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reportagem especial

- Publicada em 10 de Fevereiro de 2022 às 18:34

Um novo passado agora: outras narrativas sobre a história das Missões

Pará Yxapy, da Aldeia Alvorecer, amamenta o filho Dionísio em frente às ruínas de São Miguel Arcanjo

Pará Yxapy, da Aldeia Alvorecer, amamenta o filho Dionísio em frente às ruínas de São Miguel Arcanjo


/ARIEL KUARAY ORTEGA/DIVULGAÇÃO/JC
A historiografia gaúcha consolidou-se até o último século sobre dois marcos: a Revolução Farroupilha e as Missões Jesuíticas. Em ambos, privilegiou a perspectiva do homem branco. Mas pesquisas recentes começam a revelar outras narrativas sobre o nosso passado.
A historiografia gaúcha consolidou-se até o último século sobre dois marcos: a Revolução Farroupilha e as Missões Jesuíticas. Em ambos, privilegiou a perspectiva do homem branco. Mas pesquisas recentes começam a revelar outras narrativas sobre o nosso passado.
A experiência missioneira, amplamente documentada pelos padres jesuítas, começa a ganhar versões mais completas, que levam em conta a diversidade e o protagonismo indígena. Os historiadores têm trabalhado para compreender a complexidade do encontro entre povos nativos e religiosos, que resultou na organização de 30 reduções no território da América Meridional, no século XVIII.
Nesses povoamentos, mais de 1.500 caciques adaptaram tradições milenares de vida em meio à natureza para uma convivência urbana concentrada. Atendiam, assim, não só à sustentabilidade de suas famílias extensas, mas também a compromissos sociais e políticos, com os jesuítas e com a coroa espanhola.
A erva-mate foi uma forma dos Guarani e outros povos ameríndios conciliarem seus costumes e sua força produtiva com as exigências dos colonizadores, sem que fossem escravizados. Estima-se que, na segunda metade do século XVII, estabeleceram um mercado que comercializava até 50 mil arrobas, abrangendo os atuais Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e até o Peru.
Essa expansão geográfica, inclusive, dificulta a delimitação da História pelos estados-nações, pois evidencia um espaço de idas e vindas, marcado por práticas de comércio e também de guerra. Com isso, fala-se menos em História do Rio Grande do Sul, e mais em História da América Meridional, ou da Bacia do Rio da Prata. Pois os processos históricos não se limitam às fronteiras que foram criadas depois. Esse entendimento desfaz as certezas dos mapas bem desenhados pelos jesuítas.
De acordo com o arqueólogo e historiador Artur Barcelos, a Companhia de Jesus era uma ordem religiosa e também um grupo de elite, formado por padres intelectuais. O resultado é que acabaram nos induzindo a contarmos a versão deles da História. "Os jesuítas deixaram tudo registrado, cartografado, um enorme legado de papel", observa. Mas há uma virada na academia e esses documentos passam a ser problematizados. "Não significa que não reconhecemos o mérito dos jesuítas", adverte.
O historiador Arno Alvarez Kern é um dos pioneiros a tratar do tema das Missões na universidade, nos anos 1970: "havia muito debate e pouca pesquisa". Então procurou investigar os diversos mitos que circulavam. "Havia alguns que eram bem racistas, escreviam que era um viveiro guarani", recorda.
Havia duas vertentes historiográficas bem marcadas, a de matriz espanhola e a portuguesa. Alguns defendiam Sepé Tiaraju como um dos heróis do Rio Grande do Sul, enquanto outros contestavam-no, dizendo que era um caudilho espanhol, portanto inimigo. Por isso, o conteúdo das aulas nas escolas começava com a fundação de Rio Grande, já no século XVIII. Kern observa que assim ignorava-se mais de um século de povoados missioneiros e conflitos neste território, sem falar no período anterior à colonização. "Ninguém dava bola para os Guarani, era como se eles não existissem", critica.
Essa falta de reconhecimento também se estendia a outros nativos, pois as Missões eram multiétnicas, incluindo povos Jê, Charrua e Minuano. Procurando compreender essa diversidade, o historiador Jean Baptista passou a investigar também suas múltiplas sexualidades, interditas sob a moral cristã. "A última coisa que os Guarani fazem na historiografia das Missões é sexo", constata. Consagrou-se uma ideia de comportamento casto e recatado, bem contrário ao que se encontra na documentação. "Os jesuítas não se privaram de falar de sexo, esse universo infernal de que eles fugiam". diz.
Tais revelações ampliam o conhecimento que se legitimou desde que as ruínas de São Miguel Arcanjo foram declaradas pela Unesco como Patrimônio Mundial, em 1983. Nesta reportagem, a primeira de uma série do caderno Viver, entrevistamos acadêmicos e o pesquisador guarani Ariel Kuaray Ortega, para revisitar essa História. Como no ritual indígena, queimamos a folha da erva-mate para pedir à divindade do sol, Yamandu, que dissipe a neblina. Quem sabe vejamos melhor dessa forma. Também escutemos com atenção, conforme na roda de mate. "Tomar ao redor do fogo é pra inspirar a palavra; quando circula, é pra você meditar, refletir", ensina Ortega.

