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reportagem cultural

- Publicada em 02 de Setembro de 2021 às 21:39

Muito além da política, Fogaça é autor de músicas como 'Vento negro' e 'Semeadura'

Aos 74 anos, José Fogaça segue compondo e revela uma música inédita

Aos 74 anos, José Fogaça segue compondo e revela uma música inédita


ANDRESSA PUFAL/JC
José Fogaça nem precisaria ter sido prefeito reeleito - e também deputado estadual e federal e duas vezes senador - para estar presente na história de Porto Alegre. Seu nome já estava inscrito há muitos anos.
José Fogaça nem precisaria ter sido prefeito reeleito - e também deputado estadual e federal e duas vezes senador - para estar presente na história de Porto Alegre. Seu nome já estava inscrito há muitos anos.
A primeira vez foi no começo da década de 1980, quando recebeu uma homenagem dos amigos e parceiros Kleiton e Kledir com um dos versos de Deu pra ti, aquele que fala em "Saudades da Redenção/ Do Fogaça e do Falcão". Depois foi quando o próprio Fogaça compôs, para a mulher Isabela cantar, o que, com o passar dos anos, se tornaria quase um hino não-oficial da cidade: Porto Alegre é demais. Só estas duas participações já seriam suficientes para colocar seu nome em qualquer parada musical de e sobre a cidade.
Mas, ainda assim, ele também emplacaria outra composição que merece fazer parte deste rol: Vento negro. Composta há cinco décadas, com o próprio Fogaça sendo o responsável pela música e pela letra, a canção, ao longo do tempo, se inseriu no imaginário popular, sintetizando uma fase interessante da capital gaúcha, que atravessava um período de tantas transformações.
Era a Porto Alegre da Difusora e da TV Gaúcha, do PortoVisão (programa que Fogaça foi um dos criadores) e do Jornal do Almoço, das Folhas (da Manhã e da Tarde) e do Coojornal, dos cursinhos Mauá e IPV (também com Fogaça entre seus professores, lecionando português) e ainda da Rádio Continental.
Aqui nesta reportagem quase nada se falará da atuação política de José Fogaça. A atividade político-eleitoral que lhe toma tempo quase integral desde 1978 - mesmo quando ele esteve sem mandatos - passará ao largo. O foco aqui é o Fogaça integrado à paisagem cultural da cidade onde nasceu, em janeiro de 1947. Uma cidade que ele tão bem conhece e a quem ele deu uma contribuição cultural tão relevante.
Filho de um farmacêutico e de uma dona de casa, José Alberto Fogaça de Medeiros foi criado no bairro Petrópolis, estudou no Colégio Rosário, formou-se em Direito e deixou sua marca em cursinhos pré-vestibulares, emissoras de rádio e TV, festivais de música, editoras e livrarias. Foi um dos mais ativos e bem-sucedidos representantes de sua geração - Uma geração amordaçada (Movimento, 1978), como definiu em um livro de sua autoria - e desde então nunca deixou de ser um protagonista de seu tempo.
Hoje, casado pela segunda vez com Isabela, Fogaça mora com a mulher numa casa no bairro Três Figueiras. Foi lá que eles receberam a reportagem numa fria tarde de inverno para um longo encontro de conversas e reminiscências.
Os quatro filhos - dois de cada casamento - estão distantes. Gustavo e Carmela, os mais velhos, moram, respectivamente, em Brasília e em São Paulo. Martin e Francesca, os mais novos, vivem na Europa. A distância é agravada pelos tempos pandêmicos que vivemos, impedindo que a família tenha maiores contatos.
Fogaça compensa o isolamento lendo, escrevendo, comunicando-se pelas redes e compondo muito, retomando um processo criativo mais intenso que há algum tempo estava abandonado. Agora, aos 74 anos, vacinado e recolhido, com a sensibilidade do homem público, Fogaça sabe que os tempos atuais são difíceis - mas não incontornáveis. Afinal, como ele ensinou em Semeadura, sua parceria com Vitor Ramil, "nós vamos prosseguir, companheiro, medo não há".

Onde a terra começar

Trajetória musical começou em festivais quando era estudante; José Fogaça ainda compõe e se diverte com a arte

Trajetória musical começou em festivais quando era estudante; José Fogaça ainda compõe e se diverte com a arte


