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reportagem cultural

- Publicada em 18 de Fevereiro de 2021 às 20:06

Uma década sem Sergio Jockymann, que criou bordão 'Pensem nisso'

Jornalista, dramaturgo e político foi popular com comentários no rádio e na TV entre 1960 e 1980

Jornalista, dramaturgo e político foi popular com comentários no rádio e na TV entre 1960 e 1980


Acervo Simone Jockymann/DIVULGAÇÃO/JC
Parido a fórceps, Sergio Jockymann nasceu quase cego do olho esquerdo. Mas isso não impediu que lesse muito com o direito. Absorvia todos os livros que encontrava na biblioteca de Cruz Alta, a 336 quilômetros de Porto Alegre. Nascera em Palmeira das Missões, distante quase 100 quilômetros, mas foi morar lá depois que o pai ganhou uma farmácia numa partida de pôquer. Certo dia, pegou na biblioteca um exemplar de 1919, de John dos Passos, e levou para casa.
Parido a fórceps, Sergio Jockymann nasceu quase cego do olho esquerdo. Mas isso não impediu que lesse muito com o direito. Absorvia todos os livros que encontrava na biblioteca de Cruz Alta, a 336 quilômetros de Porto Alegre. Nascera em Palmeira das Missões, distante quase 100 quilômetros, mas foi morar lá depois que o pai ganhou uma farmácia numa partida de pôquer. Certo dia, pegou na biblioteca um exemplar de 1919, de John dos Passos, e levou para casa.
O pai, um "alemão grosso", nas palavras do filho, não era muito da leitura, mas conhecia o livro - "pornográfico" - e lhe deu uma surra. Décadas depois, Jockymann ainda se lembraria da reação, que se repetiria com outras leituras.
Durante toda a vida, jamais se submeteria de novo a alguém, mesmo que isso trouxesse consequências. Há uma década, em 16 de fevereiro de 2011, morreu aos 80 anos como viveu: livre, até mesmo de Deus, pois era ateu.
Ainda cedo, conseguiu independência dos pais, com os quais tinha uma relação tumultuada. Começou a trabalhar na imprensa aos 19 anos e só parou em 2006, pouco antes de morrer. Para a história, ficou seu bordão - "Pensem nisso, enquanto lhes digo: até amanhã" - popularizado pelos comentários no rádio e na TV entre as décadas de 1960 e 1980.
Mas sua vida foi mais que uma boa sacada. Teve muitas profissões: jornalista, dramaturgo, escritor e político. Às vezes, foi tudo isso ao mesmo tempo. Trabalhava muito. Em um mesmo dia, falava no rádio e na televisão, escrevia para dois jornais, roteirizava novelas para a TV, escrevia peças. Tudo o que fazia reverberava.
Conseguia dar conta de tantas atividades porque escrevia muito rápido. "Teve uma vez que ele estava jogando pôquer com amigos e se deu conta que precisava escrever um artigo para entregar no dia seguinte. Foi ao gabinete, escreveu em 20 minutos e voltou a jogar", lembra a esposa Simone. A fortaleza de Jockymann era sua casa, localizada no Jardim Isabel, na Zona Sul de Porto Alegre, onde morou entre os anos 1970 e 1990. "Ele não tinha nada. Essa casa foi uma conquista", afirma a filha Luelyn.
