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Reportagem Especial

- Publicada em 24 de Março de 2022 às 18:47

Economia de Porto Alegre está em transformação para o futuro

Coworking no Instituto Caldeira em Porto Alegre

Coworking no Instituto Caldeira em Porto Alegre


/INSTITUTO CALDEIRA/DIVULGAÇÃO/JC
Adaptar-se para se transformar. Esta é a vocação econômica de Porto Alegre desde a chegada dos primeiros casais açorianos. Ao completar 250 anos, a cidade vive em plena adaptação para se tornar referência em inovação e tecnologia. Em maio, quando o Cais Mauá abrigar durante três dias o South Summit, haverá ali, às margens do Guaíba, o símbolo da transformação ambicionada pela capital do Rio Grande do Sul.
Adaptar-se para se transformar. Esta é a vocação econômica de Porto Alegre desde a chegada dos primeiros casais açorianos. Ao completar 250 anos, a cidade vive em plena adaptação para se tornar referência em inovação e tecnologia. Em maio, quando o Cais Mauá abrigar durante três dias o South Summit, haverá ali, às margens do Guaíba, o símbolo da transformação ambicionada pela capital do Rio Grande do Sul.
Foi neste ponto do então porto de Viamão, nas proximidades da atual Praça Parobé, que, em 1772, a localidade se tornou uma referência em estaleiros, por uma questão de adaptação e oportunidade. Eram necessárias as preparações de canoas para os militares que defendiam os limites portugueses e de fragatas que subiam o Rio Jacuí. A chegada de uma das maiores feiras de inovação do mundo agora não é por acaso. A navegação necessária no momento é outra, e Porto Alegre está a favor do vento.
É uma cidade vocacionada aos serviços. Este setor, juntamente com o comércio, representa 91% dos R$ 82,4 bilhões de PIB da Capital (17,1% do Rio Grande do Sul). Entre todas as empresas ativas em Porto Alegre, incluindo MEIs, são 160,1 mil no setor de serviços (66,8% do total). É neste perfil que se encaixam as inovações em curso.
De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rodrigo Lorenzoni, ainda não há números precisos do quanto a inovação pesa no PIB de Porto Alegre, mas ele sustenta que essa é a tendência. "Estudamos o cenário econômico e esta é, de fato, uma vocação nossa. Temos o maior parque tecnológico da América Latina, com o Tecnopuc. Dentro da academia, já há esta referência, e a atração de parceiros é real e vem se desenvolvendo."
Somente em 2021, foram aportados mais de US$ 200 milhões (R$ 1,02 bilhão) no fomento a startups gaúchas. Com três polos tecnológicos de universidades - Tecnopuc (Pucrs), Zenit (Ufrgs), Feevale TechPark (Feevale) -, estão na Capital 410 das pouco mais de 600 startups mapeadas no Rio Grande do Sul no final do ano passado.
É o caso da Yours Bank, que desenvolveu uma ferramenta de fintech (empresa financeira de tecnologia digital) para estímulo à educação financeira de jovens. Criada no ano passado, a startup, que conta com 16 colaboradores, fechou 2021 com 20 mil usuários e tem a meta de 100 mil até o fim de 2022. "O número de usuários tem dobrado a cada dois meses, isso mostra que o mercado tem gostado", diz um dos sócios da startup, Felipe Diesel.
As fintechs lideram o volume de investimentos em negócios inovadores que têm surgido a partir de Porto Alegre. O projeto da Yours Bank, que já recebeu R$ 1,2 milhão em investimentos, foi o vencedor do programa Ebulição, desenvolvido em parceria entre o Instituto Caldeira e a Oracle. "Queremos Porto Alegre não apenas como uma cidade em que os nossos talentos inovadores tenham a possibilidade de ficar e criar a partir daqui, mas como um lugar que atrai jovens empreendedores de outros lugares, com fomento de talentos e espaço adequado para isso. A consequência é a atração ainda maior de investimentos para a economia da cidade", explica o diretor-executivo do Instituto Caldeira, Pedro Valério.
Ele ressalta que, no caso da Yours Bank, os empreendedores vieram do Interior e encontraram em Porto Alegre - mais especificamente no hub de startups criado pelo instituto - o ambiente ideal para desenvolver e promover o projeto. "Detectamos que temos em Porto Alegre muita capacidade para formar talentos inovadores, mas não estávamos conseguindo reter estes talentos aqui. O esforço agora é para que espaços como é o caso do Caldeira tenham mais incentivo", aponta o secretário Lorenzoni.
Atualmente há uma redução em 60% na tributação de empresas de inovação, com redução de 5% para 2% do ISS para o setor. Até mesmo a secretária municipal foi para dentro do Instituto Caldeira, como forma, explica o secretário, de estar mais perto dos empreendedores e do ambiente dinâmico das startups. O próprio Instituto Caldeira é uma startup, resultado da união de 42 empresas. "A vinda da South Summit, de certa forma, coroa este momento de inovação na nossa cidade", aponta Valério.
Para que se tenha uma ideia, em 2019, apenas 14,7% das startups gaúchas tinham mais de 20 funcionários. Hoje, metade têm pelo menos este número de colaboradores. Desde o início da pandemia, cresceu em 57% o número de startups em todo o Estado.

