A manutenção da boa produtividade da soja para o próximo ciclo está diretamente ligada à tecnologia investida na lavoura. A evolução do maquinário explica muito da produtividade média acima dos 3,3 mil quilos colhidos do grão a cada hectare nesta última safra. Parte do lucro da supersafra refletiu na compra de novas máquinas e implementos agrícolas. O Rio Grande do Sul é o maior fabricante do País e as vendas aumentaram 22,2% no primeiro trimestre. Somente em janeiro, quando a safra da soja viveu a virada positiva deste ciclo, a comercialização das máquinas foi 38,5% superior ao mesmo mês de 2020.
"É um bom ano de rentabilidade para o setor, mas não um ano para jogar dinheiro para cima. O melhor a fazer é investir na sua atividade, em tecnologia e melhoria de rendimento", alerta o presidente da Fecoagro, Paulo Pires.
Em São Luiz Gonzaga, o produtor rural Ronei Baiotto comprou uma colheitadeira nova aproveitando o resultado excelente da safra de soja, além de investir em melhorias na armazenagem própria, mas esbarrou nas consequências da pandemia que afetam o desempenho da indústria: falta matéria-prima no ritmo em que o mercado de veículos, e de máquinas, demanda. Com isso, a espera aumentou. "Comprei a colheitadeira em fevereiro, mas a fabricante precisou me mandar uma outra, provisória, porque não conseguiu entregar ainda na colheita, e só recebi em julho. E se eu deixasse para comprar agora o mesmo equipamento, pagaria R$ 900 mil a mais", conta o produtor.
Situação semelhante aconteceu com o novo galpão com armazenagem para os grãos, como ele relata: "Acabei pagando mais do que o dobro do que tinha cotado no ano passado, e recebi com 120 dias de atraso. Comprei em março e só agora está chegando o ferro e o aço para a montagem. O fabricante disse que está com muita dificuldade para receber o aço."
A verdade é que o agro tem impulsionado a saída do setor de maquinário da crise. Conforme os indicadores do primeiro trimestre do agronegócio do Rio Grande do Sul, o setor de fornecimento de insumos, máquinas e equipamentos para a agropecuária registrou saldo positivo de 2.539 empregos formais. "A produção das nossas 300 fábricas nunca chegou a parar, e algumas chegaram a dobrar a operação, mas faltam componentes no mercado, principalmente aço e chips, então o preço aumenta muito e não podemos passar tudo isso ao consumidor. Tivemos casos de fornecedores subindo o preço a cada 15 dias. Eu diria que, em média, o setor tem repassado 50% do que enfrentamos com a alta, principalmente do aço, que subiu 40% neste ano", explica o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), Cláudio Bier.
Segundo ele, em qualquer uma das fábricas gaúchas, a entrega não tem acontecido em menos de 120 dias. E o mercado terá que se adaptar com a demanda crescente. "Acredito que a procura ainda vai aumentar para a próxima safra. Temos muita tecnologia nova embarcada, e todos querem ter essa vantagem na sua propriedade. Quanto mais avançado o parque de máquinas, maior a possibilidade de se conseguir rendimento em uma mesma área, sem a necessidade de investir em aumento do plantio", avisa Bier.