Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Saúde

- Publicada em 24 de Agosto de 2021 às 20:43

D3 em grupos prioritários 'é para ontem', defende epidemiologista da Ufrgs

Idosos acima de 80 anos já começaram a ter queda na eficácia

Idosos acima de 80 anos já começaram a ter queda na eficácia


/MARIANA ALVES/arquivo/JC
Para especialistas, o Brasil já deveria estar se organizando para iniciar a terceira dose (D3) da vacina contra a Covid-19 em idosos e pacientes imunodeprimidos. Essa movimentação, que visa aumentar a proteção contra a doença causada pelo novo coronavírus, já está acontecendo em países como Uruguai, Chile, Turquia e Israel. O reforço do imunizante poderia melhorar a proteção contra novas variantes, como a Delta. "Acho que isso tem que ser decidido para ontem. Aplicar ou não a terceira dose ou dose de reforço é uma decisão imediata", defende o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Paulo Petry.
Para especialistas, o Brasil já deveria estar se organizando para iniciar a terceira dose (D3) da vacina contra a Covid-19 em idosos e pacientes imunodeprimidos. Essa movimentação, que visa aumentar a proteção contra a doença causada pelo novo coronavírus, já está acontecendo em países como Uruguai, Chile, Turquia e Israel. O reforço do imunizante poderia melhorar a proteção contra novas variantes, como a Delta. "Acho que isso tem que ser decidido para ontem. Aplicar ou não a terceira dose ou dose de reforço é uma decisão imediata", defende o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Paulo Petry.
Para a presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, não há a necessidade de aguardar novos estudos sobre o assunto. Ou melhor, não há tempo. "Temos um estudo em andamento aqui no Brasil, que começou há pouco, e acho que se esperarmos dois ou três meses para uma análise preliminar, vamos acabar perdendo muita gente." Ela pontua que já é possível ver indícios de que a D3 é necessária. "Estamos começando a perceber o aumento de internações e de diagnóstico de novos casos em pessoas imunizadas", complementa.
Segundo Mônica, a D3 é aplicada quando há a necessidade de uma dose adicional para aquelas pessoas que não tiveram boa resposta imune com duas doses ou a dose única. "Essas pessoas não têm um sistema imunológico tão efetivo e precisam de um esquema de doses maior para ter uma proteção melhor e mais consistente. É o caso de idosos e imunodeprimidos. Para protegê-los, precisa de uma terceira dose. Nesse caso, é uma adequação de esquema."
Ela explica que isso é diferente do que alguns países já estão fazendo, que é dar uma dose de reforço a pessoas imunocompetentes. "Eles tiveram o mecanismo de proteção desenvolvido, só que com uma duração de proteção não tão longa, principalmente com a variante Delta", explica. Então, essa dose de reforço visa melhorar a proteção contra a Delta e aumentar a duração da proteção. Em ambos os casos, a nova dose trará uma proteção maior do que a adquirida com as duas doses ou dose única.
Petry lembra que os idosos acima de 80 anos e os profissionais da saúde estavam na primeira leva da vacinação no País. "A segunda dose foi feita no início de março. Então essas pessoas estão chegando nos seis meses de queda da eficácia." De acordo com ele, seis meses seria o tempo ideal para começar a se pensar na aplicação da nova dose.
"Existem muitos estudos em andamento, mas a possibilidade que está sendo discutida é de que seja possível fazer o que chamamos de esquema misto. Ou seja, fazer um reforço com a vacina diferente da primeira", indica Petry. Ele conta que alguns estudos na Europa estão fazendo combinação de AstraZeneca e Pfizer.
Os especialistas não têm dúvida de que a D3 é benéfica. "Essa nova dose, seja naquelas pessoas que não responderam bem à vacinação ou seja naquelas que ficaram imunizadas, aumentou o nível de anticorpos", defende Mônica. A terceira dose aumenta a proteção e a duração. "É como se fosse um lembrete ao sistema imunológico. O reforço lembra o sistema imunológico de que ele deveria atuar contra aquele vírus", simplifica Petry.

Escassez de imunizantes obriga priorizar quem receberá doses primeiro

Em um cenário no qual não há escassez de vacinas, todos seriam vacinados simultaneamente. Esse, porém, não é o caso do Brasil. "E, para esse debate, não adianta utilizar as experiências dos outros países. Cada país tem características próprias, suas variantes e, alguns, até excesso de vacina. Vamos ter que fazer um escalonamento de risco, de tudo que observamos até agora", sugere Mônica.
Para ela, idosos e imunodeprimidos deveriam ser priorizados, uma vez que o objetivo da campanha de vacinação no Brasil, agora, é salvar vidas. Por isso, seria interessante dar a D3 a idosos e imunodeprimidos antes de iniciar a vacinação de adolescentes sem comorbidades. Seria positivo também fazer uma busca ativa das pessoas que ainda não tomaram a D2. No Rio Grande do Sul, 3,8 milhões de pessoas ainda não completaram o esquema vacinal.
Já para o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Marcelo Matias, os profissionais de saúde também deveriam ser incluídos no grupo prioritário para a D3. Ele entende que os estudos já feitos em outros países e a experiências com a categoria apontam que a eficácia não é tão alta quanto o esperado. "Defendemos a vacinação dos médicos e profissionais da saúde porque eles estão expostos a grandes cargas virais, o que, estatisticamente, está associado a um risco maior de desenvolvimento das formas graves da doença", pontua.
Por isso, o Simers realizou uma pesquisa com mais de 2,7 mil médicos associados. Os resultados indicaram que 99% está disposto a tomar a D3. "Já falamos com a prefeitura de Porto Alegre, solicitamos à Vigilância em Saúde e ao Secretário de Saúde, Mauro Sparta. Em setembro, temos uma reunião marcada no Ministério de Saúde com a bancada gaúcha do Congresso e vamos tratar, entre outros assuntos, sobre a D3. Acho que isso vai impactar a categoria e o resto da população. Espero que dê certo", finaliza Matias.
Diante de todo esse debate sobre priorização, existe uma questão ética. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) emprega que, antes de reforçar o esquema vacinal em países mais desenvolvidos, se faça a imunização de países menos desenvolvidos, para que não haja uma incubadora de novas variantes no mundo”, comenta Petry. Para a OMS, a prioridade é acelerar a vacinação em países mais atrasados. “É isso que está acontecendo agora. Israel está fazendo a terceira dose, mas há países na África que ainda não tem nem a primeira dose para aplicar.”