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reportagem cultural

- Publicada em 03 de Abril de 2020 às 03:00

Reduto da boemia na Capital, Ocidente completa 40 anos em 2020

Inaugurado em 1980, bar continua sendo referência, com movimentada agenda de shows e festas

Inaugurado em 1980, bar continua sendo referência, com movimentada agenda de shows e festas


ENRIQUE SALGADO/DIVULGAÇÃO/JC
"Mataram John Lennon! Mataram John Lennon!", ecoou a voz por entre as janelas abertas do Ocidente, vinda da calçada da avenida Osvaldo Aranha, no Bom Fim, no começo da noite de segunda-feira, 8 de dezembro de 1980. A trágica notícia interrompeu a refeição dos sócios do bar no primeiro andar do casarão.
"Mataram John Lennon! Mataram John Lennon!", ecoou a voz por entre as janelas abertas do Ocidente, vinda da calçada da avenida Osvaldo Aranha, no Bom Fim, no começo da noite de segunda-feira, 8 de dezembro de 1980. A trágica notícia interrompeu a refeição dos sócios do bar no primeiro andar do casarão.
Desde a inauguração, cinco dias antes, a rotina dos jovens empreendedores era de puro suor. Com lotação máxima em todas as noites, atendiam o público até as sete horas da manhã e, após breve cochilo, saltavam porta afora para encher de cerveja o freezer gentilmente emprestado pelo Bar do IAB. Buscavam os engradados a bordo de kombis de transportadores autônomos, estacionadas nas redondezas. Ao final da tarde, era hora da faxina executada pelos próprios proprietários que, a seguir, preparavam a janta a fim de abastecer o estômago antes de dar início a mais uma exaustiva jornada de trabalho noite adentro.
O assassinato de Lennon, com um tiro à queima-roupa em frente ao edifício Dakota, em Nova York, sacramentou o desfecho de um sonho coletivo de paz e amor, que vinha dando sinais de cansaço há algum tempo. Dez anos antes, na canção God, o mais inquieto dos Beatles havia escrito os versos: "O sonho acabou (...)/ Então, queridos amigos/ Vocês precisam continuar". Para o Ocidente, prestes a se transformar em templo da boemia e da produção cultural de Porto Alegre, o sonho estava apenas começando.
Pródigo em idas e vindas, o mosaico de recordações que compõe a trajetória do Ocidente ao longo dos últimos 40 anos será descrito em livro de Katia Suman, idealizadora do Sarau Elétrico (junto com Luís Augusto Fischer), projeto que ocupa o casarão da rua João Telles todas as terças-feiras, desde 1999. Katia se dispôs a registrar "a dor e a glória" do Ocidente a partir de depoimentos de artistas, frequentadores fiéis e, especialmente, Fiapo Barth, único remanescente dos sócios originais. O principal desafio é costurar as lembranças do personagem principal da trama. "Deus me deu a dádiva de boa saúde e uma péssima memória", brinca Fiapo. A obra deverá ser lançada pela Editora Besouro ainda em 2020. As quatro décadas serão também comemoradas, em dezembro, na tradicional festa oferecida pelo Ocidente para amigos e clientes a cada final de ano - com bebida liberada e número limitado de convites, a celebração é uma das mais cobiçadas pela comunidade artístico-cultural da capital gaúcha.

Ideário de liberdade e transgressão

O Ocidente em 1981, um ano após sua inauguração

O Ocidente em 1981, um ano após sua inauguração


OCIDENTE/DIVULGAÇÃO/JC
De algum modo, o Ocidente tem origem em uma experiência adolescente de Fiapo Barth, nascido em Taquara, em 1953. O pai, Lotário, além de usufruir o status de irmão do mais prestigiado médico da cidade, foi um dos fundadores do Clube Comercial. Já a mãe, Geni, ganhou reconhecimento local ao liderar campanha para a construção de um colégio de freiras. Nada disso serviu de salvo-conduto para os oito filhos do casal. Alguns deles, quando adolescentes, deixaram crescer as melenas, motivo para que passassem a ser vistos com olhares desconfiados no clube. O jeito foi inventar reuniões dançantes em casa. Espaço não faltava: bastava ocupar duas ou três das 27 peças da residência da família e, de resto, ligar o aparelho de som, comprar bebidas e chamar os amigos. "Gostava de festa, noite, trago. Mais tarde, abrir o Ocidente foi continuar aquilo ali", diz Fiapo.

