Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

PESQUISA

- Publicada em 17 de Maio de 2019 às 03:00

Isabel: a história do vinho gaúcho

Já existe um clone da uva, chamado Isabel Precoce

Já existe um clone da uva, chamado Isabel Precoce


/VALTAIR COMACHIO/DIVULGAÇÃO/JC
A uva Isabel é a espécie mais cultivada no Rio Grande do Sul. Chegou entre 1839 e 1842, originária da América do Norte, conhecida como uva americana e sempre muito utilizada na produção de sucos de uva e vinhos de mesa. "Esta uva vem sendo produzida faz mais de 100 anos. Com o desgaste do tempo, a variedade tem sido sucumbida por problemas fisiológicos. Nosso trabalho tem sido trazer ao produtor informação e tecnologia para que siga produzindo esta que se tornou a uva mais tradicional da nossa região", comenta João Carlos Taffarel, analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Uva e Vinho.
A uva Isabel é a espécie mais cultivada no Rio Grande do Sul. Chegou entre 1839 e 1842, originária da América do Norte, conhecida como uva americana e sempre muito utilizada na produção de sucos de uva e vinhos de mesa. "Esta uva vem sendo produzida faz mais de 100 anos. Com o desgaste do tempo, a variedade tem sido sucumbida por problemas fisiológicos. Nosso trabalho tem sido trazer ao produtor informação e tecnologia para que siga produzindo esta que se tornou a uva mais tradicional da nossa região", comenta João Carlos Taffarel, analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Uva e Vinho.
Quando introduzida no Brasil, a uva Isabel chegava como alternativa para os imigrantes que tentavam produzir espécies europeias com dificuldades pela diferença de clima. A Isabel ganhou espaço nos vinhedos e no mercado. "Pela sua resistência, vigor e capacidade produtiva, a uva Isabel, chegou e começou a ser cultivada pelas mãos dos alemães e, posteriormente, dos italianos, que mantiveram o hábito, ajudou o imigrante, então agricultor, a se tornar um viticultor de fato", destaca o enólogo Firmino Splendor, fundador e primeiro presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE) e autor do recém-lançado livro A epopeia da uva Isabel no Rio Grande do Sul. O Brasil, maior país da América Latina e considerado o quinto maior produtor vitivinícola do Hemisfério Sul. Uma compilação de dados mostra que em 1913, 96% da produção de uvas no Rio Grande do Sul era da variedade Isabel. Hoje, este percentual é de 32%.
De acordo com João Carlos Taffarel, existe a tradição da uva Isabel e a pesquisa deve ajudar a resgatá-la. "Estamos começando um trabalho de seleção de clones desta uva que se adaptem bem às nossas condições. Assim, após os ensaios, poderemos entregar informações e tecnologia que ajudem o produtor no manejo do seu vinhedo", antecipa. Já existe um clone da uva chamado Isabel Precoce. A cultivar de uva tinta é indicada para consumo in natura, elaboração de vinho de mesa e também suco. "Percebemos, entre outros atributos, uma boa maturação", comenta. A Isabel Precoce faz parte de uma linha do programa de melhoramento para a produção de suco da Embrapa com destaque para outras duas cultivares de ciclo precoce (Concord Clone 30 e BRS Violeta), intermediário (BRS Cora, BRS Margot e BRS Rúbea) e tardio (BRS Magna), garantindo a ampliação do período de colheita e a otimização da mão de obra e de infraestrutura para o seu processamento.
Taffarel nota que o paladar do brasileiro aceita bem bebidas doces, aromáticas e baratas e, por esse motivo, uvas de mesa têm relevância no mercado para produção de vinhos com este perfil. "Precisamos olhar com carinho para esta uva que não é exatamente nossa, mas que tem um papel fundamental na nossa história. Para se ter uma ideia: a moscato é a uva branca mais plantada no Rio Grande do Sul. E, bem como as americanas, não tinha valor comercial. A partir de um outro olhar, da busca e da conquista da indicação de procedência, esta cultivar ganhou outra importância. O mercado do moscatel está crescendo e os produtores de Farroupilha se tornaram referência", reconhece.

Do garrafão aos restaurantes renomados do Rio de Janeiro e de São Paulo

Marchioro ressalta que a uva Isabel sustenta muitas famílias

Marchioro ressalta que a uva Isabel sustenta muitas famílias


/CASA ÁGORA/DIVULGAÇÃO/JC
Desde a infância, a produção de vinhos faz parte da vida de Hélio Luiz Marchioro. A família sempre tomou os vinhos feitos no porão de maneira simples. "Eu e meus irmãos estávamos envolvidos, enchíamos as barricas, para consumo próprio e para sobrevivência. Produzíamos vinhos assim como produzíamos outros alimentos. E essa era a realidade de tantas famílias", relembra.
À frente da Casa Ágora, projeto de produção e elaboração de vinhos orgânicos e biodinâmicos, Marchioro não perde a referência do passado e tem entre seus rótulos mais vendidos um vinho tinto de uva Isabel que pode ser encontrado em importantes restaurantes e bares do Rio de Janeiro e São Paulo. "Podemos dizer que é a uva brasileira. A produção da uva Isabel sustenta muita gente. Os nonos, agricultores que aqui se estabeleceram, viveram e vivem fazendo vinho desta cepa. Erroneamente é tida como uma uva de baixa qualidade. Da Isabel saem os melhores sucos do Brasil. As vinícolas campeãs de venda no Brasil vendem Isabel. Não tem como desconsiderar; é preciso reposicionar", analisa. O vinho Isabel Rosado da Casa Ágora tem tido boa aceitação segundo o proprietário que atende os clientes pessoalmente com suporte do filho Pedro. "Pode tomar bem gelado ou até com gelo. É um vinho desmistificado e muito espontâneo. É um vinho alegre que se adapta ao consumo brasileiro", empolga-se.
Marchioro, especialista em cooperativismo, é um entusiasta das ideias da antroposofia do austríaco Rudolf Steiner que mostra um método de conhecimento da natureza, do ser humano e do universo que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como trata da aplicação desse conhecimento em praticamente todas as áreas da vida humana. Neste contexto, o cultivo orgânico e biodinâmico faz sentido uma vez que demonstra uma conexão mais presente do homem com o meio ambiente. "Isabel é um fenômeno. É resistente a fungos e ataques. Nossa experiência no vinhedo tem mostrado que a produção orgânica sem cobertura só é possível com as híbridas americanas. Por isso também nossa opção pela Isabel. Assim, posso dizer que a Isabel está garantindo nossa sobrevivência", reconhece.