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reportagem cultural

- Publicada em 04 de Novembro de 2021 às 20:27

O humor e o legado do Barão de Itararé, 50 anos depois da sua morte

Em 27 de novembro, completam-se 50 anos da morte do jornalista gaúcho Apparício Torelly

Em 27 de novembro, completam-se 50 anos da morte do jornalista gaúcho Apparício Torelly


SCHROEDER/DIVULGAÇÃO/JC
Ele foi um gênio do humor gráfico, um frasista inigualável, um jornalista combativo e, acima de tudo, um personagem importante da história do País entre os anos 1920 e 1970. Fernando Apparício de Brinkerhoff Torelly, nascido a 29 de janeiro de 1895 em algum lugar do Rio Grande do Sul a caminho do Uruguai, foi ainda amigo do compositor Villa-Lobos e do pintor Cândido Portinari, sócio do magnata da mídia Assis Chateaubriand, atuou como cupido no casamento dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, elegeu-se vereador pelo Partido Comunista, criticou com humor e deboche a ditadura de Getúlio Vargas, foi espancado por militares e preso juntamente com o escritor Graciliano Ramos.
Ele foi um gênio do humor gráfico, um frasista inigualável, um jornalista combativo e, acima de tudo, um personagem importante da história do País entre os anos 1920 e 1970. Fernando Apparício de Brinkerhoff Torelly, nascido a 29 de janeiro de 1895 em algum lugar do Rio Grande do Sul a caminho do Uruguai, foi ainda amigo do compositor Villa-Lobos e do pintor Cândido Portinari, sócio do magnata da mídia Assis Chateaubriand, atuou como cupido no casamento dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, elegeu-se vereador pelo Partido Comunista, criticou com humor e deboche a ditadura de Getúlio Vargas, foi espancado por militares e preso juntamente com o escritor Graciliano Ramos.
E, em meio a tudo isso, fez o Brasil rir com manchetes, legendas, ilustrações e textos engraçados em diversas publicações da primeira metade do século XX, época em que os jornais impressos predominavam na comunicação.
Antes de se tornar Barão de Itararé, título de nobreza auto-outorgado por simulada bravura numa batalha que não ocorreu, o sarcástico rio-grandense percorreu uma trajetória curiosa e acidentada. Segundo seu próprio relato, teria nascido no percurso de uma viagem quando a roda da diligência quebrou. Antes de completar dois anos, sua mãe suicidou-se. Foi criado pelas tias uruguaias e acabou a infância num internato de São Leopoldo. Começou a estudar Química e Farmácia, e depois Medicina, mas abandonou a faculdade após sofrer um ataque de hemiplegia (alteração neurológica que paralisa um dos lados do corpo). Aí passou a dedicar-se inteiramente ao jornalismo, experiência iniciada no internato onde editou um pasquim chamado Capim Seco. Já em Porto Alegre, colaborou com Última Hora, Kodak, A Máscara e dois semanários criados por ele: O Chico e O Maneca. Também publicou poesias e inaugurou o estilo satírico que o levou a destacar-se também em Bagé e São Gabriel, onde dirigiu jornais, tornou-se conferencista e casou-se com Alzira Alves - ele com 26 e ela com 17 anos. Tiveram três filhos e o casamento terminou em desquite litigioso.
Até o final da vida, Aporelly (como se assinava inicialmente) ainda passaria por outros três casamentos, todos complicados. Perdeu uma filha do primeiro casamento e teve mais um filho do terceiro.
Porém, na vida profissional, Apparício Torelly alcançou sucesso, fama e um lugar de honra na galeria dos grandes humoristas brasileiros. Depois de trabalhar nos jornais A Reação, de São Gabriel, e Diário do Comércio, de Bagé, foi para o Rio de Janeiro em 1925 e conquistou a então Capital Federal. Começou no jornal O Globo e logo em seguida assumiu a direção de Última Hora e A Manhã. Então resolveu lançar seu próprio jornal, A Manha (paródia do diário dirigido por Mário Rodrigues, pai do escritor Nelson Rodrigues) e promoveu uma verdadeira revolução no jornalismo, acrescentando novos elementos à informação: ilustrações criativas, crítica política, deboche, trocadilhos e muito humor. Já como Barão de Itararé, temido e respeitado pelos poderosos, alcançou imensa popularidade. Seu humor ferino, dirigido contra os poderosos e conservadores, caiu no agrado das camadas mais sofridas da sociedade.
A Manha foi um tabloide de circulação nacional publicado entre 1926 e 1935 com algumas interrupções, mas tornou-se uma referência da vida política do País. Num dos intervalos da publicação, o Barão publicou por apenas 10 dias o Jornal do Povo, relatando o célebre episódio do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, que ficaria conhecido como Almirante Negro. Em consequência, o Barão foi sequestrado e espancado por oficiais da Marinha, episódio que resultou na reabertura do jornal A Manha e no cartaz irônico afixado à porta da sala do diretor: "Entre sem bater". Em dezembro de 1935, Torelly foi preso por ser militante e fundador da Aliança Nacional Libertadora, responsável pela chamada "intentona comunista". É aí que partilha a prisão com o escritor Graciliano Ramos que, inclusive, registra episódios do Barão no seu célebre livro Memórias do cárcere.
Apparício Torelly, gaúcho e precursor do jornalismo crítico, humorístico e anárquico, morreu sozinho em casa aos 76 anos, no dia 27 de novembro de 1971. Para lembrar sua vida, sua obra e, especialmente, seu talento, a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) convidou 50 jornalistas do Estado para uma entrevista coletiva póstuma, com perguntas atuais para as sentenças eternas deixadas pelo Barão. 