Escavando para desfazer mitos

livro 1

livro 1


EDIPUCRS/DIVULGAÇÃO/JC
Durante uma década inteira, foram feitas escavações arqueológicas na região missioneira. Certo dia, chegou um homem e falou ao coordenador da equipe, Arno Alvarez Kern: "professor, o senhor está escavando no lugar errado". E explicou: "Tem que ir pras bandas da igreja à meia-noite, que lá aparece o fantasma do jesuíta e lhe mostra onde está o tesouro".
Histórias como essa, de túneis e tesouros escondidos, corriam soltas. Diante disso, a equipe palestrava nas escolas para explicar o que estavam fazendo lá. Na relação com a comunidade, ouviam conselhos para escavar 20 metros de profundidade e chegar ao tesouro, enquanto trabalhavam entre 30 e 60 centímetros, o suficiente para acessar a camada arqueológica do século XVIII. Alguns indicavam cavar onde se formava um triângulo com três árvores, pois no meio estariam enterradas riquezas. E outros ficavam intrigados: "Como é que estes caras de Porto Alegre souberam onde está o tesouro? Eu moro aqui há tanto tempo e não sabia".
"Mitos se difundem mais facilmente que o conhecimento científico", concluiu o historiador Kern com sua experiência. Então, pensou em uma forma de ser mais absorvido pelo grande público, o que resultou no seu novo livro, Flechas partidas em tempos de guerra (Edipucrs, 2021), um diário ficcional de um guarani que narra suas viagens no período colonial acompanhando conflitos pelo domínio do território americano. "Tentei ser mais acessível, inspirado em relatos de viajantes", revela. O autor criou até um romance: "Eu não invento nada além dos personagens principais, o resto é tudo baseado no contexto histórico que eu pesquiso".
Natural de Santo Ângelo, o historiador publicou pela primeira vez o resultado de suas pesquisas em 1982, no livro Missões: uma utopia política, até hoje uma referência importante, por desconstruir mitos. "Era um assunto muito controverso. Alguns achavam que os jesuítas tinham criado um Estado dentro do Estado. Outros falavam que era comunismo, ou uma espécie de cooperativismo, ou confederação", lembra.
Para conseguir mais informações sobre os povos indígenas, passou a fazer arqueologia. Kern coordenou escavações entre 1984 e 1994 no noroeste gaúcho, junto a pesquisadores de diversas universidades. Em um daqueles dias, recorda que um colega lhe indagou: "O que estamos fazendo aqui? Esta é uma história espanhola, não é nossa". Então, respondeu: "você é de origem italiana, eu sou de família alemã. Quando cruzamos o Atlântico, deixamos a história europeia para trás e tratamos de fincar raízes nesta terra. É uma decisão nossa, de que esse é o nosso passado. É um novo passado agora". 

