A cobertura vacinal de crianças entre 5 e 11 anos no Rio Grande do Sul ainda está distante dos outros grupos da população gaúcha, aponta o relatório de acompanhamento vacinal da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Em dois meses de campanha, 498.719 crianças, 51,7% do público total (964.273) desta faixa etária, receberam a primeira dose contra a Covid-19. Já em relação à segunda dose, devido ao menor tempo de intervalo decorrido, o número é ainda menor, apenas 6% do total. A vacinação infantil no Estado começou no dia 19 de janeiro.
Ainda segundo a secretaria, a população gaúcha de adolescentes, dos 12 aos 17 anos, já está 89,7% com a primeira dose, e 68,8% com a segunda. Entre a população adulta, com 18 anos ou mais, 96,8% já tomaram pelo menos a primeira dose, 91,3% a segunda, e 48,1% a de reforço.
Para a chefe da Vigilância Epidemiológica do Centro de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (Cevs-RS), Tani Ranieri, mais de um fator podem estar levando a esta baixa adesão à vacinação infantil. “A gente sabe que hoje tem dois grupos, o dos pais que acreditam na eficácia da vacinação e o dos que não acreditam, mesmo com todas as evidências científicas e estudos clínicos comprovando que as vacinas pediátricas são realmente seguras e eficazes”, afirma.
“Em razão do baixo número de casos em crianças durante o período inicial da pandemia, algumas pessoas ficaram com a impressão de que a Covid-19 não tem impacto tão grande no público infantil. Junto com algumas notícias falsas que foram direcionadas a essa faixa etária, fez com que alguns pais ficassem com receio de vacinar seus filhos, ou que achassem desnecessário”, acrescenta ela.
Para o médico Fabrizio Motta, supervisor médico do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre, a impressão que a Covid-19 não tem impacto significativo no público infantil não corresponde à realidade.
“Desde o início se comparou a evolução da Covid-19 nas crianças e nos adultos, e os dados de casos e óbitos de adultos foram estratosféricos, e os de crianças não tanto. Mas, se comparar as mortes anuais em razão da Covid-19 com outras doenças que já conhecíamos, como a gripe comum, por exemplo, a Covid-19 supera. Então, essa doença também tem um impacto muito significativo no público infantil, que deve sim ser protegido de todas as formas possíveis, incluindo com a vacinação”, destaca.
Ômicron elevou número de internações infantis no Estado
A recente onda de infecções causada pela variante Ômicron do coronavírus, que começou a crescer no final de dezembro passado e se manteve em alta durante os primeiros meses de 2022, impactou diretamente na população infantil. Em meados de fevereiro, o Estado registrou o seu pico de internações de crianças desde o início da pandemia.
Para o médico da Santa Casa de Porto Alegre Fabrizio Motta, a falta de maior cobertura vacinal deste grupo no início do ano também contribuiu para esse crescimento de casos.
“Nos primeiros 18 meses da pandemia as crianças praticamente só ficaram em casa, sem ir às aulas ou realizar outras atividades. Depois que começaram a circular mais, a partir do final do ano passado, os casos começaram a aumentar, coincidindo com o avanço da Ômicron, mais contagiosa. Como a grande maioria ainda não estava vacinada, os casos e internações nesse grupo aumentaram muito nesse período”, ressalta.
Ele também alerta sobre as diversas possíveis consequências de uma infecção por Covid-19 em uma criança. “Além do óbito, a doença também pode causar casos de internações graves, com sequelas. Cada vez mais observamos pacientes desenvolvendo a chamada Covid-19 longa, com até 30% desenvolvendo sintomas crônicos, como dificuldade de concentração, dores no corpo, cansaço, e a própria síndrome inflamatória, mesmo muitos meses depois da doença”, complementa.
A chefe da Vigilância Epidemiológica do Centro de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri, compartilha a preocupação com o índice. Por isso, ela afirma que a Secretaria Estadual de Saúde têm se empenhado para aumentar a cobertura vacinal dessa população no Estado.
“Já realizamos campanhas como o Dia C da vacinação infantil, que teve um retorno positivo, e continuamos a articular novas ações, em conjunto com as secretarias municipais, para aumentar os horários e locais de vacinação, e com as escolas, que também podem contribuir muito para alcançarmos este objetivo. Nas próximas semanas, continuaremos trabalhando muito para impulsionar esse percentual”, conclui.


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