Humor fulminante e eterno de Apparício Torelly

Despedida do jornalista conhecido como Barão de Itararé completa cinco décadas no próximo dia 27

Despedida do jornalista conhecido como Barão de Itararé completa cinco décadas no próximo dia 27


SCHROEDER/DIVULGAÇÃO/JC
Nesta entrevista simulada feita cinco décadas após a sua morte no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, o jornalista gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly – mais conhecido como Barão de Itararé – mostra por que seu estilo jornalístico baseado no humor e na irreverência conquistou o público brasileiro.
Idealizada pela diretoria da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), a coletiva póstuma com o Barão – precursor do jornalismo humorístico no País – consistiu em formular perguntas para algumas das incontáveis frases espirituosas que ele deixou escritas nos periódicos onde atuou e também nos seus famosos Almanhaques – os almanaques do jornal A Manha, de sua propriedade.
As questões a seguir foram elaboradas por 50 jornalistas gaúchos ou atuantes na imprensa local, com predominância de associados da ARI.
José Nunes, presidente da ARI - Barão, obrigado por interromper o seu descanso eterno para nos atender. Vamos começar esclarecendo uma dúvida sobre sua origem. Onde mesmo o senhor nasceu?
Barão de Itararé - Minha mãe queria ter o parto na fazenda do meu avô. Meus pais tomaram um dos navios de Augusto Leiva (o Juncal ou o Mirim) e foram a Jaguarão. Dali, em balsa, passaram para Artigas (Villa Artigas, antigo nome da cidade uruguaia de Rio Branco) e de Artigas até a fazenda do meu avô viajaram de diligência. No meio do caminho, uma das rodas da diligência se partiu e houve um tremendo choque. Minha mãe levou um susto e eu vim ver, de curioso, o que é que estava acontecendo. Tive sorte. Perto, havia um rancho com uma parteira, que também era cartomante. Ajudou no parto e de lambuja tirou a sorte e fez profecias. Mas não lembro de nada.
Nilson Souza, conselheiro da ARI e colunista de Zero Hora - O senhor adotou o título de Barão por ser mais considerado do que o de jornalista?
Barão - Como sempre me senti bem entre a nobreza, porque sou um nobre, decidi que seria barão. Afinal, essa é uma vaidade que temos de respeitar. Sei que houve muitas dúvidas sobre o título que me conferi. Constava até que, na praça, havia muitos barões que nem eram sérios. Durante a monarquia, tinha um ditado: se roubas pouco, és ladrão; se roubas muito, és barão.
Ayres Cerutti, editor da revista Programa e diretor da ARI - Mas, Barão, por que barão?
Barão - Já tive outros pseudônimos e títulos, inclusive o de Brigadeiro do Ar-condicionado. E outros títulos protestados na praça, que não convém lembrar, por modéstia.
Glei Soares, assessor de Imprensa da Câmara Municipal de Porto Alegre - Afinal, quantos anos você tem?
Barão - Não conto mais anos; desconto.
Olenca Kampf, conselheira da ARI - A gente trabalha para viver, ou vive para trabalhar?
Barão - Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer.
Márcio Pinheiro, escritor e produtor cultural - Você aceitaria que colocassem teu nome no expediente de um jornal?
Barão - Jornal sério não vive de expediente.
Cristiano Vieira, editor de Economia do Jornal do Comércio - O que o senhor diria hoje para os jovens jornalistas que estão começando na carreira?
Barão - Ninguém consegue nada na vida sem dois defeitos: a curiosidade e a insatisfação.
Clóvis Malta, autônomo - Barão, como é que continuam surgindo tantos humoristas no Brasil e onde está a graça diante de tanta desgraça?
Barão - Todo mundo é humorista, mesmo sem saber. Fui classificado assim, mas contra a vontade. O humorismo não tem graça.
Diogo Olivier, colunista de Zero Hora - Qual a sua opinião sobre a proliferação desenfreada de reality shows na televisão?
Barão - A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Ana Cássia Hennrich, apresentadora da BandNews FM/POA - Qual a diferença entre um sábio e um ignorante?
Barão - Sábio é o homem que chega a ter consciência de sua ignorância.