/ANDRESSA PUFAL/JC
Enquanto se preparava para tentar o vestibular de Direito e secretariava o Grêmio Estudantil do Colégio Rosário, o ainda adolescente José Fogaça começava a demonstrar seus primeiros interesses culturais. Na Porto Alegre do período pós-Campanha da Legalidade e pré-Golpe de 1964, o jovem aluno, na faixa dos 15, 16 anos, passava a se interessar pela leitura, tanto dos romances de Jorge Amado e Erico Verissimo, mas principalmente pelas crônicas de Fernando Sabino e Rubem Braga. Sua primeira obra como compositor seria apresentada poucos anos depois.
Em 1968, já no efervescente (e perigoso) período pré-AI-5, Fogaça concorreria com Gaudério, no Festival da Arquitetura. O ano marcaria também o início da aproximação do então já professor do IPV (Instituto Pré-Vestibular) com os irmãos pelotenses Kleiton e Kledir. Como lembrou Kledir anos depois, em depoimento ao jornalista Lucio Haeser para o livro Continental - A Rádio Rebelde de Roberto Marinho, "O Fogaça tinha uma turma, a gente tinha outra e, na verdade, fundimos as duas turmas em uma só".
Essa fusão seria enriquecedora para todos. As turmas passaram a interagir, amizades e parcerias foram se sedimentando, novas ideias foram sendo emplacadas. "O Fogaça é como um irmão. Nossa amizade começou nos anos 1970, quando tínhamos um grupo enorme de amigos, ligados pela música, de onde surgiu o grupo Almôndegas. Ele já era conhecido em Porto Alegre por ser professor do badalado cursinho pré-vestibular IPV. Nossa relação começou nos festivais de músicas como 'rivais'", conta Kleiton.
Porto Alegre vivia o boom do surgimento de uma música urbana, vendo aparecer nomes como, além dos já citados, Geraldo Flach, Jerônimo Jardim, Giba-Giba, Toneco, Hermes Aquino, Pery Ribeiro, Raul Ellwanger e, logo depois, Bebeto Alves e Nelson Coelho de Castro, e ainda uma profusão de teatros, bares, casas de shows e festivais. Era uma geração que poderia se reconhecer em exemplos semelhantes que brotavam por todo o País, como o Clube da Esquina, em Minas Gerais; os Novos Baianos, na Bahia; e o Pessoal do Ceará, com Raimundo Fagner e Belchior, em Fortaleza. Todos eram inquietos, criativos e influenciados pelos grandes festivais nacionais e pelas composições - quase todas engajadas - de Chico Buarque, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Milton Nascimento e Paulinho da Viola. O Brasil atravessava um período de ebulição cultural e Porto Alegre não estava distante disso. Era o caldo perfeito para a revelação de novos talentos. "Eu produzia muito", lembra Fogaça. "Além de estimulado pelo ambiente, eu ainda tinha aquele ímpeto e aquela coragem que só a juventude nos dá."
Um exemplo desta impetuosidade está ligada ao episódio em que na busca por um local para os shows, Fogaça e seus amigos se interessaram até pelo abandonado Theatro São Pedro. O local estava fechado, apresentava uma série de problemas estruturais, mas isso não impediu que o grupo de amigos fosse procurar Dante Barone, então responsável pela administração do lugar, para que o espaço fosse cedido para a realização de uma Mostra de Música Popular, festival sem caráter competitivo, inovador na época.
Como não haveria competição, a ideia é que cada um dos participantes pudesse mostrar sua produção artística. Barone não ficou seduzido pela ideia de emprestar o teatro - como Fogaça lembra, ele pareceu até ter ficado assustado - mas foi vencido pelo cansaço. Tamanha foi a insistência daquele grupo que o administrador acabou cedendo.
Restava agora aos novos "administradores" limpar o local, remendar o piso do palco e as cortinas, dar um jeito nas cadeiras da plateia e isolar as áreas mais perigosas. Deu tudo certo.
Kleiton Ramil lembra que quando Fogaça idealizou a mostra, ele foi convidado para ser seu braço direito: "Percebendo a diversidade de talentos que aparecia nesses encontros, os integrantes da turma se organizaram. Fogaça atuou como apresentador. E como o IPV, onde ele lecionava, era anunciante da Rádio Continental, o evento teve patrocínio conjunto do cursinho e da emissora. Isso garantiu uma preciosa divulgação junto ao público jovem de Porto Alegre".