De erva do diabo a ouro verde

"Indígenas Pampas mateando", pintura de León Pallière, 1865


/LEÓN PALLIÈRE/DOMÍNIO PÚBLICO/JC
Que o chimarrão é uma invenção indígena, já se deveria saber. Agora, que a erva-mate não é erva? De acordo com a botânica, é uma árvore. Essas constatações compõem o novo livro do historiador Tau Golin, da Universidade de Passo Fundo, o primeiro sobre a erva-mate missioneira, suas práticas de produção, comércio e consumo. A Fronteira - Volume 4: Mateando (Méritos, 2022) faz parte de uma série sobre a formação das fronteiras na América Meridional, e revela detalhes da formação de um mercado de erva-mate missioneira.
Tau Golin relata que os indígenas sempre fizeram o manejo das mudas com tecnologia própria. O problema é que não se consegue plantar a semente, porque ela se forma e, quando passaria do estágio verde pro maduro, cai. Não está completa para germinar. Através dos séculos, perceberam que as mudas se formavam na natureza após quebra da dormência das sementes. Passaram a aplicar o conhecimento e, com o aprimoramento nas Missões, chegaram a cultivar ervais com mais de 40 mil pés.
Mas nas primeiras décadas de contato, não era bem assim. Os padres combatiam a erva-mate, o fumo e a chicha (bebida fermentada), porque estavam no centro do paganismo. No discurso litúrgico, era a erva do diabo. Golin justifica que os pajés falam com os deuses através da entidade da erva-mate, por isso houve toda uma negociação de cosmovisões.
Para os ameríndios não serem escravizados, tinham que se tornar súditos e pagar uma taxa. "Os caciques dos cabildos então começam a discutir com os padres como iriam produzir erva-mate, por ser um conhecimento que detinham", diz Golin. Acabaram utilizando a rede de influência jesuítica e provisionando exércitos. Tinham vantagem competitiva, pois a erva-mate indígena era superior à comercializada pelos espanhóis. Também ofereciam a variedade caá-mini (pura folha).
Essa história, para Tau Golin, alimenta nosso vínculo com a erva-mate na atualidade. Mas considera restritivo atribuí-la como um pertence gauchesco, pois gaúchos e pampeanos nunca produziram-na, foram apenas consumidores. "Quando a erva-mate fala contigo e te dá o sabor na boca, faz com que tua alma fique americanamente poética. O espaço passa a estar em ti. E essa é uma magia indígena", preconiza.

Missões além das ruínas

Mapa localiza ervais, estâncias, vacarias, postos, portos, capelas e 18 reduções onde hoje é o Rio Grande do Sul

Mapa localiza ervais, estâncias, vacarias, postos, portos, capelas e 18 reduções onde hoje é o Rio Grande do Sul