Adriana Androvandi, repórter do Correio do Povo - Qual o legado que o senhor espera levar da vida?
Barão - O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
Cezar Freitas, diretor de TV - Barão, cada vez mais passamos a vida correndo atrás do tempo perdido. Na sua sábia visão, quando vamos alcançá-lo? O quanto temos que correr, sem tropeçar, para ter alguma chance?
Barão - O tempo e o trem não esperam por ninguém.
Leandro Olegário, coordenador do Curso de Jornalismo da ESPM - É possível mudar de caminho ao longo da vida?
Barão - Quem não muda de caminho é trem.
Luiz Otávio Prates, secretário de Comunicação de Porto Alegre - Ouvi dizer que a causa número 1 do divórcio é o próprio casamento. A tragédia começa antes ou depois do matrimônio?
Barão - O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
Flávio Dutra, conselheiro da ARI - Concordas com a tese do saudoso Vinicius de Moraes que o uísque é o cão engarrafado, ou seja, o melhor amigo do homem?
Barão - O uísque é uma cachaça metida a besta.
Auber Lopes de Almeida, escritor e poeta - O senhor tem problemas hepáticos e só pode tomar uma taça por dia, mas já teria esgotado sua cota por 30 anos. É verdade?
Barão - O fígado faz muito mal à bebida.
Thamara Costa Pereira, superintendente da ARI - As pessoas sofrem para mudar de ideia. É muito difícil para ti mudar de opinião?
Barão - Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
Fernando Albrecht, colunista do Jornal do Comércio - O que o senhor acha dos adolescentes de hoje?
Barão - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que ficará tão cretino como o pai.
Eugênio Bortolon, chefe de Redação do Correio do Povo - Barão, um minuto é muito tempo ou pouco tempo para se fazer alguma coisa?
Barão - Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
Tatiana Gomes, diretora da ARI - Senhor Barão de Itararé, com tantas preocupações que surgiram na pandemia, como podemos cuidar da nossa saúde mental?
Barão - Mantenha a cabeça fria se quiser ideias frescas.
Laura Glüer, professora e empreendedora - Barão de Itararé, como o senhor avalia a crise institucional brasileira hoje?
Barão - Há algo no ar além dos aviões de carreira.
Rosane Tremea, colunista de ZH - De onde vem nossa eterna dívida? E como chegamos a esse estado de coisas?
Barão - O Brasil foi descoberto, por acaso, em 1500, e ficou sendo colônia de Portugal até 1822, mas não por acaso. Nesse ano, um príncipe português proclamou a independência do Brasil e o país, desde então, passou a fazer dívidas por conta própria, ficando cada vez mais dependente de seus credores. Em 1889 foi proclamada a República, a qual foi passando por muitos estados de evolução, entre os quais podemos citar o estado de sítio, o estado de emergência, o estado de guerra, o Estado Novo, que culminou, afinal, no estado a que chegamos (com grande número de militares no poder). O Brasil é uma República generalizada.
Marta Sfredo, colunista de Economia de GZH - Aporelly, há uma discussão sobre o papel dos bancos diante do avanço das fintechs e das criptomoedas. Afinal, para que serve um banco?
Barão - O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
Luiz Artur Ferraretto, professor da Fabico/Ufrgs - O senhor já foi plebeu, já foi duque e é barão, mas teve lá seus flertes com o Partido Comunista sem nunca ver uma barrinha do ouro de Moscou. O que o senhor acha, então, daquele símbolo máximo do capitalismo - o pão-duro -, sujeito que gosta tanto de dinheiro ao ponto de nunca se separar nem de um mísero dos seus vinténs?
Barão - O avarento não é dono do dinheiro. O dinheiro é que é dono do avarento.
Rosane de Oliveira, colunista e apresentadora de GZH - É verdade que todo homem tem seu preço?
Barão - Todo homem que se vende recebe muito mais do que vale.
Mário Rocha, professor da Fabico/Ufrgs - Não lhe parece que o excesso de partidos faz da política no Brasil uma maçaroca de fios impossível de desenlear?
Barão - O Brasil é feito por nós. Está na hora de desatar esses nós.
