Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Entrevista

- Publicada em 15 de Outubro de 2021 às 18:29

'Relação médico-paciente se transformou na pandemia', diz dirigente de hospital

Nasi aponta uma reaproximação de todas as áreas da Medicina

Nasi aponta uma reaproximação de todas as áreas da Medicina


/Leonardo Lenskij/DIVULGAÇÃO/JC
Osni Machado
Nesta entrevista ao JC, o superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, Luiz Antonio Nasi, comenta as mudanças observadas na relação médico-paciente durante a pandemia.
Nesta entrevista ao JC, o superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, Luiz Antonio Nasi, comenta as mudanças observadas na relação médico-paciente durante a pandemia.
Jornal do Comércio - A pandemia da Covid-19 intensificou a troca de conhecimento médico?
Luiz Antonio Nasi - Foi uma reaproximação de todas as áreas e subáreas da Medicina, que envolvem desde as ciências biomédicas até a pesquisa pesquisa de bancada, os pesquisadores trialistas (como chamamos especialistas que montam ensaios clínicos para obtenção das melhores respostas, não só de efeito, mas também de eventos adversos) etc. Passamos a trabalhar de forma mais integrada. E foi necessária uma velocidade maior aliada a essa integração, mais agilidade ao gerar conhecimento de aplicação prática dentro de um contexto de transformação da vida das pessoas, causada por essa doença.
JC - Houve um esforço para se obter informações e transpor as barreiras na área médica?
Nasi - A área médica não tem fronteiras. Há muitas décadas temos, no Hospital Moinhos de Vento, medicina e assistência de excelência alinhadas ao que é feito de mais inovador nos grandes centros de saúde do mundo. Acompanhamos em tempo real as publicações, as principais pesquisas. O que mudou foi que precisamos transpor as barreiras da área médica pela necessidade de dar respostas rápidas frente ao vírus desconhecido. E isso ampliou a colaboração, mas também nos trouxe uma certa preocupação. Ela é fundamental para que os resultados sejam duradouros e tenham os benefícios que toda a população espera.
JC - A relação médico-paciente se transformou neste período da pandemia? Qual é a sua análise?
Nasi - A relação médico-paciente também se transformou nesses quase dois anos. Na verdade, todos os pacientes ficaram amedrontados com a probabilidade da morte batendo na porta. Muitos tiveram crises de pânico, ansiedade, estão deprimidos. Isso acontece principalmente com os idosos, que moram sozinhos, assim como pessoas acometidas por doenças crônicas. Todos esses aspectos interferem nesta relação médico-paciente. E destaco que o grande desespero das pessoas é saber qual o seu risco em ter a doença e, adquirida a doença, como isso pode ser amenizado, como evitar sequelas ou a morte. Esses sentimentos carregam uma exigência adicional ao médico, porque ele também não dispõe integralmente dessas respostas. Mas o profissional tem a obrigação de dizer a verdade e, inclusive, demonstrar a sua insegurança em relação ao temor sobre algumas práticas médicas que eventualmente não foram ainda suficientemente testadas.
JC - Muitas pessoas deixaram de procurar seus médicos neste período. Quais são os riscos em retardar as consultas?
Nasi - As principais consequências do cenário de restrições de atendimento foram sentidas nas áreas da cardiologia e da oncologia. O mundo inteiro registrou um aumento significativo do número de diagnósticos, muitos tardios, especialmente nos últimos meses, em função da demanda reprimida. As pessoas ficaram com medo de ir aos hospitais e aos consultórios médicos para realizar os seus exames, suas consultas. Essa demanda reprimida pode ter consequências perigosas e desastrosas para o paciente devido à evolução da doença, seja ela cardíaca ou oncológica. O diagnóstico precoce e o tratamento, feito de uma forma profissional, são fundamentais para se evitar complicações graves.
JC - A telemedicina veio para ficar?
Nasi - A telemedicina ganhou muita evidência e importância durante a pandemia. Enfrentamos uma certa resistência das entidades médicas, mas ela surgiu como alternativa eficaz. Acho que não tem retorno. Ela faz o atendimento chegar às pessoas de uma forma adequada, promove conhecimento, proporciona a troca de informações relevantes para que se possa tranquilizar os pacientes, permite avaliar riscos e, a partir da consulta remota, fazer os encaminhamentos adequados. Não significa que vamos usar a telemedicina para fazer um tratamento completo e perene. Mas precisamos dela para avaliar os pacientes de risco, estimar a probabilidade desse paciente precisar de exames complementares, até para detectar a necessidade de buscar a emergência do hospital ou um serviço especializado. Então, seguramente, a telemedicina vai ser incorporada à rotina do atendimento médico, respeitando a ética e adequada aos protocolos médicos.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO