Porto Alegre, sexta-feira, 18 de dezembro de 2020.
Dia Internacional do Migrante.

Jornal do Com�rcio

Porto Alegre,
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020.
Corrigir texto

Se voc� encontrou algum erro nesta not�cia, por favor preencha o formul�rio abaixo e clique em enviar. Este formul�rio destina-se somente � comunica��o de erros.

Estados Unidos

- Publicada em 03h00min, 18/12/2020.

Joe Biden e o desafio de curar os Estados Unidos

Presidente mais velho a assumir a Casa Branca, Biden ter� de lidar com crises aprofundadas na gest�o Trump

Presidente mais velho a assumir a Casa Branca, Biden ter� de lidar com crises aprofundadas na gest�o Trump


ANGELA WEISS/AFP/JC
Juliano Tatsch

Enquanto o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resiste � ideia de aceitar a derrota nas elei��es presidenciais de 3 de novembro, o mundo aguarda com expectativa o governo de Joe Biden, o 46� presidente da maior pot�ncia econ�mica e militar do planeta. O democrata foi eleito com mais de 81 milh�es de votos, a maior vota��o da hist�ria. No dia 14 de dezembro, o Col�gio eleitoral se reuniu e sacramentou sua vit�ria. Agora, Biden agiliza os tr�mites da transi��o antes de sua posse, no dia 20 de janeiro.

Enquanto o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resiste � ideia de aceitar a derrota nas elei��es presidenciais de 3 de novembro, o mundo aguarda com expectativa o governo de Joe Biden, o 46� presidente da maior pot�ncia econ�mica e militar do planeta. O democrata foi eleito com mais de 81 milh�es de votos, a maior vota��o da hist�ria. No dia 14 de dezembro, o Col�gio eleitoral se reuniu e sacramentou sua vit�ria. Agora, Biden agiliza os tr�mites da transi��o antes de sua posse, no dia 20 de janeiro.

Aos 78 anos, Biden assumir� o comando de uma na��o profundamente dividida. O trumpismo saiu derrotado das urnas, mas mostrou uma for�a ainda maior do que tinha quatro anos antes. Apesar de perder o pleito, o atual presidente recebeu 74,1 milh�es de votos - cerca de 11 milh�es a mais do que em 2016, quando bateu Hillary Clinton e chegou � Casa Branca.

Assim, o maior desafio de Biden, possivelmente, seja pacificar o pa�s. Este, inclusive, foi o tom de seu discurso da vit�ria, no dia 8 de novembro. "Prometo ser um presidente que n�o busca dividir, mas unir. Que n�o v� estados vermelhos e azuis, mas os Estados Unidos. E que trabalhar� com todo o seu cora��o para conquistar a confian�a de toda a popula��o", disse, completando que "este � o momento de curar a Am�rica".

Internamente, Biden e Kamala Harris, sua vice, ter�o de enfrentar temas espinhosos, como o acirramento das tens�es raciais e a pandemia do coronav�rus. Os EUA s�o o pa�s mais afetado do mundo.

Externamente, as aten��es do futuro presidente norte-americano estar�o voltadas para v�rias dire��es. Se a quest�o ambiental deve afetar diretamente as rela��es com o Brasil, os olhares do democrata tamb�m ter�o de estar focados na retomada do acordo nuclear com o Ir� e no apaziguamento das rela��es comerciais com a China.

Para o coordenador do curso de Rela��es Internacionais da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Thiago Borne, o novo governo deve deixar de lado a pol�tica do "America First" (Am�rica Primeiro) de Trump. "Com a vit�ria de Biden, a pol�tica externa dos EUA possivelmente passar� por um processo de renova��o. Os democratas s�o, tradicionalmente, mais afeitos �s quest�es humanit�rias, e o novo presidente j� afirmou, durante a campanha, sua preocupa��o com o meio ambiente - trazendo, inclusive, o Brasil para a pauta. Al�m disso, � de se esperar que o pa�s volte a apostar no multilateralismo, desconstruindo o discurso trumpista de rep�dio a organiza��es internacionais, como a ONU e a OMC", afirma.

Borne, que � doutor em Estudos Estrat�gicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), lembra, por�m, que uma ret�rica mais polida n�o significa que os interesses do pa�s deixar�o de ser prioridade. "Vale lembrar, por exemplo, que Obama esteve em guerra durante os oito anos em que ocupou a Casa Branca", ressalta.

O pesquisador salienta que, a despeito do resultado das urnas, os interesses estrat�gicos mais caros dos Estados Unidos, uma pot�ncia de proje��o global, dificilmente ir�o mudar, na medida em que os EUA lidam com a necessidade de manter a sua pr�pria condi��o de poder e controle do sistema internacional. "O objetivo mais importante da nova presid�ncia continuar� sendo, portanto, a conten��o da China, mesmo que com uma postura muito mais comedida do que aquela adotada por Trump. O per�odo Obama deixou claro que um presidente estadunidense pode, sim, promover uma ret�rica mais conciliat�ria ao mesmo tempo em que viola direitos humanos em regi�es distantes e espiona chefes de Estado pela internet", observa Borne.

