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Reportagem Cultural

- Publicada em 19 de Maio de 2022 às 18:03

Novos escritores gaúchos promovem renovação marcada pela diversidade

Vencedores do Açorianos 2021, Camila Maccari, Denise Freitas, Jandiro Adriano Koch, Luiz Maurício Azevedo e Nikelen Witter abrem novas trilhas para a literatura feita no Estado

Vencedores do Açorianos 2021, Camila Maccari, Denise Freitas, Jandiro Adriano Koch, Luiz Maurício Azevedo e Nikelen Witter abrem novas trilhas para a literatura feita no Estado


MONTAGEM COM FOTOS DE CAROLINA FERRONATO, FERNANDA BASTOS E ACERVOS PESSOAIS/JC
Eles escrevem sobre a literatura, sobre o luto e perda, a poesia como um gesto de que só ela é capaz. Criam contos que flertam com o mistério e o realismo mágico, reescrevem uma biografia e refletem sobre quem escreve. São contemporâneos e, vistos em conjunto, trazem elementos que traduzem a nova linguagem da literatura produzida do Rio Grande do Sul para o mundo. Conquistam leitores e reconhecimento literário, como é o caso do Prêmio Açorianos de Literatura de 2021. São autoras e autores que mostram a que vêm. Denise Freitas, Nikelen Witter, Jandiro Adriano Koch, Luiz Maurício Azevedo e Camila Maccari enfrentam desafios para romper os limites de linguagens já estabelecidas e, cada um a seu modo, energizar e reinventar a poesia, o romance, o conto, a crônica e o ensaio.
Eles escrevem sobre a literatura, sobre o luto e perda, a poesia como um gesto de que só ela é capaz. Criam contos que flertam com o mistério e o realismo mágico, reescrevem uma biografia e refletem sobre quem escreve. São contemporâneos e, vistos em conjunto, trazem elementos que traduzem a nova linguagem da literatura produzida do Rio Grande do Sul para o mundo. Conquistam leitores e reconhecimento literário, como é o caso do Prêmio Açorianos de Literatura de 2021. São autoras e autores que mostram a que vêm. Denise Freitas, Nikelen Witter, Jandiro Adriano Koch, Luiz Maurício Azevedo e Camila Maccari enfrentam desafios para romper os limites de linguagens já estabelecidas e, cada um a seu modo, energizar e reinventar a poesia, o romance, o conto, a crônica e o ensaio.
A poesia ainda resiste, mesmo sob tenebrosos tempos de guerras e indiferenças, garante a autora de O gesto sensível do mundo, Denise Freitas. O conto é um desafio sempre, por isso é preciso atualizá-lo, defende Nikelen Witter, que levou o troféu Açorianos com Dezessete mortos. Quem pesquisa descobre novas possibilidades de abordar uma biografia, como no caso de Jandiro Adriano Koch, com O crush de Álvares de Azevedo, ensaio que levou o prêmio de livro do ano. Contar, logo na estreia como autora, uma história de emoção e verdade foi o que destacou Camila Maccari com seu Dias de fazer silêncio. E a arte literária seria certamente mais frágil não fosse quem a analisasse com um olhar crítico, como Luiz Maurício Azevedo demonstrou em Por uma literatura menos ordinária - disposição que, lamentavelmente, lhe rendeu ameaças e ofensas via redes sociais.
São nomes que não falam apenas de si, é claro. Em conexão com outros autores e autoras de destaque - como Jeferson Tenório, que conquistou o Jabuti com O avesso da pele, e José Falero, que vem recebendo elogios pelo vibrante Os supridores - representam um momento de renovação na literatura gaúcha. Não apenas pela novidade natural trazida por alguns novos nomes, mas também (e talvez principalmente) por representarem novos temas e vivências, olhares diferentes que surgem da literatura urbana (ou, dependendo do caso, nem tanto) de nosso Estado.
O escritor e professor do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Luís Augusto Fischer, editor da revista online Parêntese, cita dois colaboradores de sua publicação que estão, também, entre os recentes vencedores do Açorianos. Segundo ele, Luiz Maurício Azevedo e Jandiro Adriano Koch "são provas da qualidade do pensamento escrito aqui na redondeza". Mesmo assim, Fischer diz que não consegue ver um elemento único a unir os cinco nomes - o que, em si mesmo, acaba sendo uma demonstração de que, mesmo vindas do mesmo caldeirão, estamos diante de mentes diferentes, que pensam e escrevem pelos próprios caminhos.
Premiações como as de Azevedo e Jeferson Tenório, em particular, se inserem em um momento importante de valorização de autores negros. "Não vejo mais preconceito, em nenhum sentido. Há editoras dedicadas a autores negros e há demanda por livros de autores negros (de nosso Estado), para nem falar de gente de fora, como Ricardo Aleixo, Conceição Evaristo e Geovani Martins", argumenta Fischer. Ainda assim, ele reconhece que a novidade, muitas vezes, traz uma reação - no caso, manifesta nos ataques severos que tanto Azevedo quanto Tenório sofreram nas redes sociais. O autor de Por uma literatura menos ordinária, em especial, decidiu afastar-se temporariamente da esfera pública, incomodado pela virulência de alguns ataques. Uma situação que demonstra que, embora não existam assuntos proibidos, há sempre quem queira bloquear o caminho da novidade - um esforço que, felizmente, sempre acaba sendo infrutífero. A nova literatura, de um modo ou outro, sempre passa.

