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coronavírus

- Publicada em 25 de Maio de 2020 às 03:00

Pandemia impacta 90% da indústria do Rio Grande do Sul

Pesquisa da Fiergs indica que setor de móveis foi um dos mais prejudicados pela redução nas operações

Pesquisa da Fiergs indica que setor de móveis foi um dos mais prejudicados pela redução nas operações


ANDRÉ NETTO/ARQUIVO/JC
Os reflexos da propagação do coronavírus são inéditos para a economia do Rio Grande do Sul. O economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes, destaca que a pandemia afetou mais de 90% da indústria gaúcha, provocando paralisação na produção, queda intensa na demanda por produtos e dificuldade na obtenção de matérias-primas. No final de março, o Estado registrou 57,4% das indústrias com operações completamente paralisadas. "Por sorte, a retomada começou a ser lentamente restabelecida ao longo de abril", comenta Nunes.
Os reflexos da propagação do coronavírus são inéditos para a economia do Rio Grande do Sul. O economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes, destaca que a pandemia afetou mais de 90% da indústria gaúcha, provocando paralisação na produção, queda intensa na demanda por produtos e dificuldade na obtenção de matérias-primas. No final de março, o Estado registrou 57,4% das indústrias com operações completamente paralisadas. "Por sorte, a retomada começou a ser lentamente restabelecida ao longo de abril", comenta Nunes.
Ele acrescenta que a queda foi muito disseminada, mas os setores com maiores perdas na produção foram os de bebidas, móveis, couros e calçados, veículos automotores e máquinas e equipamentos. Na ponta positiva estava o segmento de alimentos e alguns ramos da cadeia farmacêutica e química que conseguiram manter a atividade e a demanda durante o surto. Conforme o economista-chefe da Fiergs, o setor industrial sofreu uma parada abrupta, o que impactou uma longa cadeia de fornecimento. Os dados da produção física mostraram uma redução mensal nunca vista. Em março, o recuo foi de 20% em relação a fevereiro, já descontados os efeitos sazonais. Nos indicadores da Fiergs, a diminuição do faturamento do setor foi de 7,3% na mesma base de comparação.
Nunes enfatiza que os números obtidos pelas notas fiscais eletrônicas da indústria retratam uma dimensão dos valores envolvidos. A informação divulgada pela Secretaria da Fazenda do Estado mostra que, após 53 dias do início da pandemia (período de 16 de março até 8 de maio), houve uma queda de 20% no valor das notas fiscais em relação ao mesmo período de 2019 - o que representa uma perda de
R$ 9,3 bilhões. A retração na atividade também impactou os trabalhadores. Em consulta realizada com mais de 300 indústrias gaúchas, os resultados mostraram que 57,6% delas adotaram alguma das medidas previstas na Medida Provisória (MP) nº 936/2020, que possibilita a suspensão do contrato de trabalho ou a redução de jornada e salários. Além disso, 46,2% informaram já ter dispensado colaboradores.
Entre os diversos desdobramentos possíveis da pandemia, Nunes destaca dois cenários que acredita serem os mais prováveis e que abarcam a maioria das possibilidades para os próximos meses. O primeiro deles, mais otimista, e que parece ser o panorama-base da maioria dos analistas, está alicerçado na hipótese de que o gradual processo de abertura e retomada da atividade iniciado em maio terá continuidade sem que haja um significativo impacto das segundas ondas de surto de coronavírus. Assim, surtos localizados teriam como resposta das autoridades públicas a retomada do distanciamento em algumas cidades, mas nada comparável com a paralisação de abril. Dentro dessa perspectiva, a atividade industrial retornaria com mais força já em junho e continuamente a partir do terceiro trimestre.
O quadro alternativo, mais pessimista, trata de abranger a hipótese de novos surtos com ondas de intenso fechamento da economia ao longo de todo o ano de 2020 até que se chegue a um elevado grau de imunização da população ou um tratamento ou vacina seja apresentado. "Nesse caso, os impactos econômicos seriam ainda mais catastróficos, tendo em vista que, a cada tentativa frustrada de abertura, os reflexos econômicos se multiplicariam com pressões sobre as autoridades públicas para agirem com ainda mais rigidez", alerta o economista-chefe da Fiergs.
De acordo com Nunes, no cenário mais otimista, seria possível retornar ao patamar de fevereiro de 2020 até o final do primeiro semestre de 2021. "No alternativo, teríamos um maior volume de perdas permanentes na nossa capacidade produtiva e seria necessário bem mais de um ano para restabelecer o patamar anterior", adverte.

Recuperação deve ser mais rápida para fabricantes de matérias-primas

Demanda fraca também tem afetado as exportações do Estado

Demanda fraca também tem afetado as exportações do Estado


WENDERSON ARAUJO/TRILUX/CNA/DIVULGAÇÃO/JC
Os setores relacionados aos bens intermediários, aqueles que fornecem matérias-primas e insumos para a produção, devem verificar uma retomada mais célere, prevê o economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes. Esse campo abrange segmentos como químicos, metalurgia, materiais de construção e peças. "Logo em seguida, com a diminuição das incertezas, esperamos o início de uma reação nas vendas de bens duráveis, como móveis e veículos", acrescenta o integrante da Fiergs.
Sobre as exportações gaúchas, Nunes diz que elas têm apresentado uma tendência de baixa desde o final do ano passado. A economia mundial já mostrava sinais de desaceleração, e as exportações do Rio Grande do Sul sofriam por conta da contração na demanda. "A pandemia deixou o mundo mais pobre, portanto esperamos que a tendência de queda se acentue nos próximos meses", comenta o economista.
Do ponto de vista econômico, Nunes argumenta que a crise acelerou e ressaltou processos e comportamentos que estavam acontecendo, ainda que de maneira mais comedida. "Nesse caso, não falo apenas da digitalização da economia, que apressou as mudanças na educação, no turismo de negócios, e nas formas de consumo, mas também do comércio internacional", explica. Nos últimos anos, segundo o economista, já se observava uma tendência de deixar as fronteiras entre os países mais demarcadas por conta da intensificação nas disputas comerciais e sociais.
Agora, os defensores de uma economia mais fechada ganharam um palanque importante. A disputa entre segurança, através da internalização das cadeias produtivas, e eficiência pode pender mais para a segurança. "O grande penalizado disso será o crescimento mundial de longo prazo, que tende a ser menor a partir de agora", projeta Nunes.