Porto Alegre, sexta-feira, 18 de dezembro de 2020.
Dia Internacional do Migrante.

Jornal do Com�rcio

Porto Alegre,
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020.
Corrigir texto

Se voc� encontrou algum erro nesta not�cia, por favor preencha o formul�rio abaixo e clique em enviar. Este formul�rio destina-se somente � comunica��o de erros.

Conjuntura

- Publicada em 18h49min, 17/12/2020. Atualizada em 08h36min, 18/12/2020.

Imuniza��o ser� essencial para volta do crescimento

Medidas de isolamento social levaram a restri��es severas nas atividades econ�micas em 2020

Medidas de isolamento social levaram a restri��es severas nas atividades econ�micas em 2020


alex rocha/pmpa/divulga��o/jc
Marcelo Beledeli
Os impactos severos da pandemia de Covid-19 na economia deverão ser sentidos por muito tempo em todo o mundo. No entanto, o Brasil foi um dos países mais fragilizados na hora de enfrentar a crise sanitária. Neste ano, quando ainda estava se recuperando de forma fraca da recessão de 2015 e 2016, o Estado brasileiro teve que montar uma das maiores operações de intervenção na economia em todo o mundo para manter o consumo da população e as atividades nas empresas. Em 2021, é a hora de pagar a conta, mas com o desafio de buscar crescimento.
Os impactos severos da pandemia de Covid-19 na economia deverão ser sentidos por muito tempo em todo o mundo. No entanto, o Brasil foi um dos países mais fragilizados na hora de enfrentar a crise sanitária. Neste ano, quando ainda estava se recuperando de forma fraca da recessão de 2015 e 2016, o Estado brasileiro teve que montar uma das maiores operações de intervenção na economia em todo o mundo para manter o consumo da população e as atividades nas empresas. Em 2021, é a hora de pagar a conta, mas com o desafio de buscar crescimento.
O ano de 2020 ficará marcado pela menor atividade econômica, desemprego, queda do PIB, desvalorização do câmbio e aumento dos gastos públicos. Os efeitos desses problemas seguirão afetando o novo ano. Além disso, muito do cenário econômico de 2021 ainda será ditado pela Covid-19, com as influências de novas ondas da pandemia, medidas de enfrentamento da doença e a chegada da vacinação.
"Antes da pandemia imaginava-se que a economia brasileira poderia crescer 1,5% a 2% em 2020. Era uma estimativa até otimista para a economia brasileira, que estava definindo ainda uma nova política econômica", lembra Gustavo de Moraes, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Pucrs. No entanto, com as medidas de isolamento social para conter a doença, iniciadas em março, que paralisaram as atividades econômicas, e também com a redução do comércio internacional, a economia brasileira desabou.
De acordo com a última pesquisa Focus, do Banco Central (BC), divulgada no dia 14, a previsão do mercado financeiro é de que 2020 se encerre com queda do Produto Interno Bruto (PIB) de -4,41%. Se a taxa for confirmada, será o maior tombo da economia brasileira desde 1901, superando até a queda de -4,39% ocorrida em 1981. Já para 2021 a expectativa é de crescimento de 3,50% - ou seja, a retomada das atividades ainda não deverá recuperar as perdas sofridas neste ano.
A redução do PIB em 2020 só não será maior devido à montagem, pelo governo federal, das políticas de auxílios emergenciais para a população e de estímulos para empresas. "Houve um grande aporte de recursos para recuperar a economia, que foi bem sucedido. A previsão de efeitos negativos em abril, maio, no começo da pandemia era bastante forte, e foram atenuados ao longo do ano pelas medidas emergenciais", lembra Moraes. Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, os gastos do governo em resposta à pandemia devem chegar a R$ 496,8 bilhões em 2020, ou 7% do PIB. Somente a despesa com o auxílio emergencial deve somar R$ 267,9 bilhões.
"Se pegarmos os resultados do terceiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2019, o Brasil tem uma queda do PIB de -3,9%, em situação melhor que a maioria dos países emergentes. O Chile caiu -10,3%, o México, -8,6%, a Turquia, -5,4%", destaca Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