Fiapo Barth (à direita) é o único dos fundadores do bar a seguir tocando o negócio

Fiapo Barth (à direita) é o único dos fundadores do bar a seguir tocando o negócio


ACERVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Já em Porto Alegre, com passagem pela Faculdade de Arquitetura da Ufrgs e dando início à carreira de diretor de arte e cenógrafo de teatro e cinema, Fiapo e seus amigos sentiam a necessidade de estabelecer uma "cronologia da noite". Dito de outra forma, gostariam que as noites não fossem iguais umas às outras, submetidas à névoa das reminiscências embaçadas pelo álcool. Em vez disso, que cada uma delas ficasse marcada por algum evento de palco, a partir de uma programação artística de qualidade, levada a cabo em um ambiente charmoso, de preferência à meia-luz, e não iluminado por lâmpadas fluorescentes, como na maior parte dos botecos do Bom Fim à época. "Para nós, frequentadores de bares, as noites mais nítidas na lembrança até então eram as das batidas policiais", lembra, com ironia. "Havia também o impulso de experimentar algo diferente em arte e comportamento. É o que marca o Ocidente até os dias atuais", acrescenta.
Gosto pela boemia não faltava aos seis fundadores do Ocidente - não à toa, a razão social do empreendimento era Bar Show Seis Amigos. Além de Fiapo, faziam parte da turma sua irmã, a publicitária Cecy Barth; Elena Quintana (sobrinha-neta do poeta Mario Quintana), recém-formada em direção teatral no Departamento de Arte Dramática da Ufrgs; os futuros médicos Sirlei Famer, a Mama (referência a Mama Cass, vocalista do The Mamas & The Papas), e Luiz Felipe Gonçalves; além de Amaury Matos Pereira. Esse grupo tinha uma "devoção religiosa" pelas saídas noturnas no Bom Fim, recorda Fiapo.
Na virada da década de 1970 para a de 1980, a boemia vivenciava uma migração da Esquina Maldita (Osvaldo Aranha com Sarmento Leite), onde pontificava o bar Alaska, em direção ao miolo do bairro, território batizado de Baixo Bom Fim (alusão ao Baixo Leblon, no Rio de Janeiro). Embora houvesse espaço para o debate político na Esquina Maldita, ainda que em voz baixa (a época era de ditadura militar), as questões de comportamento continuavam sendo um tabu. É célebre a cena em que o dono do Alaska expulsou Nega Lu (codinome do homossexual negro Luíz Aírton Bastos, pioneiro da diversidade sexual em Porto Alegre) do bar após ela sapecar um beijo na boca de um amigo. "O que desejávamos era dar um passo adiante, em um lugar em que as pessoas poderiam se comportar da maneira que bem quisessem, desde que não agredissem fisicamente as demais."
Ao contrário da violência, provocações estéticas e filosóficas eram bem-vindas. Esse conceito de liberdade está inscrito no ideário do Ocidente, como herança do posicionamento assumido pela geração que viveu a juventude entre os anos 1970 e 1980 - segundo Fiapo, a última que pensou em mudar o mundo. "Acreditávamos que, juntos, conseguiríamos. Infelizmente, não aconteceu."
Essa avaliação coincide com a opinião do cineasta e escritor Carlos Gerbase, um dos fundadores da banda Os Replicantes. Para ele, o Ocidente representou a cultura contemporânea na noite de Porto Alegre nos anos 1980. "De lá para cá, continuou sendo o lugar do novo, do inesperado, da transgressão, da liberdade estética e sexual. É impossível imaginar Porto Alegre sem o Ocidente", diz Gerbase.

