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DE FRENTE PARA O GUAÍBA

- Publicada em 09 de Maio de 2019 às 21:53

Museu das Águas é um sonho distante

Entorno do Anfiteatro Pôr do Sol foi uma das áreas sugeridas para a construção do Musa

Entorno do Anfiteatro Pôr do Sol foi uma das áreas sugeridas para a construção do Musa


MARIANA CARLESSO/JC
Um espaço às margens do Guaíba, alertando as novas gerações para a importância da preservação dos recursos hídricos, propondo atividades relacionadas ao meio ambiente e dando visibilidade a obras de arte que expressem, de alguma forma, a conexão do ser humano com a natureza. Essa é a premissa básica do Musa, o Museu das Águas de Porto Alegre, que, ao que tudo indica, está muito longe de sair do papel.
Um espaço às margens do Guaíba, alertando as novas gerações para a importância da preservação dos recursos hídricos, propondo atividades relacionadas ao meio ambiente e dando visibilidade a obras de arte que expressem, de alguma forma, a conexão do ser humano com a natureza. Essa é a premissa básica do Musa, o Museu das Águas de Porto Alegre, que, ao que tudo indica, está muito longe de sair do papel.
A ideia de criar o espaço data de 2004, durante o II Fórum Internacional das Águas, e ganhou força a partir de 2009, quando uma equipe multidisciplinar se reuniu para discutir espaços de uso público e ambiental para a orla do Guaíba. Nesse grupo de discussão, foi apresentada a ideia do Museu das Águas de Porto Alegre.
Em 2012, já com o apoio de diversas entidades apoiadoras do Musa, em um passeio no barco turístico Cisne Branco, o prefeito José Fortunati se comprometeu a indicar uma área para a construção do museu. Mas foi só. De lá para cá, a discussão pouco avançou.
Eleita presidente da Associação Amigos do Museu das Águas de Porto Alegre (Amusa) à época, a artista Zoravia Bettiol lamenta que a iniciativa hoje esteja parada. A mobilização inicial, conta, foi frustrada pela falta de interesse dos governantes, "Sempre houve uma vontade política de que não acontecesse o museu. É o 'eu falo uma coisa mas faço outra'. (Os políticos) aparentemente estavam apoiando e, na realidade, não", critica ela.
Zoravia ressalta que foi desperdiçada a oportunidade de se obter um financiamento, através da Agência Nacional das Águas (ANA), para criar um concurso para escolher o projeto arquitetônico do Musa. "Perdemos a chance. A ANA tinha interesse nisso, mas não pudemos aceitar o oferecimento porque não existia um local determinado para o museu", lamenta.
A artista plástica admite que a mobilização "esfriou" um pouco, e espera "tempos melhores" para retomar o projeto. "Com esses governos conservadores, não há interesse em investir em ciência, cultura ou arte, sendo que esses três pilares, ligados à educação, são fundamentais para a formação do indivíduo e da identidade de uma nação", ressalta, mostrando o escopo museológico do Musa, um documento de 70 páginas esmiuçando todos os detalhes do projeto. "Isso aqui (o escopo) é a alma do museu, e a parte arquitetônica, o corpo. Isso é um legado, não foi tempo perdido. Estamos em compasso de espera. Temos que ter sensibilidade suficiente para aguardar novas condições econômicas, educacionais e novamente colocar isso em pauta, avançar, porque é muito importante. Preservar o Guaíba é fundamental, e esse projeto, sem dúvida, pode contribuir para isso."

Para arquiteto que colaborou com o projeto, iniciativa esbarra na falta de 'peso político'

O arquiteto Marcelo Allet colaborou com o projeto do Musa realizando estudos sobre duas alternativas de sede: o eixo monumental do Parque Marinha do Brasil e o entorno do Anfiteatro Pôr-do-Sol. No entanto, o projeto de revitalização da orla, em andamento, não prevê a instalação do museu em nenhum desses espaços.
"É a mesma questão em que esbarramos naquela época. São áreas muito privilegiadas, relevantes do ponto de vista urbanístico, e com muita visibilidade também. Essa iniciativa (o museu) não tem o peso político de mobilizar a prefeitura para ceder essas áreas. O que aconteceu na essência foi isso", acredita.
Tanto Allet quanto a artista plástica Zoravia Bettiol defendem a instalação do Musa em uma área próxima ao Guaíba. "A ideia era utilizar um espaço na orla justamente pelo museu abordar a questão das águas, então não faria sentido instalá-lo afastado dali", observa Zoravia.
O arquiteto destaca o fato de o anfiteatro ser pouco aproveitado hoje em dia. Construir o museu ali, então, seria até uma forma de valorizar o espaço. "É uma área desperdiçada, subutilizada. Acabou virando um equipamento privado, só igrejas fazem eventos ali, vez que outra tem algum festival, e é uma área que tem uma relevância enorme para o interesse coletivo, para qualificar a orla", defende.
Assim como a presidente da Amusa, Allet critica a falta de vontade política para que o Musa aconteça. "Esse museu é um equipamento de extrema relevância e visibilidade, que poderia virar um ponto turístico da cidade. A questão da água se torna cada vez mais relevante, mas, infelizmente, a gente vive numa cidade que não é lá muito arrojada", afirma.
Durante semanas, a reportagem do Jornal do Comércio fez várias tentativas de contato com diversos órgãos da prefeitura. Todos alegaram não ter ingerência sobre o assunto, o que leva a crer que o futuro do Musa é, realmente, uma incógnita. "Com as mudanças de governo, algumas iniciativas não são levadas adiante. Acredito que seja o caso desse museu", afirmou uma fonte ligada ao Executivo municipal, que preferiu não se identificar.
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