Infla��o deve seguir em alta no in�cio do ano

Bertotti não vê motivos para aumento dos juros no primeiro semestre
Bertotti n�o v� motivos para aumento dos juros no primeiro semestre
MESSEM/DIVULGA��O/JC

Um fator que deve pesar para os brasileiros no in�cio de 2021 � o fortalecimento da infla��o. Influenciada por v�rios fatores - falta de mat�rias-primas para ind�strias, retomada do consumo com o aux�lio emergencial e desvaloriza��o do real frente ao d�lar - a alta dos pre�os vem ganhando impulso e seguir� afetando o bolso da popula��o.

O �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) avan�ou 0,89% em novembro, acima da taxa de 0,86% de outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). Esse � o maior resultado para um m�s de novembro desde 2015, quando o indicador foi de 1,01%. Trata-se tamb�m da maior alta mensal desde dezembro de 2019 (1,15%).

Em 12 meses, o IPCA subiu 4,31%, acima dos 3,92% registrados no total dos 12 meses anteriores. A pesquisa Focus, do Banco Central, espera que o ano termine com uma alta de 4,35% no IPCA. Com o resultado, a infla��o deve ficar acima do centro da meta para 2020, que � de 4%.

"No decorrer de 2021 a infla��o deve cair, mas o consumidor vai come�ar o ano ainda impressionado pela alta, especialmente dos alimentos", destaca Gustavo de Moraes, coordenador do curso de Ci�ncias Econ�micas da Pucrs. De acordo com a pesquisa Focus, a previs�o atual � de que a infla��o medida pelo IPCA fique em 3,34% no fim do pr�ximo ano.

Segundo o economista, ao longo de 2021 a alta do IPCA deve se enfraquecer, pois a atividade econ�mica ainda vai ser pouco desenvolvida. Com o fim do aux�lio emergencial, que se encerra ao final de dezembro, o poder de compra da popula��o deve sofrer redu��o. "Com uma taxa de 14% de desempregados e as transfer�ncias por parte do governo em diminui��o, n�o ter� como se manter o poder de compra, ent�o o repasse de pre�os ao consumidor deve diminuir", destaca.

Apesar da press�o inicial, a tend�ncia � que o Banco Central (BC) n�o deve subir a Taxa Selic - os juros b�sicos da economia -, atualmente em 2% ao ano, para controlar a infla��o. "N�o faz sentido aumentar taxa de juros em um pa�s em recess�o. Talvez depois do segundo trimestre haja algum leve aumento, mas se ocorrer deve ir a 3%, o que ainda � baixo para o Brasil", destaca Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

D�vida do governo federal pode chegar a 100% do PIB do Brasil no pr�ximo ano

Para manter os aux�lios, o governo federal n�o teve outra solu��o sen�o aumentar o endividamento. Segundo os �ltimos dados do Banco Central, a D�vida Bruta do Governo Geral fechou outubro aos R$ 6,575 trilh�es, o que representa 90,7% do PIB.

"Agora come�a a fase de ver como pagar a conta dos est�mulos governamentais usados pra mitigar a crise", destaca o economista Aod Cunha, que foi secret�rio estadual da Fazenda do Rio Grande do Sul entre 2007 e 2009. "A d�vida do governo deve chegar perto de 100% do PIB. Em pa�ses mais ricos essa rela��o passa disso, mas neles os juros de longo prazo est�o negativos ou perto de zero. No Brasil, apesar da taxa Selic estar baixa, em 2%, os t�tulos de d�vida de 10 anos pagam acima de 7%. Ent�o o endividamento brasileiro tem um custo maior por conta do risco do pa�s", afirma.