Cena de cinema no Bom Fim

Idealizado para ser um bar, casarão acabou virando uma concorrida danceteria

Idealizado para ser um bar, casarão acabou virando uma concorrida danceteria


ENRIQUE SALGADO/DIVULGAÇÃO/JC
A descoberta do casarão da João Telles foi um golpe de sorte. A rigor, o alvo era uma garagem na rua Barros Cassal, mas o proprietário se negou a locar o imóvel, assustado com a aparência "hippie" dos jovens cabeludos. Outra opção era o bar Rotação, na Osvaldo Aranha, em frente ao Instituto de Educação, local de encontro dos futuros sócios do Ocidente após a decadência da Esquina Maldita. "O Rotação tinha uma planta arquitetônica ideal para um café-concerto, como parte do grupo desejava", conta Fiapo. Além disso, volta e meia os proprietários daquele bar manifestavam aos clientes a vontade de passar adiante o ponto, o que não se confirmou.
No dia em que receberam o "não" definitivo do dono da garagem da Barros Cassal, Fiapo e Elena Quintana pegaram o ônibus de volta para a casa - ele morava na Ramiro Barcelos, ela na Silva Só. Eis que, pela janela envidraçada do coletivo, viram de relance a placa de "aluga-se" na esquina da João Telles. Como curiosidade, o episódio remete à cena de abertura de Deu pra ti, anos 70 (primeiro longa-metragem gaúcho rodado em Super 8, de 1981), de Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil, em que a câmera exibe a calçada da Osvaldo Aranha vista de um ônibus em movimento, embalada com a trilha de Delírio 32, canção de Nei Lisboa.
Na vida real, o anúncio repousava junto à janela do prédio, cercado de fuligem, poeira e teia de aranha. Ali, funcionava uma locadora de automóveis, cujo responsável pretendia sublocar o andar de cima. Com o tempo, outros empreendimentos ocupariam o piso térreo do imóvel, a exemplo da livraria Ao Pé da Letra e da loja Roseka, de roupas íntimas femininas. Sem falar no bar Boccaccio, cuja grade em volta da placa luminosa com o nome do boteco servia, vez por outra, de apoio para os pés de penetras que tentavam escalar a parede para entrar no Ocidente pelas janelas.
Construído no final do século XIX, o casarão foi adquirido no início dos anos 1950 pelo português Manuel Fernandes Duarte, dono de uma borracharia, que, por coincidência, faz parte das lembranças de infância de Fiapo - um de seus irmãos tinha uma namorada que residia na João Telles. "A gente visitava a família dela com frequência, por isso, guardo a borracharia do seu Duarte na memória", explica.
Na largada do bar, as parcas economias se destinaram às reformas do prédio, em mau estado de conservação. O que sobrou de dinheiro foi usado para comprar retalhos de tecidos em lojas baratas do bairro Sarandi. Emendados, os retalhos foram utilizados não só para as toalhas de mesas, mas também para uma espécie de intervenção artística no teto, que compensava a ausência de forro. Característica da primeira fase do Ocidente, a peça lembrava a configuração de um paraquedas ou de uma lona de circo.

Lendas embalam mística do casarão

Palco foi montado inicialmente para esquetes teatrais, mas logo o rock tomou conta

Palco foi montado inicialmente para esquetes teatrais, mas logo o rock tomou conta


