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Conjuntura

- Publicada em 16 de Dezembro de 2021 às 19:04

Controle da inflação é a principal preocupação

Efeitos da crise da Covid-19 tem gerado alta de preços em todo o mundo

Efeitos da crise da Covid-19 tem gerado alta de preços em todo o mundo


PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC/
Assim como 2020, o ano de 2021 foi marcado pelas sequelas que a "destruição econômica" gerada pela pandemia de Covid-19 deixou. Uma das consequências mais importantes foi a inflação, que sobe em todo o mundo.
Assim como 2020, o ano de 2021 foi marcado pelas sequelas que a "destruição econômica" gerada pela pandemia de Covid-19 deixou. Uma das consequências mais importantes foi a inflação, que sobe em todo o mundo.
No Brasil, além de sofrer os efeitos de altas internacionais de preços, em especial de commodities, a inflação é alimentada pela elevação dos riscos internos relacionados aos aumentos de gastos pelo governo federal. Somados à alta taxa de desemprego em 13,2%, atingindo 13,7 milhões de trabalhadores, segundo a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esses fatores vêm impedindo previsões mais otimistas em 2022, alertam especialistas.
Em novembro, a inflação medida pelo IPCA acumulado em 12 meses atingiu 10,74%, o maior índice desde novembro de 2003. Segundo a última pesquisa Focus, do Banco Central (BC), a previsão do mercado financeiro é de que o IPCA em 2021 fique em 10,05%.
"A crise da Covid-19 se mostrou inflacionária. Não porque o choque inicial da pandemia era inflacionário, mas porque a combinação de ter restrições para a população produzir com uma resposta ultra agressiva dos governos e bancos centrais do mundo com auxílios econômicos para reverter esse choque fez com que houvesse ambiente pouco favorável para a produção e muito favorável para o consumo. Em mundo em que você produz pouco e compra muito, os preços sobem", explica Pedro Ramos, economista-chefe do Sicredi.
Além do choque de ofertas, houve problemas de gargalos na cadeia de produção, com aumento de valor de transportes, combustíveis e falta de produtos e insumos. "No Brasil também tivemos o preço da energia subindo, com o risco de um novo racionamento devido às poucas chuvas. O clima também atrapalhou a oferta de alimentos, que já estavam caros no mercado internacional", lembra Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.
Para conter a pressão inflacionária, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promoveu uma radical elevação dos juros básicos da economia. Entre janeiro e dezembro, a taxa Selic aumentou 7,25 pontos percentuais, passando da mínima histórica de 2% ao ano para 9,25% ao ano. Esse movimento deve prosseguir em 2022. O Copom já alertou que, na primeira reunião do próximo ano, a Selic deve ser elevada para 10,75% ao ano, mas o mercado financeiro já aposta em uma taxa de até 11,50% no final de 2022.
"Esse nível de taxa de juros deve sim ter efeito no controle de preços, com certa defasagem, em meados de 2022. É muito provável que a inflação do ano que vem, se extrapolar a meta do BC, que é de 3,50% ao ano, com teto em 5%, não fique muito acima desse objetivo", afirma Fernando Marchet, CEO da Bateleur. Para 2022, a última pesquisa Focus do BC prevê uma inflação de 5,02% ao ano.

PIB deve apresentar estagnação no próximo ano

Com a inflação diminuindo o poder de compra da população e a alta de juros impactando na decisão dos novos investimentos, a economia tende a sofrer em 2022. Neste ano, até o terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 5,7% contra igual período de 2020, de acordo com o IBGE, em boa parte como recuperação das perdas do impacto inicial da pandemia, com o fim das restrições impostas às atividades econômicas. A última pesquisa Focus, do Banco Central (BC), estima um crescimento de 4,65% no PIB de 2021.
No entanto, com recuos de 0,4% e de 0,1% no segundo trimestre e terceiro trimestres, respectivamente, em comparação com os três meses anteriores, a economia brasileira dá sinais de estagnação. "Nossa projeção é de um crescimento no quarto trimestre bem pequeno, perto de 0%, o que, em teoria, nos tiraria da recessão técnica", comenta Pedro Ramos, economista-chefe do Sicredi. "O resultado do PIB do último trimestre de 2021 será muito dependente do consumo nas festas do final de ano e do crescimento do comércio. Este setor vem apresentando tendência de queda desde a metade de 2021, com a população sofrendo os impactos da inflação", afirma Eduardo Tellechea Cairoli, CEO da Privatto Multi Family Office.
Para 2022, o último Boletim Focus aponta crescimento de apenas 0,50% no PIB. "O próximo ano vai sofrer de crescimento baixo", alerta Fernando Marchet, CEO da Bateleur. Segundo o especialista, o próprio remédio do BC para controlar a inflação (o aumento de juros) pode travar a atividade econômica, por encarecer financiamentos e desincentivar o investimento. "Os juros nestes níveis mais elevados devem potencializar a situação em que o PIB crescerá vagarosamente nos próximos trimestres", destaca.
Entre os indicadores que os especialistas afirmam que devem ser analisados para observar uma retomada econômica no próximo ano está a taxa de desocupação do IBGE, que indicará o grau de aquecimento do mercado de trabalho.
"Hoje temos uma retomada, o setor de serviços vem apresentando melhora, as cadeias produtivas estão se organizando para reduzir gargalos de produção e há uma perspectiva de que o clima melhore, ajudando tanto a produção agrícola quanto as reservas de água para produção de energia. Isso tudo pode ajudar no crescimento do PIB", aponta Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.
Além disso, fatores externos podem contribuir positivamente. "Esperamos um crescimento muito forte da economia norte-americana em 2022, o que poderá promover uma maior demanda pelas nossas commodities e recuperação via comércio exterior, com o setor agropecuário novamente sendo uma exceção ao menor desempenho de outros setores", afirma Cairoli.
 

Eleições podem atrapalhar recuperação econômica

Anos eleitorais geralmente causam maior incerteza no mercado

Anos eleitorais geralmente causam maior incerteza no mercado


Abdias Pinheiro/SECOM/TSE/JC
Um fator que pode ter consequências negativas para a economia em 2022 é o fato de que os brasileiros terão que ir às urnas no próximo ano para escolher quem comandará o País.
Um dos principais entraves causados pela incerteza eleitoral é a maior postergação da decisão de investimentos por parte da iniciativa privada. "Um ano eleitoral tende a prejudicar a economia, porque a gente sempre depende do próximo governo ser eleito para resolver problemas estruturais. Na incerteza, o mercado não faz apostas, o investidor prefere 'sair do jogo' e voltar quando as coisas estão claras", comenta o economista-chefe do Sicredi, Pedro Ramos.
Para Fernando Marchet, CEO da Bateleur, as questões fiscais e as visões dos candidatos que liderarem a corrida eleitoral sobre o papel do Estado na economia deverão dar os rumos para o comportamento dos empresários e investidores.