Para Aod, a grande d�vida � como o governo vai conseguir financiar esse endividamento sem prejudicar a m�quina p�blica e o investimento. Para o economista, as reformas econ�micas tornam-se ainda mais relevantes para dar f�lego �s contas do governo. Entre as medidas que Aod acredita que devem ser implantadas est�o contingenciamento de despesas, como n�o ter aumentos de sal�rios de funcionalismo, implanta��o das reformas administrativa e tribut�ria, e corte de desonera��es fiscais. "N�o sei se vai ser poss�vel fazer tudo isso com o ambiente pol�tico que existe, mas � necess�rio. Se as reformas n�o forem feitas em 2021 seremos obrigados a faz�-las em uma situa��o ainda mais adversa", alerta.

No Rio Grande do Sul, situa��o fiscal pode se agravar

Segundo Aod Cunha, contas p�blicas s�o a maior dificuldade
Segundo Aod Cunha, contas p�blicas s�o a principal preocupa��o
MARCELO G. RIBEIRO/JC

Se o cen�rio brasileiro � desafiador, no Rio Grande do Sul a situa��o � ainda mais preocupante. Al�m dos efeitos da pandemia, o Estado enfrenta outros fatores agravantes para uma tentativa de retomada econ�mica, como a situa��o nas contas p�blicas ainda mais deteriorada que a nacional e os efeitos que a poss�vel segunda estiagem de ver�o consecutiva deve ter na economia, fortemente atrelada ao agroneg�cio.

Entre janeiro e setembro de 2020, a queda no PIB ga�cho chegou a -8,6% em rela��o ao mesmo per�odo de 2019. Em todo o Brasil, a redu��o foi de -5% na mesma base de compara��o, segundo dados do Departamento de Economia e Estat�stica (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governan�a e Gest�o (SPGG). "O Rio Grande do Sul n�o � uma ilha, e nossa situa��o vai depender muito do cen�rio do Brasil. Devemos ter uma retomada no primeiro semestre, mas em cima de uma base de compara��o baixa, que foram os meses do auge das a��es de isolamento social contra a pandemia. S� no segundo semestre teremos uma medida melhor da situa��o", afirma o economista Aod Cunha, que foi secret�rio estadual da Fazenda entre 2007 e 2009.

Para Aod, a principal dificuldade para o Rio Grande do Sul ainda s�o as contas p�blicas. O economista lembra que, embora o Estado tenha colocado a folha de pagamentos em dia neste m�s - em parte devido aos aux�lios de R$ 2 bilh�es remetidos pelo governo federal - o Rio Grande do Sul segue com uma "corda no pesco�o", que � a d�vida com a Uni�o, que passa de R$ 4 bilh�es por ano e n�o est� sendo paga devido a uma liminar.

"Os pagamentos est�o pendentes, em negocia��o entre Estado e Uni�o, devido a uma expectativa de que o governo ga�cho continue a fazer reformas nas contas p�blicas e, dessa forma, possa ter aprovado o Regime de Recupera��o Fiscal (RRF). Isso daria legitimidade para manter o n�o pagamento dessa d�vida por mais tempo", explica Aod.

Para o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, o desempenho da economia ga�cha no primeiro semestre dever� sofrer novos abalos. "Temos uma segunda estiagem consecutiva nas lavouras de ver�o, o que preocupa muito, devido � import�ncia do agroneg�cio no Estado. Al�m disso, estamos sofrendo um aumento de casos de Covid-19 e lota��es de hospitais, o que pode gerar novas medidas restritivas �s atividades econ�micas", destaca.

"Em 2021 o Rio Grande do Sul deve seguir na situa��o de redu��o de investimentos, o que compromete a competitividade do Estado no m�dio e longo prazo", afirma o coordenador do curso de Ci�ncias Econ�micas da Pucrs, Gustavo de Moraes. Para o economista, as dificuldades nas quais o Estado se encontra n�o t�m solu��o no curto prazo. "Enquanto n�o houver mudan�a estrutural no formato da economia ga�cha, os problemas continuar�o graves", afirma.

Coment�rios CORRIGIR TEXTO