Trabalhando de casa - "o precursor do home office", segundo a família - Jockymann saía pouco. Jantar fora ou ir ao cinema era fato raro e festejado pela esposa e filhas. Preferia o seu gabinete, que fora projetado por ele próprio, rodeado pela coisa que mais apreciava depois da família: sua biblioteca pessoal, com 15 mil livros, que ocupavam todas as paredes, do rodapé ao teto. Um deles era seu preferido: Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes.
A trajetória profissional de Jockymann sofreu um engasgo quando o jornalista virou deputado estadual (1991-1994). Não conseguiu a reeleição e ganhou inimizades na política. Esperava encontrar trabalho na imprensa, mas isso também não aconteceu. No fim dos anos 1990, passou a sofrer problemas renais que o acompanhariam até a morte.
Sempre quis viver de frente para o mar. Em 2000, vendeu sua casa em Porto Alegre e foi morar com a esposa e a filha Karel em Garopaba (SC). Voltaria à capital gaúcha apenas uma vez, em meados dos anos 2000, para acompanhar gravações do filme Dias e noites, adaptação para o cinema de seu folhetim Clô Dias e noites. Com o agravamento de seu quadro, passou a viver entre Santa Catarina e Campinas, onde morava a filha Luelyn. O nascimento da neta, Aurora, em 2010, o animou. Aurora "foi o último amor da vida dele", segundo Simone.
Jockymann foi um dos homens mais produtivos de sua época. Deixou cinco livros publicados e outros quatro inéditos, nove novelas para a TV, pelo menos 5 mil crônicas e várias peças de teatro. Casou-se duas vezes e teve seis filhos - quatro no primeiro casamento (Iria, Daphne, Heliane e André) e duas no segundo (Luelyn e Karel). Realizou o sonho de ter seu próprio jornal, o RS.
Faltou alcançar apenas uma ambição. "Ser Deus", diz Simone, aos risos. "O sonho dele era ser Deus". O humorista Renato Pereira, amigo de Jockymann desde os anos 1960, confirma: "Nós, amigos, éramos como os acólitos do sacerdote".
Emocional por natureza, Jockymann despertava paixões nos seus interlocutores. Ou era amado ou era odiado. Talvez por falar - e escrever - muito, alguns o viam como uma pessoa arrogante.
Pagou por isso em determinado ponto da trajetória profissional, mas jamais deixou sua liberdade de lado, até mesmo sob problemas graves de saúde. No fim da vida, demorou a seguir o tratamento para os rins.
Até morrer, não havia falado na morte. Não deixou prescrições para Luelyn, que o acompanhou no momento final, de como deveria ser seu velório ou enterro. Não houve qualquer evento fúnebre.
Sergio Jockymann foi cremado e, cinco anos depois, a neta Aurora jogou suas cinzas ao Guaíba. Porto Alegre finalmente o recebeu de volta.