JOHN OGILBY, 1671/REPRODUÇÃO/JC
Ao longo do período colonial, as coroas ibéricas disputaram domínio sobre o território da América Meridional. Em meio a guerras e tratados, escravizaram e exterminaram povos nativos. Porém, entre os séculos XVI e XVIII, parte da população Guarani e de outras etnias aliou-se a padres jesuítas que aqui cumpriam missões cristãs. "Foi uma invenção humana em que se uniu o modo de vida indígena com a complexidade de alguns organismos do estado moderno", resume Tau Golin.
Organizaram-se no espaço a partir de unidades, como se fossem municípios. As chamadas reduções reuniam aldeias e estâncias, congregando áreas urbana e rural, em torno de uma igreja, sob coordenação dos caciques. Cada cacicado trabalhava em dois setores: para o público e para a família.
Artur Barcelos, coordenador do curso de arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande, acredita que "foi uma cooptação política muito bem feita ao longo de 150 anos, com dois padres no meio de milhares de indígenas em cada redução". Entre perdas e ganhos, a população cresceu. "O idioma guarani está vivo até hoje, em parte, por causa das Missões", assegura.
Barcelos acredita que o chamado espaço missioneiro é um mito historiográfico, fortalecido após a criação do Mercosul, que pregava a integração regional. Alguns mapas definem uma mancha de um território entre Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, inspirados no cartógrafo jesuíta José Cardiel. "Ele marcou uma linha pontilhada e escreveu Límite de los guaraníes, como se aquilo fosse o território dos 30 povos", diz. Mas o desenho apenas mostrava uma projeção sobre a área onde estavam as estâncias, os ervais, os núcleos urbanos. "É um equívoco olhar apenas pro território de uma ruína. Era muito maior. E os mapas dos indígenas mostram isso", conclui.
Esse olhar focado nas reduções também negligencia o Uruguai na história missioneira. O nome do país é de raiz guarani, assim como o dos departamentos de Paysandu e Tacuarembó. De acordo com o pesquisador Daniel Cortazzo, "foram os guaranis os primeiros que percorreram este solo e tinham que nomear lugares para suas andanças". Mas a historiografia oficial tende a ignorar marcos importantes, como o estabelecimento de estâncias jesuíticas naquela região. Cortazzo é autor do livro El origen misionero de los primeros pobladores de Rivera-Livramento (2020) e participa de ações que visam reconhecer as rotas missioneiras no norte uruguaio.
 

Entre o arco e o cesto

A história da sexualidade nas Missões vinha sendo contada como se os indígenas vivessem de modo isonômico aos ocidentais. Contudo, hoje se entende que, para eles, os papéis sexuais e de gênero não se dão pelos órgãos biológicos, mas pelo lugar que se ocupa. O historiador Jean Baptista, da Universidade Federal de Goiás, critica os estudos que tratam o mundo das Missões como se fossem uma casa burguesa: "os homens caçam, tem mais de uma mulher, e as mulheres cuidam das crianças e vivem no mundo doméstico".
Segundo Baptista, a diversidade sexual era plena nos povos que os jesuítas aqui encontraram, mesmo que houvesse tabus. Por isso, lamenta que as pessoas queer tenham sido alijadas da história, como se não tivessem feito parte. "Sempre estivemos por lá, esses sujeitos entre o arco e o cesto", afirma.
O historiador tem origem indígena e somente após décadas na academia sentiu que poderia estudar a sexualidade. "No pós-doutorado no Canadá, foi a primeira vez na vida que eu me senti cientificamente livre para pesquisar nos termos que eu desejava", relata.
Hoje, mostra que os modelos sexuais ocidentais foram aqui devorados e transformados. "Somos herdeiros de uma evangelização que acentuou os processos de violência e punição de mulheres e de dissidentes da matriz hererossexual, e, ao fazer isso, injetaram nas culturas que não possuíam esse tipo de procedimento em relação aos seus diferentes a noção do espancamento, do aprisionamento, da sujeição, ou daquilo que nós chamamos de abjeção de sujeitos", afirma. A utilização do termo "machorra", por exemplo, comparava a mulher à vaca improdutiva, em uma dinâmica de bestialização.
Controverso é saber que a política de expurgo e punição dos sujeitos que não obedeciam as categorias de gênero e sexualidade que os jesuítas pregavam eram executadas pelos próprios indígenas. "Punir as lesbiandades e homossexualidades eram sinal de que tu havia se tornado cristão, que tu era um súdito do rei", diz.
Mas Baptista ressalta que todo esse esforço de construir igrejas e assumir esses lugares não adiantou, pois acabaram expulsos das terras e perderam o que construíram por quatro gerações. "O projeto colonial antes de tudo é racista, jamais um indígena iria conseguir ingresso", conclui.