Antigas áreas de indústrias são ocupadas pelos "shoppings da inovação"

Criado há três anos, o Instituto Caldeira tornou real seu espaço físico há um ano. São quase 100 empresas residentes e mais de 200 conectadas no chamado ecossistema criado pelo Caldeira, com uma média de 650 pessoas convivendo diariamente na estrutura física, que simboliza mais uma adaptação da economia de Porto Alegre.
Em uma área total de 22 mil metros quadrados, depois de um ano, o instituto já expandiu de 1,2 mil m² para 16 mil m² de ocupação do espaço. Funcionam no instituto além do startup village, espaços para eventos e estúdios, além do coworking. E ali acontecem as conexões entre grandes empresas, startups, universidades e o poder público.
"É um conceito de concentração de serviços de inovação. É uma forma de gerarmos mais valor a todos, assim como os shoppings representaram durante muito tempo a oportunidade de concentrar em um só lugar todos os serviços", diz Valério.
O instituto foi montado no antigo espaço das fábricas de A. J. Renner na década de 1920, no 4º Distrito. O local preserva a caldeira da antiga fábrica, que agora dá nome ao instituto. Entre o final do século XIX e a metade do século XX, a cidade viveu o seu período de industrialização, passando, entre 1890 e 1945, de 110 mil moradores para 272,2 mil. No mesmo 4º Distrito, concentravam-se fábricas como a primeira de chocolates do Brasil, da Neugebauer, na atual avenida Cairú. Algo que não se limitava àquela região da cidade.
Na avenida Cristóvão Colombo, por exemplo, em 1911, foi aberta a Cervejaria Bopp, que deu lugar à Continental e finalmente à Brahma, até, no ritmo da transformação da economia de Porto Alegre, dar lugar a um shopping. Mesmo caso da área da antiga fábrica de Fogões Wallig, na Zona Norte da cidade.
O fortalecimento da Região Metropolitana fez mudar o perfil de Porto Alegre a partir da década de 1960. Na década de 1990, por exemplo, a Mu-Mu saiu da avenida Ipiranga para instalar-se em Viamão, com seu terreno dando lugar à expansão urbana.
Hoje, a indústria ainda responde por 8,7% do PIB da cidade. Um volume em queda, já que em 2002, o setor representava 14% da economia porto-alegrense.
O processo de incentivo para que Porto Alegre se torne um ecossistema adequado para a inovação iniciou ainda na década de 1990. De acordo com o economista Martinho Lazzari, do Departamento de Economia e Estatística (DEE), a transformação de Porto Alegre em uma cidade de serviços é uma tendência comum às capitais. O diferencial precisa estar nos investimentos em serviços que garantam maior valor agregado à economia, como é o caso da tecnologia.