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Dia da Indústria

- Publicada em 24 de Maio de 2020 às 21:04

Empresas devem cuidar do caixa neste momento, diz Gilberto Petry

Presidente da Fiergs avalia que crise só deve diminuir após a descoberta de uma vacina contra a Covid-19

Presidente da Fiergs avalia que crise só deve diminuir após a descoberta de uma vacina contra a Covid-19


LUIZA PRADO/JC
Cristiano Vieira
Conforme o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, o ano de 2020 já terminou para o setor industrial, devido às elevadas perdas no setor com a Covid-19. Segundo o dirigente explica na entrevista a seguir, as indústrias agora devem trabalhar para tentar reduzir os prejuízos, pois não se vislumbram, ainda, sinais de um fim para a crise gerada pela pandemia no Brasil e no mundo. Ele alerta, também, que é fundamental cuidar do caixa das empresas.
Conforme o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, o ano de 2020 já terminou para o setor industrial, devido às elevadas perdas no setor com a Covid-19. Segundo o dirigente explica na entrevista a seguir, as indústrias agora devem trabalhar para tentar reduzir os prejuízos, pois não se vislumbram, ainda, sinais de um fim para a crise gerada pela pandemia no Brasil e no mundo. Ele alerta, também, que é fundamental cuidar do caixa das empresas.
Jornal do Comércio - Com a crise do coronavírus, 2020 deve terminar bem diferente do que começou. Qual é a expectativa para a indústria?
Gilberto Petry - Começou com uma expectativa de alta e irá terminar como um ano perdido. Do ponto de vista operacional das empresas, pelas perdas detectadas, o ano já terminou, inclusive. O que precisamos fazer, agora, é trabalhar para tentar reduzir prejuízos.
JC - É possível esperar um 2021 melhor?
Petry - Não sabemos, porque, para dizer a verdade, ninguém sabe até quando essa situação vai. A solução definitiva só virá de duas maneiras: com o surgimento de uma vacina, o que ainda parece estar longe de ocorrer, uma vez que precisa fazer testes antes de colocá-la no mercado. Depois, ainda, é preciso fabricá-la, com autorizações sanitárias, e isso leva um bom tempo. Na melhor das hipóteses, sendo otimista, leva um prazo mínimo de seis meses.
JC - E não há um medicamento eficaz ainda...
Petry - Essa é a segunda maneira, um coquetel de medicamentos para tratar a doença, de modo que, tomou, ficou bom. Na situação atual, não temos alternativa para o coronavírus. A tal hidroxicloroquina é e não é, ao mesmo tempo, o redemsivir também, então, é cedo para dizer.
JC - O jeito é esperar passar?
Petry - Sim, não há o que fazer. Precisamos segurar o caixa das empresas, porque uma empresa só quebra quando atinge o seu caixa. Quando a contabilidade detecta que ela quebrou, é porque já estava há muito tempo. Fundamental é segurar o caixa, adequando a empresa ao que ela dispõe naquele momento. Aí é esperar que, em 2021, isso tudo tenha passado e a economia volte à atividade normal, ou seja, com as empresas produzindo e vendendo, as pessoas comprando, pagando imposto, pagando funcionário etc.
JC - As medidas anunciadas pelo governo, como suspensão de contratos e redução salarial, têm ajudado as empresas?
Petry - Só voltaremos ao normal quando o consumo se normalizar. No cenário atual, até por não saírem de casa, as empresas têm optado por comprar o essencial. Falta, até mesmo, um certo estímulo para gastar. É diferente quando as pessoas compram gêneros alimentícios, o que fazem sempre. Quando tu queres comprar um terno, uma camiseta, tu te preparas para aquilo - o mesmo vale para uma televisão, um automóvel novo. Esse espírito de compra as pessoas não dispõem no momento. Um sinal disso é que as vendas do Dia das Mães deste ano representaram só 30% do que foi em 2019.
JC - Nos últimos meses, setores ligados à indústria têm contribuído produzindo máscaras, por exemplo, e consertando respiradores. Como avalia?
Petry - Sim, houve um movimento inclusive do Senai consertando respiradores com a General Motors. Desenvolvemos um sistema para consertar os aparelhos e deu muito certo. O Senai tem tecnologia, e nós ajudamos. Também desenvolvemos formas de produzir álcool em gel a partir de outros insumos - isso ocorreu via tecnologia fornecida por nossos institutos de tecnologia. Cedemos essa tecnologia para as empresas fabricarem álcool em gel e também o produzimos. Um outro exemplo: a Herval parou a produção e colocou as costureiras para fazerem máscaras. Agora, eles colocaram uma linha de produção de máscaras, ou seja, surgiu a oportunidade.
JC - Porto Alegre, na semana passada, liberou o retorno do comércio, desde que observando medidas para conter o vírus. O mesmo ocorre no Interior. Teremos uma volta da "normalidade"?
Petry - Veja bem, já conseguimos achatar a curva de transmissão do vírus, agora, temos que achatar a curva de transmissão da crise. Porto Alegre deve andar um pouco mais ligeira. Os shoppings ficaram fechados quase dois meses. Tu podes ir no supermercado e comprar uma camiseta ou um tênis, mas não podias ir em uma lojinha de bairro, com um atendente só, fazer a mesma compra. A indústria, para poder funcionar, dar emprego, precisa desovar os estoques. O comércio é fundamental.
JC - E, mesmo aberto, não é garantido que o cliente apareça...
Petry - Mas é claro, as pessoas estão com medo de sair de casa. Tanto que, se abrir tudo, não vai haver correria, como alguns comentam. A normalidade de antes não voltará. Isso vai levar dois ou três meses, a começar pelas pessoas de mais idade. Elas não saem de casa. Abrindo o restaurante, é preciso olhar se tem lugar vazio do lado, espaço, por exemplo, eu entro. Senão, já nem vou. As pessoas estão pensando assim agora.
JC - Sobre conjuntura, a Selic está em 3% e o dólar a quase R$ 6,00. Para quem, hoje, esse cenário está favorável?
Petry - O dólar alto é ruim para quem importa, obviamente. Mesmo para quem não importa, muitas vezes, há insumos cotados em dólar, então atinge também. Agora, quem exporta está achando muito bom. A Selic caiu, mas isso não chega na ponta, porque os bancos estão com um grau de exigência maior. Não é que os bancos não têm que ser precavidos, mas a maneira de o dinheiro chegar no setor produtivo deveria ser diferente. Assim como o governo central operacionalizou os R$ 600,00 de auxílio pela Caixa, ele deveria fazer chegar às empresas o crédito mais facilmente. Um exemplo seria a empresa emitir um título, o governo compra e fica credor. O crédito está caro? Sim, na conjuntura atual está, porque ele não chega a 3% da Selic na ponta. Há dois anos, a 15% estava caro também. O problema disso é que o spread dos bancos segue elevado e o grau de exigências, de garantias, também subiu.
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