Quem me ouve vai contar


REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
É Emílio Pacheco, envolvido atualmente em um livro biográfico sobre os irmãos Kleiton e Kledir, quem lembra: "O Centro Acadêmico Santo Tomás de Aquino da Faculdade de Filosofia e Letras da Puc do Rio Grande do Sul promoveu o Musipuc e o festival acabou se consolidando como um importante fomentador da cena musical de Porto Alegre dos anos 1970".
A referência lembrada por ele está ligada a dois dias, 12 e 13, do mês de novembro de 1971, quando representantes das principais turmas musicais da capital gaúcha reuniram-se num mesmo local. Kleiton participou com duas composições: Ruídos e Meu rumo. Kledir com uma: Gargalhadas. Ambos foram derrotados por E Viva Fernando Pessoa, de Fernando Ribeiro, Arnaldo Sisson e Paulinho Buffara, que hoje quase ninguém mais lembra.
A que ficou na memória, a grande "vencedora", foi a canção interpretada pelo cantor Alberto Duarte do conjunto de baile Je Reviens, que ficaria apenas com a quarta colocação. Desconhecida logo após seu lançamento, Vento negro, composição com letra e música de Fogaça, ganharia a posteridade e também serviria para unir para sempre as trajetórias dos irmãos com o professor, futuro parceiro musical.
Vento negro veio de imediato. Fogaça lembra que letra e música surgiram quase que instantaneamente, com ele dedilhando o violão. Depois da participação no festival, a música ganharia nova vida quatro anos mais tarde, quando foi incluída no repertório do disco Almôndegas (Continental), lançado pelo grupo homônimo, além de servir de trilha de abertura do PortoVisão, programa jornalístico e de variedades transmitido pela TV Difusora. "Fogaça me lembra Vento negro. Todos nós entravamos e saíamos do programa cantando esta canção maravilhosa, que ainda por cima carregava um apelo político de democracia e liberdade", recorda a apresentadora Tânia Carvalho.
"Quando a gente se conheceu ele tinha acabado de compor Vento negro, um clássico que fala dos ventos de mudança e, 50 anos depois, continua atual. Descobrimos ali uma sintonia artística que acabou se transformando em uma amizade sólida e duradoura. Viramos parceiros" destaca Kledir. "A canção nos aproximou, tornou-se um hino informal para os gaúchos - com uma letra ainda muito atual e aplaudida em todo país - e que já demonstrava a enorme capacidade dele de escrever letras incríveis e intuir belas melodias", acrescenta Kleiton.
Falando em lutas, bandeiras, terra, guerra e paz, a música trazia todos os elementos que uma composição engajada deveria ter. "A importância de Fogaça como letrista de Almôndegas e Kleiton e Kledir foi a de contribuir com a veia política da obra dos irmãos. A própria Vento negro tem um tema revolucionário, embora apresentado de forma branda e dissimulada", conclui Emílio Pacheco. Fogaça, em consonância com aqueles tempos e em sintonia com os ensinamentos de Ernesto Che Guevara, estava sendo duro sem jamais perder a ternura.

Quem vai embora tem que saber

Fogaça recebeu troféu da Festa Nacional da Música 2012 das mãos de Angela Maria

Fogaça recebeu troféu da Festa Nacional da Música 2012 das mãos de Angela Maria


MÁRCIA ROSI DA ROSA/ACERVO JOSÉ FOGAÇA/DIVULGAÇÃO/JC
Vento negro abriria os horizontes musicais de Fogaça. Surgiriam novas parcerias com Kledir Ramil com Mi triste Santiago, no LP Aqui (Continental/1976), além de Piquete do Caveira e Há um pouco do meu coração em Portugal, no LP Alhos com Bugalhos (Phonogram/1977). "Fogaça é meu amigo, meu irmão, meu parceiro de vida inteira. Nos anos 1970, éramos jovens em Porto Alegre e queríamos mudar o mundo... ou, pelo menos, o Brasil. Desafiamos a censura nos tempos da ditadura, choramos em Mi Triste Santiago, celebramos a Revolução dos Cravos em Portugal e sofremos com a amargura dos brasileiros", explica Kledir. "Muitas vezes discordávamos em algumas ideias, resolvidas à luz de boas conversas. Não lembro de uma briga, de uma discussão grosseira entre nós. Por isso nossa amizade é perene e sempre vai produzir bons frutos".
Emílio Pacheco destaca essa fase mais política da criação musical de Fogaça. "Mi Triste Santiago, por exemplo, veio acompanhada da observação Tributo a Pablo Neruda no título para que os censores não desconfiassem que o verdadeiro homenageado era Salvador Allende. E é curioso que a letra de Há um pouco do meu coração em Portugal não tenha sido vetada, pois a referência à Revolução dos Cravos é evidente. Chico não teve a mesma sorte com Tanto mar". Paralelamente, ele também iria publicar o livro Uma geração amordaçada, uma coletânea de crônicas lançada em 1978, pela Editora Movimento.
Em linhas gerais, essa foi a marca que Fogaça imprimiu às letras dos Almôndegas: a percepção do momento político aliada à contestação. "Fiz muitas músicas com Kleiton, Kledir e Pery Souza. Apenas com o Quico Castro Neves, compositor de Haragana, apesar da amizade, não tive nenhuma parceria. Também viajei muito com o grupo, embora não subisse ao palco. Só tempos mais tarde fiz uma participação no disco em que Semeadura - na qual fiz a letra em cima da música do Vitor - foi gravada por Kleiton e Kledir, mas apenas declamando."
Com a Anistia e a abertura política, o tom se manteria em composições como Viração, gravada pelos irmãos Ramil e pelo MPB-4, que fala que "Nos olhos do povo/ Habita a mesma tristeza/ Porque os braços de ferro/ Nos prendem como represa" ou como explica o parceiro Kledir: "Era preciso insistir na ideia de uma 'brisa ligeira que vai virar viração'". De outra maneira, os dois também se voltavam para temas mais amenos como quando falavam em "Levar a vida à toa/ À beira da lagoa/ Só molhando o pé".
E Fogaça poderia ter se dedicado com mais afinco ao ato de compor? Ele mesmo reflete: "Até o início dos anos 1980, fui um compositor mais ativo, sendo gravado por diversos intérpretes no Brasil e também da Argentina, como Fafá de Belém, Olivia Hime, Nara Leão, MPB-4, Emílio Santiago, Nenhum de Nós, Kleiton e Kledir, Pedro Arnaz e Mercedes Sosa. Mas com a maior intensidade da vida política, a partir de 1980, realmente fui perdendo contato com esse mundo das gravadoras e intérpretes".
Ele garante não se arrepender e diz que a escolha foi uma opção consciente. "Não teria entrado para a política partidária, em plena ditadura militar, se não tivesse o objetivo maior da democracia plena. Isso estava acima de tudo. Era sócio de um curso, entreguei minhas quotas gratuitamente aos meus sócios, de muito bom grado e sem arrependimento também. Porque havia algo maior em jogo."
O intenso envolvimento com a nova atividade cobrou seu preço e a música ficou cada vez mais em segundo plano. "Quando chegaram os anos 2000, eu já tinha perdido quase que totalmente o contato, já havia uma nova geração em cena. Da mesma forma, eu já tinha tanta experiência na política que seria um desperdício jogar fora esse conhecimento. Foi o que muitas pessoas me disseram quando fui candidato a prefeito de Porto Alegre pela primeira vez", recorda. "Assim é a vida: nem sempre as coisas acontecem como previstas, mas sempre somos responsáveis pelas opções de vida."
 


