receita no ano passado subiu quase 10%, fechando em R$ 22 milhões entre as duas lojas Grêmiomania e o e-commerce.
Dois fatores alicerçam os números: maior maturidade da comercialização da filial aberta no Centro Histórico e a expansão do canal digital, responsável hoje por 20% do volume vendido, índice que Carvalho aposta que pode subir para até 30%. O potencial do varejo próprio pode ser medido também no peso das receitas. Até 2018, não passava de 2%. No ano passado, mesmo com os números ainda por serem fechados, o impacto seria de 5%, considerando a previsão orçamentária. O executivo de marketing mira os 7%. "As lojas têm potencial grande para crescer, que se conquista com o tempo", vislumbra.
Carvalho diz que o Tricolor 'atingiu maturidade e percepção da marca' que se reflete nas vendas de materiais. Foto: Nícolas Chidem /JC
Parte do impulso do varejo vem da política para sócios, que obtêm descontos e também acumulam pontos, gerando mais abatimentos em compras. A loja Grêmiomania na Arena é encarada como um fenômeno, estando no roteiro do torcedor em dia de jogo, como um item da experiência com o evento.
Para turbinar os geradores de caixa extracampo, a equipe de Carvalho faz suspense sobre novidades, mas parte da estratégia deve contar com reforço de ações em redes sociais e outros canais. Uma jogada considerada de êxito foi a associação da marca com um empreendimento imobiliário, que resultou no primeiro hotel ligado a um clube de futebol no Brasil.
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Grêmio firmou acordo com a incorporadora gaúcha Melnick Even em um condo-hotel, modelo de negócio baseado em venda de cotas para investidores. O Moinhos 1903, a ser erguido no bairro nobre de Porto Alegre e com o nome em referência ao ano de fundação do Tricolor, vai gerar receita na forma de royalties e promoções, pois quartos e ambientes terão a temática gremista.
A incorporadora informa que já vendeu 521 das 608 cotas. A expectativa é esgotar a oferta até fim de março, prazo considerado fora da curva neste tipo de comercialização. "É o dobro da velocidade de venda planejada", comemora o diretor comercial da Melnick Even, Michel Gasparin.
Outra fonte de receita é o portfólio de mais de 2 mil produtos licenciados, que engordam a conta de royalties. Em 2018, o clube liderou os ganhos neste tipo de operação entre agremiações do Brasil. Alguns artigos ganham mais espaço, mostrando a diversidade. No caso do Grêmio, crescem itens para animais de estimação.
O balcão de verbas oriundas do entorno do campo está incompleto em 2020. Duas posições de patrocínio na camiseta estão em aberto - da rede Laghetto e da Iplace, que não renovaram os passes. Beto Carvalho diz que as negociações estão quase fechadas e devem ser anunciadas neste mês. "A tendência é que sejam bons patrocinadores, podem ser de alcance nacional ou internacional, ops, mundial", revela Carvalho, evitando associação com o rival.
Outro potencial de divisas é a Arena, cuja gestão atual é da Arena Porto-Alegrense. O Grêmio deseja assumir o comando, antecipando em 13 anos a gestão própria. Tudo vai depender de um acordo com o Ministério Público e com a prefeitura para a realização das obras do entorno.
"A Arena é um fator muito relevante e um fato novo em 2020", admite o executivo. A receita atual, que fica com a gestora, é de R$ 50 milhões, mas a intenção é ampliar a relação com torcedores. O estádio pode ser a chave para beliscar a marca de 100 mil sócios, acalentada há tempos. Sem a Arena, a receita esperada com os cerca de 90 mil associados é de R$ 75 milhões para 2020, 2,4% acima do ano anterior.
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