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Missão RS nos EUA

- Publicada em 08 de Março de 2022 às 01:19

Parque em Nova York pode servir de inspiração para o Cais Mauá

Nos meses de verão, complexo de lazer junto à Ponte do Brooklyn atrai 5 milhões de pessoas

Nos meses de verão, complexo de lazer junto à Ponte do Brooklyn atrai 5 milhões de pessoas


GUILHERME KOLLING/DIVULGAÇÃO/JC
Guilherme Kolling, de Nova York
Guilherme Kolling, de Nova York
Famosa em imagens de filmes ou guias turísticos sobre Nova York, a Ponte do Brooklyn é de fato um cartão postal da metrópole norte-americana. O que nem todo mundo sabe é que a estrutura sobre o East River, que faz a ligação com Manhattan, abriga um parque que recebe, apenas nos meses de verão, cerca de 5 milhões de pessoas. Uma das partes do local foi inaugurada há poucos meses, em dezembro de 2021.
A área total de 34,5 hectares - semelhante ao tamanho do Parque da Redenção - tem edifícios, bares, restaurantes, espaços de lazer, quadras esportivas, ciclovias, praias e até vista para a Estátua da Liberdade. Mas antes de se tornar um polo de entretenimento e mais uma atração turística de Nova York, passou por uma grande revitalização, que foi realizada em etapas e levou décadas. O custo total foi de US$ 400 milhões, cerca de R$ 2 bilhões.
O espaço foi visitado pela missão do governo do Rio Grande do Sul na tarde desta segunda-feira (7) e pode servir de inspiração para o projeto de revitalização do Cais Mauá, cuja modelagem está sendo detalhada e deve ficar pronta em alguns meses. A comitiva liderada pelo governador Eduardo Leite fez um roteiro pelo Brooklyn Bridge Park - nome do local em inglês -, onde foi recebida pelo presidente do parque, Eric Landau.
A área que era portuária-industrial estava abandonada, sem uso, por anos, mesmo ficando de frente para os arranha-céus de Manhattan, com uma bela vista que ainda inclui a Ponte do Brooklyn. Agora, recebe um movimento de milhões de pessoas.
Assim como prevê o projeto do Cais Mauá, o complexo tem uso residencial e comercial, de onde obtém recursos alugando espaços para cafés, restaurantes e outros empreendimentos, sem receber aportes públicos. "Esse modelo é excelente para a comunidade - basta ver a quantidade de público que atrai. E, ao mesmo tempo, é excelente também para incorporadores, que buscam novos espaços na cidade, pois podem desenvolver novos projetos", apontou Landau com entusiasmo, em uma breve entrevista aos jornalistas que acompanham a missão. O modelo tem 90% de área pública do parque e 10% de espaço privado, residencial e comercial. A receita de taxas e aluguéis é revertida para o parque, que assim consegue se financiar.
Questionado pela reportagem sobre quanto tempo o parque levou para ser transformado, Landau informou que foram 20 anos de debates a partir dos anos 1980 com lideranças comunitárias, gestores públicos, empreendedores e outros atores locais. A discussão era o que o local deveria se tornar. "Felizmente, a decisão fez com que esse lugar se tornasse um incrível parque público", diz Landau.
O presidente do Brooklyn Bridge Park diz que a iniciativa começou a sair do papel no início dos anos 2000, com o planejamento do espaço, como seria construído, que elementos teria - quadras esportivas, praças infantis etc - como seria a divisão dos lugares e o modelo econômico-financeiro. O parque foi feito em etapas, uma delas inaugurada em 2010 e a mais recente em dezembro de 2021, junto à ponte.
O governador Eduardo Leite fez uma comparação com o Cais Mauá, cujo processo de revitalização também é debatido há décadas.
"Houve 20 anos de debate com a comunidade aqui (em Nova York). Sempre que falamos sobre nossas dificuldades, (se diz) 'ah, que absurdo, Porto Alegre, quanto tempo desperdiçado'... É um tempo que de fato desanima, tudo que se levou para discutir o Cais, mas não é diferente aqui nos Estados Unidos, onde se tem um setor privado com vontade de investir e mais facilidades, em tese, do que temos lá. Mas aqui levou 20 anos de debate e depois mais 10 anos para definir o modelo e construir o parque. Então, tenho segurança de que vamos superar os desafios para entregar um parque renovado a partir do Cais Mauá", concluiu o governador, que ainda citou a semelhança dos locais por serem portuários e de frente para o rio.
Leite ainda observou as dificuldades na modelagem do Parque do Brooklyn. A cidade de Nova York criou uma entidade que gere o espaço. Mas há diferenças - nos Estados Unidos a área pode ser repassada ao empreendedor privado por 99 anos, no caso gaúcho, por no máximo 50 anos. O governador ainda destacou a importância de seguir o modelo do Brooklyn Bridge Park no sentido de que o empreendedor privado fique responsável pela manutenção do espaço depois de revitalizado e sua operação.
No caso do Parque do Brooklyn, há ainda uma preocupação especial com a comunidade do entorno, diferentes usos e públicos, inclusive, com uma das edificações garantindo 80% dos espaços para moradias populares.

Modelagem do Cais Mauá será concluída nos próximos meses

O governo do Estado espera concluir nos próximos meses a modelagem de revitalização do Cais Mauá e levar a leilão o espaço. O projeto prevê a revitalização dos armazéns e a construção de torres residenciais e comerciais na área das Docas - a altura será de até 200 metros, de acordo com a revisão do Plano Diretor específica para o Centro Histórico, aprovada no ano passado na Câmara Municipal de Porto Alegre.
 
Presente na agenda em Nova York, o secretário estadual de Parcerias, Leonardo Busatto, também destacou semelhanças do Cais Mauá com o Brooklyn Bridge Park. "Aqui, 10% da área é destinada ao privado - hotéis, restaurantes, espaços comerciais, residências. Lá (em Porto Alegre), menos de 10% do Cais Mauá vai ser reservado para isso." Também reiterou que o projeto levou anos e foi feito em fases. "Na medida em que foi concluído aqui e as pessoas começaram a usar, a comunidade, que tinha uma certa resistência, começou a ver que a revitalização trazia gente, movimento, trazia receita. Então, a aceitabilidade do projeto foi ficando cada vez maior. É também nosso desafio, mostrar que é possível em Porto Alegre, que as pessoas voltem a usufruir do espaço, que certamente tem um círculo virtuoso para acontecer. Fazendo o leilão nesse ano e o início das obras no ano que vem", projetou Busatto. "Quem sabe o Cais Mauá vai ser o nosso Brooklyn Bridge Park do futuro", concluiu.
 
O secretário que está à frente do projeto observou ainda que no Cais Mauá também estão previstos espaços públicos, praças, espaços de passeio, ciclovias. "O próprio Cais Embarcadero já tem quadras de beach tennis, espaço de lazer, bicicletário... Não tem como revitalizar um espaço sem pessoas. As inspirações são muitas, claro, há diferenças, os armazéns do Cais serão preservados. Mas mais de 90% da área poderá ser utilizada para lazer e entretenimento."