De repórter a dono de jornal

Sergio Jockymann em sua juventude, nos anos 1950

Sergio Jockymann em sua juventude, nos anos 1950


/ARQUIVO PESSOAL SERGIO JOCKYMANN/DIVULGAÇÃO/JC
Como muitos, Sergio Jockymann começou na imprensa como repórter, encontrando várias histórias inusitadas pelo caminho. "Uma vez chamaram ele em Estância Velha. Um cara dizia ter visto um disco voador com dois extraterrestres dentro. Meu pai chegou lá meio com medo, o cara levou ele no porão e falou assim: 'Tu está vendo eles?'. E ele respondeu: 'Sim, tô'. O cara disse: 'Tu tem certeza que tu tá vendo?' e ele concordou. O cara disse: 'Tu é um mentiroso, eu vou te matar agora porque eles só aparecem para mim'", conta Luelyn.
Na Última Hora, a partir de 1961, passou a assinar uma coluna chamada Boa tarde, Excelência, em que criticava o governador Leonel Brizola. "Um dia o Samuel [Wainer, dono do jornal] me chamou - estava dividido, era muito amigo do Brizola - e me disse: Tenho que te contar a verdade: estão querendo tirar dinheiro do Brizola e estão tentando te usar", relataria Jockymann, que utilizava um pseudônimo, "Gato Preto" - seu animal preferido.
Passaria da crônica política para a policial. Em 1963, o deputado estadual Euclides Kliemann foi assassinado por um opositor enquanto participava de um programa de rádio em Santa Cruz do Sul. No ano anterior, sua esposa, Margit, também fora assassinada sob circunstâncias obscuras.
A proximidade dos episódios provocou comoção e intriga em todo o Estado: as duas mortes teriam relação? Como toda a imprensa, a Última Hora embarcou na cobertura dos casos publicando novidades diárias. Para esquentar o noticiário, surgiu uma nova e misteriosa personagem na narrativa dos jornais: a "dama de vermelho", que estaria envolvida na morte de Margit e cuja existência nunca foi comprovada.
Ao jornalista Celito De Grandi, que publicou Caso Kliemann: a história de uma tragédia (Edunisc, 2010), Jockymann admitiu: "Nós mentimos muito nos jornais, até que um dia eu parei para pensar e vi que o caso todo tinha sido muito importante na minha vida. Passei a ter maior responsabilidade e me arrependo, sinceramente, do que escrevi".
Depois desse episódio, Jockymann colocaria sua criatividade a serviço das crônicas, entre a ironia e a acidez. Ainda voltaria ao Diário de Notícias e passaria por Zero Hora, onde um substituto seu, Luis Fernando Verissimo, começou a chamar a atenção. Pois - era assim que Jockymann começava suas crônicas - passou a escrever para a Folha da Manhã e Folha da Tarde, a partir de 1969.
Quando a Folha da Tarde capengava, em 1981, perdendo circulação e leitores, Jockymann foi convocado pelo diretor do jornal, Walter Galvani, para escrever um folhetim para levantar a publicação.
Clô Dias e noites apresentava Clotilde, uma mulher oprimida pelo marido, situação ainda presente hoje e mais frequente ainda em 1981, de forma que rapidamente se transformou em sucesso. "Vi que a tiragem reagia à medida que a história, inteligente e cheia de suspense, crescia", revelou Galvani no livro Olha a Folha (Sulina, 1995). No ano seguinte, o folhetim seria editado em livro pela L&PM.
Jockymann escreveu para a Folha até o seu fim, em 1984. Após a falência da Caldas Júnior e a venda para o empresário Renato Ribeiro, resolveu criar seu próprio jornal, RS - O Jornal da Semana, que circulou entre 1986 e 1993. Confessou na primeira edição: "Vocês têm nas mãos o mais velho sonho meu. Um sonho antigo e teimoso, que levou 32 anos para se tornar realidade".
Arrevistado, o jornal trazia grandes reportagens e colunistas egressos da Caldas Júnior. Ganhou repercussão na cobertura do assassinato do deputado estadual José Antônio Daudt, em 1988, levantando hipóteses dissonantes da Polícia Civil e dos demais veículos. Jockymann encerrou a carreira escrevendo para o Grupo Sinos, entre 1996 e 2006, e não foi convidado para trabalhar em outro jornal.