A crítica incomoda muita gente

Após críticas ácidas, Azevedo virou alvo de ataques promovidos pelo que ele qualifica como "milícia digital"

Após críticas ácidas, Azevedo virou alvo de ataques promovidos pelo que ele qualifica como "milícia digital"


FERNANDA BASTOS/DIVULGAÇÃO/JC
A franqueza de Luiz Maurício Azevedo, um crítico literário que acredita na crítica como um espaço para colocar dedos na ferida, acabou rendendo ameaças. Em fevereiro, após publicar uma resenha ácida no jornal Folha de S.Paulo, o autor de Por uma literatura menos ordinária viu-se envolvido em uma intensa discussão nas redes sociais - que descambou para acusações caluniosas e até ameaças de morte.
"Tenho sido alvo de ataques de uma milícia digital organizada, destinada a me constranger por eu ter feito o meu trabalho. Críticos criticam. Às vezes não é agradável. Às vezes gera desconforto, mas crítica não é propaganda. E jornais não são canais de YouTube. Em um cenário cultural maduro e saudável, quem gosta de livros não ameaça críticos literários. Mas a gente sabe que, desde 2018, muita coisa inaceitável se tornou banal no Brasil" denuncia.
"É preciso ter um pouco de honestidade intelectual quando se escreve. Ao menos quando se escreve". Desde o texto de apresentação, Luiz Maurício Azevedo instiga o leitor na reunião de textos que recebeu o Açorianos. O volume reúne crônicas publicadas em jornais e em revistas virtuais, onde o autor questiona, com linguagem franca e incisiva, vários aspectos da atual literatura. 
Escritor negro e profundamente interessado na literatura negra, Azevedo ainda assim não se furta a apontar inconsistências de autores negros - na crítica que rendeu os ataques mais severos, ele aborda Homens pretos (não) choram, do escritor e negro Stefano Volp. Da mesma forma, o crítico questiona a própria apreciação da literatura brasileira produzida por pessoas negras na atualidade: até que ponto a indústria cultural não faz com que se compre livros de Djamila Ribeiro ou Itamar Vieira Júnior sem realmente se importar com o que esteja escrito neles?
O autor decidiu afastar-se por um tempo da esfera pública, por medida, inclusive, de segurança pessoal. "Sou um trabalhador fazendo seu trabalho. E nenhuma pessoa deve ser punida por isso. A boa literatura negra vai continuar sendo minha paixão", reafirma. Se Luiz Maurício realmente desistir de publicar, perdemos todos. A intolerância e a ignorância não podem e nem devem vencer.
“Se a nova literatura brasileira fosse um prato culinário, ela seria um desses cheesecakes anódinos, feitos exclusivamente de pretensão e gordura. Falta à nossa literatura sabor, gosto, tensão”. (Trecho de Por Uma Literatura Menos Ordinária).