Cláudia Coutinho, diretora da ARI - O que o senhor pensa dos políticos que costumam fazer promessas durante as campanhas eleitorais?
Barão - A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
Eliane Silveira, diretora do Sindijors - Caro Barão, hoje, no Brasil, opera um chamado Gabinete do Ódio, encarregado de espalhar fake news nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Qual sua opinião a respeito?
Barão - A maior força do universo é a força do nosso pensamento, mas os homens estão dominados pelo ódio, que é a pior arma de destruição. O homem que constrói armas de destruição não constrói nada. Está buscando a própria ruína.
Wilson Romero, diretor da ARI e ABI - Nestes tempos de radicalização política, um lado acusa o outro, entre outras coisas, de negociatas. Qual a razão disso?
Barão - Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
Ricardo Azeredo, assessor de imprensa - Barão, dizem que, assim na vida como na política, é preciso dançar conforme a música. O senhor concorda?
Barão - A dança é uma arte que consiste em tirar depressa o pé antes que o outro ponha o seu em cima.
Gustavo Victorino, comentarista da Rede Pampa - Barão, por que os governos logo desistem de projetos sociais que encontram resistência na opinião pública ou na classe política? Falta convicção e persistência?
Barão - O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta.
José Antonio Anonymus Gourmet Gomes Pinheiro Machado, apresentador do SBT - Existe uma nova geração de políticos, dos quais pouco se espera, mas acho que vão nos surpreender favoravelmente. O que lhe parece?
Barão - De onde menos se espera, daí é que não sai nada!
Antônio Goulart, diretor e conselheiro da ARI - Barão, o senhor acha que o nosso país está bem governado?
Barão - Se há um idiota no poder, é porque os que o elegeram estão bem representados.
Flávio Pereira, colunista de O Sul - Barão, acredita na lógica positivista de que os vivos serão cada vez mais, governados pelos mortos?
Barão - Os vivos são e serão sempre, cada vez mais, governados pelos mais vivos.
Fraga, humorista - Barão, você é um trocadilhista memorável, daqueles que irritam os mal-humorados. Se os truculentos bolsonaristas apreciassem ironia, qual trocadilho você dedicaria às milícias?
Barão - Entre sem bater.
Batista Filho, presidente do Conselho Deliberativo da ARI - Confiar em políticos é certo ou cabe desconfiar?
Barão - A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam neles.
David Coimbra, colunista de GZH - O que o senhor espera da eleição de 2022?
Barão - O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Antonio Czamanski, apresentador da TV Assembleia - Existe um movimento que cresce neste início de século XXI: o terraplanismo. Segundo pesquisas, a crença de que a terra é plana, contrariando Galileu, já é compartilhada por milhões de pessoas. O que o Barão de Itararé diria disso?
Barão - Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
Mário Marcos de Souza, blog do Mário Marcos - Alguns dizem que para ter paz é preciso se preparar para a guerra. Há algum sentido nisso?
Barão - A guerra é uma coisa tão absurda e incompreensível que, quando se registra um combate de amplas proporções, até as baixas são altas.
Flávio Tavares, escritor e professor aposentado da UnB - As guerras e as dificuldades da própria vida geram verdadeiros heróis no dia a dia. Acha que eles podem ser classificados em alguma ordem?
Barão - Por enquanto, devemos contentar-nos em aceitar, até segunda ordem, a classificação clássica dos heróis, que os divide em duas ordens: a dos heróis que a pátria chora porque morreram, e a dos heróis que a pátria chora porque não morreram.
Núbia Silveira, conselheira da ARI - O escritor angolano José Eduardo Agualusa lembra o poeta português Fernando Pessoa em sua coluna de 11/09/2021, em O Globo. Diz que em O Livro do Desassossego, Pessoa, de muitas formas, insiste em que devemos viver por dentro, que o nosso "interior é mais vasto que o universo". O senhor acredita que nós, humanos, temos interior suficiente para mudar o mundo?