Estilo marcante no rádio e na TV

No começo dos anos 1980, fazia comentário diário no Guaíba Ao Vivo

No começo dos anos 1980, fazia comentário diário no Guaíba Ao Vivo


/ARQUIVO PESSOAL FERNANDO GOLGO/DIVULGAÇÃO/JC
Quando a "música do assobio" tocava ao longe, todos em Porto Alegre sabiam que Sergio Jockymann estava falando no rádio. A trilha - Rossana, do filme Os sete homens de ouro (1965) -, que marcava o comentário do jornalista na Rádio Guaíba é lembrada até hoje pelo público. O rádio foi um grande catalisador da criatividade de Jockymann.
Seu primeiro emprego, em 1949, foi na Rádio Difusora, hoje Bandeirantes, como locutor e redator. Mas, cheio de ideias, Jockymann não conseguia colocá-las em prática. Quando a Rádio Guaíba foi criada, em 1957, Jockymann logo integrou a equipe e afinou-se com o estilo sofisticado da rádio. "Na minha primeira década em rádio eu fui posto na rua várias vezes, exatamente por sonhar com o tipo de programação adotado pela Guaíba", refletiu em 1969.
Na Guaíba, Jockymann revelou-se um redator e produtor prolífico, chegando a produzir cinco programas ao mesmo tempo. Uma de suas realizações foi Aventuras no mundo do som, em que explorava todos os efeitos sonoros do rádio da época. Certa vez, reproduziu a experiência de Orson Welles e recriou A guerra dos mundos, de H. G. Wells.
Com a ascensão da Guaíba e as modificações de mercado com a chegada da televisão, inaugurada em 1959, a Farroupilha, antes líder, entrou em crise. Jockymann assumiria a direção artística da rádio em 1963 sob condições adversas: não havia mais dinheiro para manter a orquestra, tampouco o elenco de radioteatro. Mas, com a ajuda de amigos como Renato Pereira e Eloy Terra, criou e dirigiu vários humorísticos como Porto Alegria e Semanascope.
"Jockymann foi de uma geração particular na história da comunicação no Rio Grande do Sul, de pessoas que tinham um embasamento cultural diferenciado, de extrema criatividade, que pegaram a transição do rádio-espetáculo ao rádio segmentado", analisa o professor Luiz Artur Ferraretto, da Ufrgs. Para o humorista Renato Pereira, Jockymann era mais que um amigo ou colega. "Ele era minha referência profissional. O meu estilo tem muito dele", revela.
Em seu retorno à Guaíba, já no fim dos anos 1960, a rádio já não tinha mais radioteatro, agora estando mais voltada ao jornalismo. Jockymann passou a fazer aquilo que o tornaria mais célebre no rádio: a crônica diária sobre assuntos do cotidiano da cidade, com trilha e bordão característicos.
Na televisão, também revelaria seu poder criativo. Ajudou a elaborar os dois principais programas de TV dos anos 1970 no Rio Grande do Sul: Portovisão e Jornal do Almoço. "Os dois programas foram criados na sala da minha casa", revela Simone.
Jockymann ficaria mais tempo no Portovisão, exibido pela TV Difusora a partir de 1974. Criou um estilo de comentário que utilizava um recurso dramatúrgico: o silêncio. "Era muito interessante. Ele falava uma coisa e ficava em silêncio", relembra a jornalista Tânia Carvalho, primeira apresentadora do Jornal do Almoço e do Portovisão.
Antes de o Inter conquistar seu primeiro Campeonato Brasileiro, em 1975, Jockymann prometeu que não diria uma só palavra caso o time vencesse o Cruzeiro na final. O Inter venceu a partida por 1 a 0. Na segunda-feira seguinte ao jogo, Jockymann cumpriu o prometido: passou o comentário todo apenas sorrindo. Foi na TV que sua torcida para o Internacional ficou mais evidente, mesmo que, na vida pessoal, não fosse o "Colorado Delirante", personagem de suas crônicas. "Ele gostava, mas não era fanático. Gostava de todo time que vestisse vermelho", conta a filha Luelyn.
Quando a TV Guaíba foi inaugurada, em 1979, Jockymann passou a fazer parte da programação, com um comentário diário para o Guaíba Ao Vivo, exibido à noite. Com a falência da Caldas Júnior, em 1984, não sobraram muitos profissionais para tocar a emissora adiante e Jockymann assumiu a direção da TV. Sem recursos, criou uma programação barata, com programas comprados de outras emissoras, muitos filmes e a manutenção de alguns programas ao vivo.
No rádio, ainda teria passagens pelas rádios Pampa e Bandeirantes entre o fim dos anos 1980 e o começo dos anos 1990. "Jockymann era desses nomes que levavam o público para onde iam, não importava a emissora que fosse", afirma Ferraretto.
 

Dramaturgia: sucesso nos palcos e nas novelas

Nos anos 1960, com a esposa Simone, que conta que ele não aceitou convites da Globo

Nos anos 1960, com a esposa Simone, que conta que ele não aceitou convites da Globo