Diálogo para mudar essa história

Ariel Kuaray Ortega vive na aldeia Alvorecer, a 30 quilômetros de São Miguel, junto a aproximadamente 30 famílias Mbyá-Guarani, onde a principal renda vem do artesanato

Ariel Kuaray Ortega vive na aldeia Alvorecer, a 30 quilômetros de São Miguel, junto a aproximadamente 30 famílias Mbyá-Guarani, onde a principal renda vem do artesanato


ARIEL KUARAY ORTEGA/ARQUIVO PESSOAL/JC
"Hoje a gente tem a oportunidade de mudar a nossa história, que os nossos antepassados não tiveram". Essa afirmação é do cineasta e pesquisador Ariel Kuaray Ortega. Em sua percepção, sempre houve conflito, nunca houve oportunidade de dialogar com juruá (não-indígena). Mas, atualmente, acredita que há novos meios para se contar a história e diminuir o preconceito aos povos tradicionais. Para ele, o principal é o cinema. É autor de seis filmes. Entre eles, o premiado Duas aldeias, uma caminhada, de 2008.
Como você conta a história das Missões?
Pra gente a história talvez funcione de uma forma diferente. Vamos descobrindo cada vez mais. Essa história da redução, o que nossos antepassados viam, eu ainda não tenho resposta, porque ainda estou pesquisando. Não posso dizer: foi desta forma. Eu não digo como o juruá: foi assim e pronto. Do ponto de vista dos mais velhos, têm várias versões.
Por exemplo?
A que eu escutei do meu avô. Para ele, a casa de pedra era um lugar triste. Ele falava que não significava nada, porque não foi uma ideia dos nossos antepassados, porque a nossa igreja é de outra forma. E foi imposta pelos brancos, os padres jesuítas. Ele via desta forma, que foram forçados a construir essa igreja. Meu avô falava que nós éramos descendentes daqueles que fugiram das Missões. Eram chamados de guaranis infiéis, aqueles que não aceitavam o deus cristão.
E para os outros?
Depois eu conversava com outros velhos, que eram descendentes dos que estiveram aqui na redução, e acreditavam que o filho de Tupã era Jesus Cristo. Para eles, esse lugar era sagrado, significava muito, porque era como um sinal que era deixado pra gente, pra que continuasse a nossa luta. Por mais que não fosse do nosso jeito, foram incorporando. Era um jeito diferente de alcançar a Terra Sem Males.
No que você acredita?
As duas coisas não estão erradas. Tinha que ser desta forma. Tudo que acontece não acontece por acaso. Se chegaram colonizadores aqui, não chegaram por acaso. Em algum momento tinha que juntar a nossa cultura com a cultura ocidental. Os povos originários já sabiam antes. Contavam histórias que iam chegar os brancos, para aprender um com o outro. Mas os europeus chegaram com muita violência.
E nas reduções?
Os padres jesuítas vieram com uma missão de catequizar, mas viram outra coisa. Nossos antepassados já tinham conhecimento muito avançado da cosmologia, da agricultura, da política. Eles perceberam que tinham que aprender com os Guarani. Aqui se tentou, mas a maior parte do contato não aconteceu dessa forma. Sempre o Ocidente queria nos ensinar, nos chamavam de selvagens e eles eram os civilizados.
Como é o conhecimento sobre a erva-mate?
É uma planta sagrada. Usa muito no ritual, de madrugada, depois da dança. Quando para pra descansar, limpar o corpo e a mente, se recuperar do transe, toma um mate. Também é muito importante no ritual de nomeação. Tem que amarrar uns galhinhos de folha de erva-mate para representar o corpo do meu filho pra divindade.
Vocês cultivam erva-mate da forma tradicional?
Tem em algumas aldeias, mas todo o clima tá ruim. Antes crescia na mata naturalmente e hoje, por causa do desmatamento, dificilmente. Aqui na região de São Miguel, sobraram pouquíssimas matas e a erva-mate não suporta o calor intenso.

* João Vicente Ribas é jornalista, professor na Universidade de Passo Fundo e apresentador do programa 'Canciones para despertar en Latinoamérica', na Rádio UPF.