Apenas bons amigos?

Jandiro Koch aborda suposto envolvimento amoroso de poeta com ex-colega de internato

Jandiro Koch aborda suposto envolvimento amoroso de poeta com ex-colega de internato


ACERVO PESSOAL JANDIRO KOCH/DIVULGAÇÃO/JC
Na escola se aprende a colocar a obra de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852) na estante do Romantismo. O poeta pertence à segunda geração do movimento, conforme apresenta o professor Alfredo Bosi, no seu fundamental A história concisa da literatura brasileira. O romantismo que Jandiro Adriano Koch ergue em torno do autor em O crush de Álvares de Azevedo, contudo, é de outra natureza.
Nascido em Estrela, Koch é graduado em História e especializou-se em Gênero e Sexualidade. Com tal bagagem, o autor se põe a narrar um suposto envolvimento homoafetivo entre o poeta de Lira dos Vinte Anos e um amigo e ex-colega de internato no Rio de Janeiro, um gaúcho chamado Luiz Antônio da Silva Nunes. Uma obra que vai além da mera pesquisa biográfica, envolve questões que dizem respeito à população LGTBQIA+ em tempos de radical desinformação e celebração da ignorância, ajudando a trazer importante luz sobre o tema.
Ao final da leitura do volume, a questão segue em aberto: teria Álvares de Azevedo um caso com seu crush Luiz Antônio? Se escreveu um ensaio para causar, O crush de Álvares de Azevedo vem cumprindo o objetivo - afinal, foi premiado como Livro do Ano no Açorianos. Mas não se trata de polêmica vazia, bem longe disso.
Koch relata que optou pelo termo crush por ser "uma gíria que permite, assim como a formulação do amor platônico, raciocinar sobre um sentimento amoroso que, amiúde, acontece somente para uma das partes". Segundo Luiz Augusto Fischer, responsável pelo texto de apresentação, há na obra "um erudição que está nas páginas do relato, nas notas, na bibliografia."
Jandiro, que é historiador, vasculhou acervos digitalizados, como os da hemeroteca da Biblioteca Nacional e fotografias do Arquivo Nacional, além de reunir livros sobre Álvares de Azevedo, biografado um bom número de vezes. Também leu processos no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, que auxiliaram na árvore genealógica de Luiz Antônio da Silva Nunes, o crush. "Rastrear é das melhores partes. Sempre o bom cheiro da descoberta", anima-se Jandiro.
O autor identifica três diferentes tipos de reação entre os leitores de sua obra. "A primeira é a de quem se restringe a ler com curiosidade o que entende serem duas minibiografias de personagens históricos supostamente homossexuais. Nada contra. Um passo à frente estão aqueles que compreendem para além da especulação sobre a homossexualidade entre Azevedo e Nunes, os que percebem como forças diversas vão se aliando no sentido de afirmar a heterocisnormatividade, isso em meio à elite intelectual e cultural do país. Dessa interpretação, resultaram os dois Açorianos. Por fim, com múltiplas nuances, inclusive dentro dos tais panteões - que existem regionalmente, sou do Vale do Taquari -, há o nariz torcido, o despeito, uma série de bastidores que são esperados no bafo do (neo)conservadorismo, do levante anti-igualitário e das pautas reacionárias."
“... botaram lenha na fogueira dos ávidos por narrativas de escândalo ao retratarem em textos ficcionais, tipos licenciosos, bêbados e dados a experimentações pouco convencionais”. (Trecho de O Crush de Álvares de Azevedo)

Um gesto de poesia possível

Premiada por O gesto sensível do mundo, Denise Freitas vem publicando poesia desde 2010

Premiada por O gesto sensível do mundo, Denise Freitas vem publicando poesia desde 2010