OCIDENTE/DIVULGAÇÃO/JC
Um ano antes de abrir o Ocidente, Fiapo administrou com a amiga Ceres Storchi uma galeria de arte no andar térreo de um escritório de arquitetura, onde hoje se encontra o bar Odessa, na João Telles. Em parte, essa é uma das razões que explicam a presença das artes plásticas no núcleo original de frequentadores do Ocidente. Outra é que, na Arquitetura da Ufrgs, Fiapo havia sido colega de expoentes das artes visuais da época, como Milton Kurtz e Mário Röhnelt.
Fiapo circulava pelo Bom Fim também com atores de teatro que, pouco depois, fundariam o grupo Tear, liderado por Maria Helena Lopes. Além disso, em 1980, ele participou da montagem de A estrela e a sucata, trabalho de conclusão de curso de Elena Quintana, feita a partir de poemas de Mario Quintana. Dessa turma fazia parte o ator Marco Fronchetti, dono da carteirinha nº 002 de sócio VIP do Ocidente: "Era um polo de diversidade, único bar frequentado por homossexuais fora do circuito exclusivamente gay", destaca Fronchetti.
Apesar das afinidades com as artes plásticas e cênicas, o Ocidente ficou identificado como reduto do rock. "Montamos um palco para esquetes teatrais, mas a ocupação dos músicos foi quase instantânea", relata Fiapo. Um presságio foi o pedido da produção de Nei Lisboa, logo nos primeiros dias de funcionamento do bar, para usar as cadeiras do Ocidente a fim de acomodar o público em um show na Associação Israelita Hebraica. Quem intermediou a solicitação foi Giba Assis Brasil (da Casa de Cinema de Porto Alegre), que ia gravar o espetáculo. Depois, apareceu Hermes Aquino - junto com Cláudio Vera Cruz, Zé Vicente Brizola e Carlos Magno, ele estava formando a banda Eureka, cuja estreia se deu em janeiro de 1981 no palco do Ocidente.

Wander Wildner (d), dos Replicantes: confusão com a plateia e ameaça de curto-circuito

Wander Wildner (d), dos Replicantes: confusão com a plateia e ameaça de curto-circuito


PRANA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Alguns episódios ajudaram a criar a mística do Ocidente como trincheira do rock. No primeiro show profissional da banda Os Replicantes, em maio de 1984, ovos e cusparadas foram arremessados ao palco pela plateia, desgostosa com as críticas feitas nas letras das músicas a ídolos da MPB, como Caetano Veloso e Chico Buarque. Em dado momento, o vocalista Wander Wildner puxou um soquete de iluminação, que estava dependurado no teto, aproximando-o da boca como se fosse um microfone. Ao ver a cena, Fiapo teria entrado em pânico, pois sabia que uma das mesas de luz estava em curto-circuito e não tinha bem certeza se o apetrecho se achava conectado a ela ou não. Wander contaria mais tarde: "Não cheguei a encostar a boca ou a língua, como alguns falam, mas a verdade é que não me dei conta de que o soquete podia estar ligado. Por sorte, não estava".
A performance dos Replicantes faz parte das lendas do Ocidente, as quais - segundo Fiapo - ajudaram a disseminar a fama do bar, ainda que boa parte delas não seja verdadeira. Outra história clássica envolve um dos ícones homossexuais de Porto Alegre nos anos 1980, Claudiona, cabeleireiro do salão de Walter Scalp. Após um tropeção, a personagem teria rolado escada abaixo, porém, sem derramar o uísque do copo equilibrado em uma das mãos. Ante o espanto dos presentes, saiu-se com essa: "Qual é? Cada um desce a escada do jeito que quiser".
De acordo com Fiapo, a história é verídica, mas não aconteceu no Ocidente, e sim no Fim de Século, lendária danceteria da avenida Plínio Brasil Milano, no bairro Auxiliadora. Como no imaginário popular tais cenas de irreverência "só podiam" acontecer no Ocidente, a queda de Claudiona foi incorporada às lendas do casarão do Bom Fim.

Vocação de divertir as pessoas

Espaço também é conhecido por oferecer almoço vegetariano, o que ampliou o leque de público

Espaço também é conhecido por oferecer almoço vegetariano, o que ampliou o leque de público


