Após uma safra 2020/21 com custos baixos e preços impulsionados pela inflação - garantindo o recorde de receita de R$ 73,56 bilhões para os produtores rurais gaúchos, valor quase 90% maior do que a colheita anterior - a produção agrícola do Rio Grande do Sul enfrenta um cenário completamente diferente para a safra 2021/22.
As despesas com insumos dispararam neste ano. Entre outubro de 2020 e outubro de 2021, os custos para produção de arroz avançaram 28,2%. No milho, o aumento foi de 53,7%. Na soja, 40,6%, e 49,8% no trigo. No mesmo período, os preços recebidos pelos produtores estiveram praticamente estagnados, com leve alta de 0,6%.
"O ano de 2021 foi um ponto fora da curva. Passamos a ter uma situação completamente diferente, com preços mais baixos e custos explodindo. Isso significa perda de margem. Podemos ter bem menos rentabilidade", analisa o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz. Esses desafios devem persistir para a safra de inverno e, inclusive, para a safra de verão 2022/23.
Os fertilizantes têm se apresentado como um novo gargalo para o agronegócio mundial. Cada produto químico aplicado nas lavouras ao redor do mundo tem seu problema particular. Além de custos nas alturas, não pode ser descartada a hipótese de escassez em escala global. "Pode haver falta. Não é o cenário com o qual nós trabalhamos, mas não podemos descartá-lo. E não apenas no Rio Grande do Sul. Se houver escassez, não será só aqui, será no planeta", afirmou Antônio da Luz.
Segundo o analista de fertilizantes do Safras e Mercados, Maísa Romanello, os volumes estão garantidos para o primeiro semestre. Agora, "para a safra 2022/23, já é mais incerto", afirma. A maior incerteza é quanto aos fertilizantes derivados do potássio. Principal fornecedora mundial, a Bielorrússia sofre sanções econômicas impostas pela União Europeia, Suíça, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, em represália ao governo de Alexander Lukashenko.
A demanda pelos fosfatados russos utilizados nas lavouras brasileiras aumentou após a China, outra grande produtora, barrar parte das exportações. A ureia está cara por conta do preço do gás natural, sua principal matéria-prima. "É difícil fazer uma previsão de preços para o ano que vem. A expectativa é que a alta permaneça no primeiro semestre. Geralmente, os produtores antecipam bastante as compras, e em janeiro já estariam comprando, mas não vemos esse movimento por conta dos preços. Se o produtor esperar queda, e ela não ocorrer, o plantio vai ficar próximo, e se todos forem ao mercado ao mesmo tempo, haverá problemas de logística e de preços ainda mais altos", avalia Romanello.
A logística tem sido outro gargalo não apenas para o agronegócio gaúcho e brasileiro, mas para todo o comércio internacional. A oferta de estaleiros não suportou a alta na demanda pelo frete marítimo, o que ocasionou alta de preços. O preço de um contêiner de 20 pés na rota Xangai-Santos, por exemplo, saltou de US$ 1,5 mil em agosto de 2020 para US$ 11 mil em novembro deste ano.