ACERVO PESSOAL DENISE FREITAS/DIVULGAÇÃO/JC
Professora e autora nascida em Rio Grande, Denise Freitas, vencedora do Açorianos de Poesia com o livro O gesto sensível do mundo, vem publicando desde 2010. Ela já havia sido indicada ao mesmo prêmio em 2017, como livro Percurso onde não há. No prefácio, Leonardo Antunes, que já foi vencedor deste prêmio, diz que O gesto sensível do mundo "realiza, desde o título, uma coreografia lírica do universo humano."
Por e-mail, Denise responde de onde vêm suas influências. "Desde muito cedo, ainda impulsionada pela curiosidade aos primeiros livros, fiquei interessada pela poesia. Leio com mais entusiasmo alguns (mas) poetas do que outros (as) ou, mais precisamente, alguns poemas do que outros. Mas, além da poesia, dedico bastante minhas leituras à prosa e, ainda, a livros que apresentem questões de análise e teoria literária. Acabo lendo obras bem diversas, daí a dificuldade de mencionar alguma influência mais específica, mesmo porque entendo que toda leitura (bem como a fruição de outras manifestações artísticas) acaba nos influenciando de uma maneira ou de outra".
Ela também aborda a questão da poesia feminina: "não penso que existam delimitações ou alguma espécie de fronteira concernente àquilo que possamos chamar de 'conteúdo', 'forma', 'tema' ou 'estilo' - ou qualquer coisa que os valha - capazes de enfeixar satisfatoriamente elementos para a definição de uma 'poesia feminina'; portanto, respondo pensando tão somente em poemas escritos por mulheres e as publicações desses textos. A partir disso, é possível notar um grande número de poetas, mulheres, apresentando suas publicações. Mas continua sendo notório também que poetas, mulheres, ainda estão em minoria", pondera.
Sobre sua rotina para escrever, Denise Freitas revela que, na verdade, não a tem. "Escrever poesia é uma atividade que não traz qualquer rendimento - considerando aspectos econômicos - nem sei se há alguma exceção no Brasil. Creio que não. Sou professora e, mais recentemente, tenho me dedicado à formação em Biblioteconomia. Aliás, ingressei no curso justamente em razão de ser professora e escritora e de perceber as inúmeras precariedades com que a literatura tem estado inserida no universo da educação", alerta.
Em tempos difíceis de violência, crise econômica e humanitária, como fica a poesia? "Entendo que (a arte) seja mais como um aspecto ou uma espécie de dimensão da condição humana, que nada tem de natural, mas sim de cultural. Nesse sentido, me parece que, mesmo diante de conjunturas tão terríveis, assombrosas e violentas, acabamos envolvidos em expressões artísticas as mais diversas."
A poeta já projeta mais trabalhos. "Tenho uns poemas com os quais penso em iniciar um livro, mas ainda estou elaborando algumas ideias, pensando sobre como construir e sobre quais rumos dar a esse novo trabalho."
Espera inútil
Aguardo a corrosão de cobre
menos por necessidade do que pretexto de ver
nessa causa sem rosto e sem limite –
que é a morte - a origem de todo esquecimento:
esse fruto assustadoramente certeiro.
(de O gesto sensível do Mundo)