No que diz respeito � rela��o norte-americana com o Ir�, o trabalho de apaziguamento passa primordialmente pela retomada da validade do acordo nuclear, assinado em 2015, mas do qual os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em maio de 2018, com posterior aplica��o de san��es econ�micas ao pa�s �rabe. Em entrevista ao The New York Times no in�cio de dezembro, Biden garantiu que, se os iranianos cumprirem os termos assinados, os EUA ir�o voltar ao acordo, coisa que os aiatol�s est�o esperando ansiosamente. "Fala-se muito sobre m�sseis de precis�o e todas as outras coisas que est�o desestabilizando a regi�o. Mas o fato � que a melhor maneira de conseguir alguma estabilidade � lidar com o programa nuclear", disse Biden para o NYT.

J� no campo econ�mico, apesar de um posicionamento pol�tico mais no centro, o legado da gest�o atual n�o dever� ser superado nos primeiros momentos do novo governo. "Todo o planejamento econ�mico da Casa Branca em 2021 pode ser afetado por uma segunda onda do coronav�rus, com novos confinamentos e mais desacelera��o da atividade econ�mica. A condu��o da crise em 2020 por Trump ainda trar� consequ�ncias", afirma Leonardo Trevisan, economista e professor de Rela��es Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

A Am�rica Latina e o Brasil na gest�o democrata

Outro ponto importante � sobre como o novo governo ir� trabalhar as quest�es relativas � Am�rica Latina e, especialmente, ao Brasil. Os pa�ses ao Sul da linha do Equador nunca receberam muita aten��o norte-americana. E isso n�o deve mudar na gest�o Biden. A exce��o diz respeito ao Brasil e sua criticada pol�tica ambiental.

O professor da Univates acredita que o papel dos pa�ses perif�ricos se manter� inalterado na agenda dos EUA. "A Am�rica Latina, em especial, j� n�o � considerada uma regi�o priorit�ria h� algum tempo, com exce��o da Venezuela", aponta Thiago Borne. Em rela��o ao pa�s de Nicol�s Maduro, o professor acha ser poss�vel que a nova administra��o abandone a ret�rica de mudan�a de regime, abrindo maior espa�o para o di�logo.

Especificamente sobre o Brasil, o doutor em Estudos Estrat�gicos Internacionais cr� que a sa�da de Trump ocasionar� um forte impacto na diplomacia. "A pol�tica externa brasileira, que, nos �ltimos anos, vem rompendo com alguns de seus pilares tradicionais, perde o seu principal ponto de refer�ncia. Al�m disso, o Brasil corre o risco de ter de lidar com um discurso muito mais duro no que diz respeito �s quest�es ambientais", diz.

Para Rodrigo Augusto Prando, professor do Centro de Ci�ncias Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de S�o Paulo, a situa��o das rela��es econ�micas e diplom�ticas, com Biden na Casa Branca, deve, ao menos na quest�o ambiental, mudar de dire��o.

Doutor em Sociologia, ele acredita que Biden trar� � tona uma agenda ambiental e j� deixou claro estar atento � situa��o da Amaz�nia. "Certamente, estar�o na berlinda Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e Ernesto Ara�jo, das Rela��es Exteriores, ambos fortes membros da ala ideol�gica do governo", destaca, questionando se as vis�es pessoais permanecer�o acima dos interesses pol�ticos e econ�micos. "Haver�, por parte do governo brasileiro, uma a��o mais proativa e pragm�tica na diplomacia e rela��es comerciais ou a cartilha do olavismo continuar� na cabeceira dos ministros?", observa o acad�mico, se referindo ao escritor Olavo de Carvalho, uma esp�cie de guru da ala ideol�gica do governo Bolsonaro.

Outro ponto que tende a mudar sob o comando dos democratas � o que envolve a imigra��o. O governo Trump foi de endurecimento das pol�ticas migrat�rias, com o presidente defendendo a constru��o de um muro na fronteira com o M�xico, � separa��o de imigrantes ilegais de seus filhos, confinando-os em galp�es. A expectativa � de que haja mais facilidade para a obten��o de vistos e um tratamento mais humanit�rio aos imigrantes.

Muitas das inten��es do novo comando na Casa Branca, por�m, passam por uma maioria democrata. Na C�mara ela j� existe. No Senado, a situa��o ser� definida no dia 4 de janeiro, quando a Ge�rgia far� uma elei��o em segundo turno para definir os dois senadores do estado. Atualmente, os dois parlamentares s�o republicanos e buscam a reelei��o. Se os democratas vencerem - repetindo o resultado do pleito presidencial - o governo Biden ter� maioria na casa.

Coment�rios CORRIGIR TEXTO