Barão - O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
Ivo Stigger, crítico de cinema - Entre os instrumentos de corda - piano, harpa, violino, violoncelo, etc. - existe algum do qual o senhor não gosta?
Barão - A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
Flávio Porcello, professor da Ufrgs - Por que torcedores de futebol chegam a chorar pelos seus times?
Barão - A lágrima é o suor do coração.
Luiz Adolfo Lino de Souza, vice-presidente do Conselho Deliberativo da ARI e professor da Famecos - Estamos desesperançados, desanimados e desempregados hoje em dia. Sabemos que as grandes conquistas dependem de fé e muita força vontade. Como podemos fazer para transformar um sonho em realidade, encontrar um novo caminho, seja no emocional ou no profissional, como diria aquele apresentador de TV?
Barão - Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure outra.
Santiago, chargista e cartunista - Barão, todo mundo sabe que tu perdes o amigo, mas não perdes a piada!!! Lembras quando tu encontraste aquela tua amiga feinha na rua e perguntastes de onde ela vinha - a dama disse que vinha do salão de beleza, logo tu sapecaste: "Então encontraste fechado?". Pois te conto, nesta nossa conversa por psicografia, que aqui no mundo dos vivos e dos muito vivos inventaram uma palavra nova chamada bullying. Assim, pergunto: senso de humor é tudo menos bondade pura?
Barão - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
Catia Bandeira, diretora de Comunicação da CORE - Qual seria um exemplo de autoindulgência associada a uma espécie de eufemismo criminoso dos governos?
Barão - A anistia é um ato pelo qual os governos resolvem perdoar generosamente as injustiças e os crimes que eles mesmos cometeram.
Jurema Josefa, vice-presidente da ARI e editora do Blog JuremaJosefa, Turismo e Viagens - Barão, em sua biografia consta que estudou Medicina e por pouco não conseguiu se formar. Mas teria comprado até o anel do médico, aquele com duas cabeças de cobra. O que esse anel, quase macabro, significa?
Barão - As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra; e se mata, cobra.
Cristiane Finger, conselheira da ARI, professora da Famecos/Pucrs - Dizem que o senhor apresentou o escritor Jorge Amado para a escritora Zélia Gattai. O senhor mesmo foi casado quatro vezes. O que é mais romântico e/ou sedutor: o humor, o talento, o título de Barão ou a beleza?
Barão - Quem ama o feio é porque o bonito não aparece.
Jaime Cimenti, colunista de Literatura do Jornal do Comércio - O senhor acha que sapatos vermelhos não produzem calos, diante do caráter socialista e igualitário da cor?
Barão - Os calos podem ser produzidos por sapatos de qualquer cor.
Cláudio Brito, colunista, apresentador e comentarista do Grupo Sinos - Diz aí, Barão, sobre a vida. Às vezes, me sinto perdido ou cansado, sem ver uma saída. O que fazer nessas horas de tanto desencanto? Como sair dessas enrascadas do cotidiano?
Barão - Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta.

Fontes de consulta

  • Máximas e Mínimas do Barão de Itararé (Coedição MPM Propaganda/Editora Record)
  • Barão de Itararé, de Ernani Ssó (Tchê/RBS)
  • Entre sem bater, Cláudio Figueiredo (Casa da Palavra)
  • Revista Manchete, O humorismo não é engraçado, por Carlos Heitor Cony
  • Coleção de A Manha e Almanhaques, da Hemeroteca Digital Brasileira, da Fundação Biblioteca Nacional
  • Revista Consciência (Agosto/2010)
     

A batalha de Itararé

A autoconcessão do título de Barão de Itararé é considerada por seu biógrafo Cláudio Figueiredo (autor de Entre sem bater, Casa da Palavra) a ideia mais brilhante de carreira do humorista gaúcho. Apparício Torelly inspirou-se na célebre batalha que não houve, como ficou conhecido o anunciado confronto entre as tropas da Aliança Liberal de Getúlio Vargas e a guarda governista do presidente Washington Luís, na cidade paulista de Itararé, em outubro de 1930. Na última hora, houve um acordo político e o confronto foi suspenso.