ARQUIVO PESSOAL SERGIO JOCKYMANN/DIVULGAÇÃO/JC
Marcada pela comédia de costumes, a dramaturgia de Sergio Jockymann fez sucesso junto ao público ao retratar a vida da classe média. No teatro, começou com Caim (1955). O sucesso viria a partir de 1961 com a sátira política Boa tarde, Excelência, que alcançou 22 mil espectadores na Capital. Com Marido, matriz e filial (1966), Jockymann ganharia projeção no Rio de Janeiro e em São Paulo. Viriam ainda peças como (1967), Se (1978) e Treze (1979).
"Ele era muito irônico e isso funciona muito bem numa peça de teatro. Do ponto de vista de divertir e de ser uma crônica de costumes do Brasil daquela época, suas peças eram referências", avalia o professor e crítico de teatro do Jornal do Comércio, Antonio Hohlfeldt. Para ele, o melhor trabalho de Jockymann é a inédita Spiros Stragos, de 1977, premiada pelo antigo Serviço Nacional de Teatro. "Era uma peça da melhor qualidade que fazia uma paródia do [empresário] Aristóteles Onassis e uma emulação de uma tragédia grega", analisa.
Na televisão, também envergaria pelas comédias com foco na classe média. "Em suas histórias, apresentava pessoas trabalhadoras, que lutam para viver e que gostariam de ter melhores condições de vida", aponta o jornalista e pesquisador Fábio Costa, autor de Novela: a obra aberta e seus problemas (Giostri, 2016). O primeiro êxito veio em 1970, com A Gordinha, na TV Tupi, com Nicette Bruno como a protagonista-título.
Sua novela mais reconhecida seria fruto da desorganização da Tupi. Em 1974, Ivani Ribeiro escrevia as primeiras semanas de O Machão, às 20h30min, quando a emissora a convocou para elaborar uma novela para as 19h. Só que Ivani já supervisionava outra novela, Os Inocentes, às 20h. Não seria possível uma mesma pessoa cuidar de três novelas. E lá foi ela escrever A Barba Azul para as 19h. Mas o que fazer com O Machão, que estava começando? Convoca-se Jockymann, que assumiu a trama no capítulo 43. Descasou personagens, mexeu em tudo e deu ritmo de seriado à novela.
Perto do fim, Antônio Fagundes, que interpretava o protagonista, assinou um contrato com a TV Globo e deixou a emissora. Mas não foi problema, Jockymann deu um jeito e segurou as pontas. O Machão ficou um ano e meio no ar, com boa repercussão. Ainda seria convidado para trabalhar na Globo em pelo menos três oportunidades e recusou todas. Na última, ajudaria em O Cravo e a Rosa, livre adaptação de O Machão, em 2000. "A Globo queria que ele fosse consultor, mas ele só aceitaria se fosse ele o autor, para refazer", conta a esposa Simone.
Jockymann gostava das novelas, mas a necessidade de colocar capítulos diários no ar o angustiava. "Ele se sentia muito pressionado. Escrevia uma novela inteira sozinho, sem poder errar, porque ele escrevia com papel carbono atrás para ter uma cópia. Assim que pôde, ele largou", diz a filha Luelyn.

Política: maconhódromo e eleição para deputado

Jornalista e escritor com a filha Luelyn, no começo da década de  1970

Jornalista e escritor com a filha Luelyn, no começo da década de 1970


/ARQUIVO PESSOAL SERGIO JOCKYMANN/DIVULGAÇÃO/JC
A política entraria pra valer na vida de Jockymann a partir dos anos 1990. Mas, o que pouca gente sabe é que antes disso, ele teve uma primeira experiência eleitoral nos anos 1950. Filiado ao antigo PSB, lançou-se candidato a vereador nas eleições de 1955 e recebeu apenas 96 votos. Abandonou a política em seguida.
A política partidária voltaria à vida de Jockymann no fim dos anos 1980. Convidado por Onyx Lorenzoni, disputou a prefeitura de Porto Alegre pelo PL, em 1988. Queria fazer uma campanha de protesto, tentando vender a ideia de que era diferente dos demais candidatos. No bolso, talvez fosse mesmo, pois não apresentou patrimônio algum na declaração de bens ao TSE.
A falta de recursos e de estrutura partidária eram assumidas pelo candidato no horário eleitoral, que dizia "Aqui fala Sergio Jockymann, candidato do Partido Liberal a um milagre". Como não tinha recursos para a gravação, ia pessoalmente às emissoras apresentar o programa ao vivo, munido apenas de um gravador tocando sua trilha.
Jockymann não levava a empreitada muito a sério. Horrorizou uma plateia de empresários ao propor a construção de um "maconhódromo", onde os jovens, entre outras atividades, poderiam consumir drogas tranquilamente. Na metade da campanha, se demitiu ao vivo da Rádio Pampa, por suposta pressão política da emissora, fato desmentido pela própria direção da empresa. O milagre não veio, mas seu desempenho foi acima do esperado, obtendo 7% dos votos.
Em 1990, concorreu a deputado estadual pelo PDT e foi eleito com 14,5 mil votos, muitos deles de professores da rede estadual. "Ele viu que não ia conseguir mudar nada e deixou a causa deles. Estava meio que brincando na política", afirma a filha Luelyn. Jockymann tentou a reeleição em 1994, agora no PMDB, mas fez pouco mais de 5 mil votos, insuficientes para um novo mandato.
 


LPM/GARATUJA/DIVULGAÇÃO/JC
 

* Italo Bertão Filho é jornalista formado pela Pucrs. Foi finalista do Prêmio ARI de Jornalismo.