/ARTE/JC
 

Principais composições e parcerias

  • Vento negro
  • Sexto sentido (com Hermes Aquino)
  • Aprendizes da esperança (com Kleiton Ramil)
  • Mulheres do Brasil (com Pery Souza) 
  • Guantanamo (com Hermes Aquino)
  • Vinho amargo (com Kledir Ramil)
  • Viração (com Kledir Ramil)
  • Lagoa dos Patos (com Kledir Ramil)
  • Semeadura (com Vitor Ramil)
  • Estrela Guria (com Pery Souza)
  • Uni Duni Tê (com Kleiton e Kledir Ramil)

Vento negro

"Onde a terra começar
Vento Negro gente eu sou
Onde a terra terminar
Vento negro eu sou
Quem me ouve vai contar
Quero luta, guerra não
Erguer bandeira sem matar
Vento Negro é furacão
A vida o tempo
A trilha o sol
Um vento forte se erguerá
Arrastando o que houver no chão
Vento negro, campo afora
Vai correr
Quem vai embora tem que saber
É viração
Nos montes, vales que venci
Do coração da mata virgem
Meu canto, eu sei, há de se ouvir
Em todo o meu país
Não creio em paz sem divisão
De tanto amor que eu espalhei
Em cada céu em cada chão
Minha alma lá deixei
A vida o tempo
A trilha o sol
Um vento forte se erguerá
Arrastando o que houver no chão
Vento negro, campo afora
Vai correr
Quem vai embora tem que saber
É viração
Quem vai embora tem que saber
É viração"

Porto Alegre é demais

"Porto Alegre é que tem
Um jeito legal
É lá que as gurias etc. e tal
Nas manhãs de domingo
Esperando o Grenal
Passear pelo Brique
Num alto astral
Porto Alegre me faz
Tão sentimental
Porto Alegre me dói
Não diga a ninguém Porto Alegre me tem
Não leve a mal
A saudade é demais
É lá que eu vivo em paz
Quem dera eu pudesse
Ligar o rádio e ouvir
Uma nova canção
Do Kleiton e Kledir
Andar pelos bares
Nas noites de abril
Roubar de repente
Um beijo vadio
Porto Alegre me faz
Tão sentimental
Porto Alegre me dói
Não diga a ninguém Porto Alegre me tem
Não leve a mal
A saudade é demais
É lá que eu vivo em paz
Porto Alegre me dói
Não diga a ninguém
Porto Alegre me tem
Não leve a mal
A saudade é demais
É lá que eu vivo em paz
Porto Alegre é demais"


/ARTE/JC
 

* Márcio Pinheiro é porto-alegrense e jornalista. Trabalhou em diversos veículos da Capital, de São Paulo e do Rio de Janeiro.