O luto aos olhos de uma menina

Camila Maccari alcançou o primeiro Açorianos com romance de estreia

Camila Maccari alcançou o primeiro Açorianos com romance de estreia


/ACERVO PESSOAL CAMILA MACCARI/REPRODUÇÃO/JC
Com mestrado em Escrita Criativa na Pucrs, a jornalista Camila Maccari recebeu seu primeiro prêmio Açorianos, categoria Romance, com Dias de se fazer silêncio. "Eu o escrevi como parte da minha dissertação no mestrado. Apesar de fazer num espaço acadêmico, foi incrivelmente caótico e rápido. Escrevia quando dava e do jeito que dava", conta a autora.
A intuição e a vontade de estar no local dos acontecimentos, que acompanham Maccari no trabalho jornalístico, também se manifestam na estreia literária. Ela conta, por exemplo, que, tal como o jornalista que suja o pé no barro, foi ao cenário da sua narrativa. "Fiz umas coisas das quais gosto muito como, por exemplo, ter visitado a casa que foi inspiração para a que aparece no livro, ou ter pedido para os meus pais que fossem até o meio da roça, tirar a foto de uma jabuticabeira", detalha.
A história de Dias de se fazer silêncio trata de perda e luto, vistos pelo olhar de uma menina de doze anos. Maria e sua família, que moram numa comunidade do interior, descobrem uma doença terminal no seu irmão mais novo, Rui. Maria se vê, então, em um esforço para elaborar a perda iminente de seu irmão e sua relação com a mãe e o restante da família.
Feliz com os resultados de seu primeiro livro, Camila reflete sobre a tendência de incluir as jovens escritoras em um mesmo espaço, mesmo que muitas vezes tratem de temáticas muito diferentes. Mesmo com ressalvas, o rótulo pode ter tido um papel positivo, pensa ela. "Por um período, o nicho pode ter sido importante para reivindicar espaço", pondera. "Hoje, a gente vê mesas em eventos literários com mulheres falando sobre literatura, e não apenas sobre literatura feita por mulheres."
“Maria sentia o cheiro quando ainda era promessa, muito antes de chegar até a casa porque o irmão ainda levaria horas para chegar, mas o cheiro já estava por ali, transformado em algo pela simples iminência, impregnado no ar e nos móveis, na cortina que balançava aberta moldando a janela e que deixava entrar no quarto o vento feito vento de enxofre, na mãe que andava ansiosa de um lado para o outro batendo cobertas e espanando brinquedos e nela própria, também na Maria, que existia nesse espaço e que, existindo nesse espaço, acabava sendo uma parte incontestável dele, parte da casa, do quarto, da mãe e do cheiro, e isso lhe dava certo asco culpado, perceber que de seus poros também podia sair aquele cheiro que era como cheiro de enxofre — era cheiro de morte doença hospital, e era cheiro de irmão”.
(Trecho do primeiro parágrafo de Dias de se Fazer Silêncio)

O conto vive renascendo

Nikelen Witter: "É pelo conto que se começa"

Nikelen Witter: "É pelo conto que se começa"


ACERVO PESSOA NIKELEN WITTER/DIVULGAÇÃO/JC
Escrever um conto exige, como poucos formatos literários, o domínio do ofício. Afinal, não é longo o tempo literário do qual o autor ou autora dispõe para capturar a atenção de quem lê. Desnecessário dizer, então, que fazer isso sucessivas vezes, em um livro de narrativas curtas, é ainda mais desafiador. É o que Nikelen Witter consegue com Dezessete mortos, premiado no Açorianos do ano passado na categoria Contos.
Historiadora e professora na Universidade Federal de Santa Maria, Nikelen concorda em parte com esse caráter desafiador. "Quando se olha a parte teórica, é quase assustador. No entanto, geralmente, é pelo conto que a gente começa, ou é orientado a começar ou, ainda, é onde recebemos alguma instrução mais formalizada."
A professora e historiadora desenvolve: "em alguns casos, é também por onde as pessoas começam as atividades como leitores. Afinal, eles exigem um mergulho muito fundo e, ao mesmo tempo, rápido". Ou seja, o conto é um lugar de começos, para quem escreve e para quem lê - virando, é claro, permanência em muitas situações.
Nikelen vem publicando desde 2013. Em Dezessete mortos, ela se movimenta pelo fantástico, com pitadas de terror. "Acho que esse é o ponto que me coloca à vontade nas narrativas curtas, porque o conto fantástico ou de terror está ali para desconfortar quem está lendo. É o tipo de atmosfera que me diverte criar - ao menos na maioria das vezes - em geral amarrando com uma sensação forte de realidade e depois virar tudo de cabeça para baixo."
 “- Degolados, que nem bicho. Na frente das mãe, dos pai. Que guerra merece isso, Maria? Não tem! Que homem pode ter o direito de fazer isso? E não me venha falar de justiça de Deus, Maria! Só vai ter justiça, o dia em ele pagar o que fez... - O soluço virou lágrima. – Meus dois filhos, Maria. Meus dois varão”. (Trecho de Dezessete Mortos)
 

* José Weis é jornalista desde 1989.