FREDY VIEIRA/ARQUIVO/JC
A maior parte das pessoas que circulava pelo Bom Fim não sabia exatamente o que acontecia no primeiro andar do casarão, mas ouvia falar da liberalidade de comportamento que imperava no ambiente, o que, ao mesmo tempo, atraía e assustava os boêmios. Essa aura de mistério era alimentada pela seletividade do acesso ao bar. Conforme Katia Suman, o porteiro decidia quem podia entrar ou não, procedimento, aliás, corriqueiro em boates do circuito underground na época, como a Studio 54, de Nova York. Os critérios para liberar a porta não estavam isentos de subjetividade - dependiam, em última instância, da percepção do porteiro acerca do grau de "caretice" do aspirante a frequentador.
Em abril de 1981, o Ocidente passou a oferecer almoço vegetariano. De um lado, a opção pela comida natural fortaleceu a marca do bar como representante de uma cultura em sintonia com os passos da juventude daquele tempo. De outra parte, abrir o casarão durante o dia serviu para desmistificar a falsa impressão que muitos tinham do lugar. "Quando a gente viu que a coisa estava pesando pela curiosidade, foi uma maneira de fazer com que as pessoas conhecessem o Ocidente", diz Fiapo.
Aliás, uma das figuras emblemáticas do bar é o cozinheiro Ildefonso Braz, o Fonso, que virou sócio, assim como o garçom Carlos Dias (ambos já falecidos). Em meados dos anos 1980, Dias passou a convidar seus amigos DJs para embalar as noites do Ocidente, que a partir daí se transformou em danceteria. Antes, as festas eram informais - a certa altura da madrugada, alguém arredava as mesas e todo mundo começava a dançar. Quando virou boate, foi preciso substituir o aparelho de rádio (único equipamento de som disponível até então) por um tape deck com amplificador doméstico. Fiapo lembra de alternar, nas primeiras festas, os dois lados de uma fita cassete de Madonna a noite inteira para animar a pista.

Sarau Elétrico, capitaneado por Katia Suman, que está escrevendo um livro sobre o Ocidente

Sarau Elétrico, capitaneado por Katia Suman, que está escrevendo um livro sobre o Ocidente


OCIDENTE/DIVULGAÇÃO/JC
O recorde de público, em termos quantitativos, é de uma das edições da Balonê, festa promovida desde 2001 por Claudia Schumacher, Taís Scherer e Roger Lerina com hits dos anos 1980 e 1990. Naquela noite, com a fila dobrando a esquina da Osvaldo Aranha até a Lancheria do Parque, na metade do quarteirão, mais de 1.500 pessoas ingressaram no Ocidente. Mas, na ocasião, a casa já havia passado por reformas que ampliaram o espaço de diversão do prédio. A sensação de maior aglomeração ocorreu no Fórum Social Mundial, em 2001, quando cerca de 1.100 sacudiram o esqueleto acotovelados na pista do primeiro andar.
Nos primeiros 10 anos, o Ocidente funcionou com alvará pendurado na parede. Fiapo se penitencia por ter cometido o "erro jurídico" de alterar a razão social da empresa, o que o obrigou a buscar novo alvará, obtido só em dezembro de 2019. Um dos entraves para ultrapassar a burocracia era que o imóvel não tinha registro nos anais da prefeitura. Em contrapartida, a declaração do bar como patrimônio cultural da Capital, em maio de 2012, ajudou a encaminhar a regularização. "É um mérito indiscutível atingir a marca de 40 anos. Hoje em dia, é difícil durar tanto tempo", diz Márcio Ventura, da Rei Magro Produções, responsável pelo Ocidente Acústico, evento de shows musicais às quintas-feiras.
Ao longo do percurso, o Ocidente passou por várias reformas - não é exagero dizer que está sempre em mutação. No começo de março, por exemplo, foi concluída a implantação do elevador, que permitirá aos músicos ir diretamente dos camarins para o palco, sem precisar circular pela casa inteira. Não à toa, para a produção do livro comemorativo, uma das sugestões de Fiapo para Katia é distinguir cada fase do bar conforme as alterações físicas do casarão. "Cada época está relacionada a uma planta arquitetônica, e isso já é uma divisão de capítulos", diz ele. A vocação de criar e adaptar espaços para receber as pessoas está na essência do Ocidente. "Fico feliz de ver tanta gente se divertindo", conclui Fiapo.

* Paulo César Teixeira é jornalista com textos publicados em Isto É, Veja e Folha de S. Paulo. Escreveu os livros Esquina Maldita, Nega Lu – Uma dama de barba malfeita, Darcy Alves - Vida nas cordas do violão, e Rua da Margem - Histórias de Porto Alegre, baseado no portal do autor, www.ruadamargem.com.