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Clima

- Publicada em 06 de Março de 2022 às 19:10

Mesmo confiantes, produtores temem os efeitos da estiagem no setor

Levantamento da Farsul indica uma redução de 14,44 milhões de toneladas de grãos na safra deste ano

Levantamento da Farsul indica uma redução de 14,44 milhões de toneladas de grãos na safra deste ano


/FELIPE DALLA VALE/PALÁCIO PIRATINI/DIVULGAÇÃO/JC
Além do foco em tecnologias e inovações para o campo, a estiagem também será um dos temas centrais da Expodireto. O problema da falta de água no Rio Grande do Sul também deve entrar nos debates.
Além do foco em tecnologias e inovações para o campo, a estiagem também será um dos temas centrais da Expodireto. O problema da falta de água no Rio Grande do Sul também deve entrar nos debates.
Esta não será a primeira edição da feira a ocorrer em um período de prejuízos gerados pelo clima no Estado. A Expodireto de 2005 também aconteceu em condições de estiagem semelhantes. Assim como a última edição presencial, em 2020, que, além de ter ocorrido na fase inicial da pandemia de Covid-19 no Brasil, também enfrentou dificuldades geradas por uma forte seca.
"O produtor não pode ficar em casa se lastimando", afirma Nei Cesar Manica, presidente da Cotrijal. Contudo, apesar do tom otimista, as últimas informações referentes ao volume das perdas na produção de grãos e o impacto econômico na economia do Estado geram preocupação para o setor do agro gaúcho.
Como consequência dos efeitos da estiagem, a quebra na produção agrícola irá atingir severamente todos os setores da economia gaúcha, a ponto de a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) esperar uma redução de até 8% no PIB do Estado neste ano. O levantamento foi divulgado há dez dias, durante reunião virtual que contou participações de deputados, produtores rurais e o governador Eduardo Leite.
"Quando o clima está favorável, a tendência é acabarmos esquecendo de discutir essas questões", disse Leite, ao defender que este é o momento para se debater ideias sobre a revisão de legislações federais que regulam as reservas de água. "Ninguém quer crescer à custa de degradação ambiental, mas não pode haver simplesmente ficar sem água", completou o governador. Ele completou informando que o governo estadual já separou R$ 200 milhões de para ações de médio e longo prazo com o objetivo de reduzir futuros danos causados pela escassez hídrica no campo.
O estudo apresentado pela Farsul também indica uma diminuição de 14,44 milhões de toneladas de grãos na safra atual. Em termos práticos, caso a totalidade de grãos perdidos fosse colocada em caminhões de dois eixos com capacidade de 57 toneladas cada veículo, seriam necessários 253,3 mil caminhões para dar conta do serviço. Caso colocados em fila, os veículos traçariam um percurso de 5.269 quilômetros, suficiente para cobrir a distância de Porto Alegre a Belém, no Pará, e depois retornar para São Paulo.
Apesar dos efeitos negativos causados pela seca, os organizadores da Expodireto mantêm a convicção de que a demanda reprimida por um espaço físico para a exibição de produtos e de novas tecnologias, após a pausa de um ano da realização do evento, deverá atrair a presença dos agricultores e incentivar propostas de negócios. Todavia, parte do setor considera inevitável os impactos econômicos da estiagem deverão afetar as decisões de investimento dos produtores rurais.
"A Expodireto é uma grande feira, um palco para os debates relevantes do agro gaúcho e brasileiro, além de discussões setoriais. As empresas se preparam durante todo o ano para levar à feira aquilo que elas melhor desenvolveram em termos de inovação e os produtores vão pra lá para conhecer isso. Nem sempre os negócios acontecem em um ambiente de feira. Uma exposição tem o objetivo de mostrar, e como mostra ela será um sucesso", pondera o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. "Talvez o principal mote, neste ano, não seja a venda em si, e sim servir de palco para discussões que serão importantes para encontrarmos soluções neste momento de estiagem", destaca o economista da Farsul.
"Fazer investimentos em um ano de euforia ou deixar de fazer investimentos em ano de depressão, ambos são incorretos. Temos que fazer investimentos que sejam necessários e viáveis economicamente. Agora, é isso que os produtores vão fazer? Muitos, sim. Outros, não. As pessoas se movem por emoções. Os produtores que se movem pela emoção vão chegar na feira com ânimo fraco para fazer investimentos", finaliza Antônio da Luz.

Tema deve aparecer em diversos eventos da programação

Abertura de novos açudes ajuda a reduzir possíveis prejuízos com a estiagem

Abertura de novos açudes ajuda a reduzir possíveis prejuízos com a estiagem


/Evandro Oliveira/Seapdr/JC
Na esteira das discussões sobre a estiagem, a Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa aprovou a realização de uma audiência pública dentro da programação da Expodireto para debater as formas de enfrentamento frente às consequências da seca no Estado. O evento ocorrerá na sexta-feira próxima, e por sugestão do deputado Clair Kuhn (MDB), deverá contar com a elaboração de uma pauta mínima de demandas e ações visando a solução do problema durante o encontro.
Responsável por organizar e promover o 32º Fórum Nacional da Soja, que ocorrerá amanhã na feira, a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS) reforça a intenção de buscar soluções que atenuem os efeitos da estiagem ao produtor. De acordo com os dados enviados pela entidade, baseados em levantamento realizado pela RTC (Rede Técnica Cooperativa), na soja os prejuízos poderão chegar a R$ 43 bilhões devido à perda de 63% na safra esperada. No milho, com quebra de 70%, as perdas são estimadas em R$ 6,35 bilhões.
"Não tenho dúvidas de que a estiagem pode influenciar de maneira forte o mercado e a questão do comércio e dos negócios da feira. Estamos vivendo um momento de dificuldade de créditos e de falta de entusiasmo do setor produtivo", lamenta Paulo Pires, presidente da Fecoagro. "Mas também não podemos entrar neste giro de depressão. Temos que olhar para a frente, e eu entendo que a Expodireto pode ser o nosso ponto de retomada. Neste sentido, mesmo que os negócios não sejam tão exuberantes como em um ano normal, a feira é de fundamental importância", enfatiza.
"A Fecoagro está intimamente envolvida na feira. Como diz o presidente Manica, é uma feira das cooperativas. A Expodireto pode aquecer a nossa economia. A feira pode mostrar que não podemos ficar lambendo feridas. Este será um ano muito difícil, mas não tenho dúvidas que temos que virar esta página", declara Pires.
"A questão do clima não depende de nós. Acredito que as medidas dos governos federal e estadual na feira serão muito convergentes neste sentido. Entendemos que, até certo ponto, se esgotou o assunto das perdas, as pessoas estão mais interessadas em saber sobre as soluções", ressaltou o presidente da federação das cooperativas.