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Saúde

- Publicada em 05 de Julho de 2021 às 17:03

Mortes de gestantes e puérperas por Covid-19 disparam no RS em 2021

Em 2021, até o final de junho, 75 gestantes ou puérperas perderam a vida para a doença no RS

Em 2021, até o final de junho, 75 gestantes ou puérperas perderam a vida para a doença no RS


MARTIN BUREAU/AFP/JC
A epidemia sem fim. Enquanto a Europa, os Estados Unidos, a Nova Zelândia e diversos outros países já voltaram praticamente à normalidade, o Brasil segue contando seus milhares de mortos diários. Todas as vidas importam, e cada um daqueles que se foi deixou dor e saudade no coração dos que ficaram. No entanto, algumas mortes parecem tocar ainda mais fundo, entre elas, as de crianças e as de mulheres grávidas. E os números de óbitos de gestastes e puérperas (mulheres que tiveram seus bebês recentemente) em 2021 no Rio Grande do Sul são assustadores.
A epidemia sem fim. Enquanto a Europa, os Estados Unidos, a Nova Zelândia e diversos outros países já voltaram praticamente à normalidade, o Brasil segue contando seus milhares de mortos diários. Todas as vidas importam, e cada um daqueles que se foi deixou dor e saudade no coração dos que ficaram. No entanto, algumas mortes parecem tocar ainda mais fundo, entre elas, as de crianças e as de mulheres grávidas. E os números de óbitos de gestastes e puérperas (mulheres que tiveram seus bebês recentemente) em 2021 no Rio Grande do Sul são assustadores.
Conforme os números oficiais disponibilizados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS), em todo o ano de 2020, seis mulheres gaúchas grávidas ou puérperas faleceram em razão do novo coronavírus. Em 2021, somente até o dia 29 de junho, o total de óbitos de gestantes e puérperas já chega a 75.
Ou seja, em seis meses, o contingente de mulheres que esperavam os seus bebês ou que haviam dado à luz recentemente que perderam a vida para a pandemia saltou incríveis 1.150% em comparação com todo o ano anterior.

Óbitos de gestantes e puérperas por Covid-19 no Rio Grande do Sul

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Em 2021, até o final da Semana Epidemiológica 25 - encerrada em 29 de junho – faleceram 42 gestantes e 33 puérperas no Rio Grande do Sul em razão do vírus Sars-Cov-2.
As internações por Covid-19 também cresceram significativamente de 2020 para 2021, ainda que o período analisado no ano atual corresponda apenas à metade do anterior. Enquanto em todo 2020 foram registradas oficialmente 199 internações de gestantes e puérperas no Estado, em 2021, até o fim de junho, foram notificadas 830 hospitalizações desse grupo populacional por causa da doença – um aumento de 317%.

Internações de gestantes e puérperas por Covid-19 no Rio Grande do Sul

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A escalada da mortalidade materna em 2021 pode ser bem observada se dois recortes temporais foram visualizados concomitantemente. Segundo dados oficiais da SES-RS, até o final de abril deste ano, ocorreram 35 óbitos de gestantes no RS. Nos dois meses seguintes, ocorreram outras sete mortes – número superior ao total de falecimentos de grávidas e puérperas em todo 2020.
Conforme o médico Paulo Sérgio da Silva Mário, da Política da Saúde da Mulher da Secretaria da Saúde (SES/RS), o aumento da mortalidade materna está diretamente associado ao agravamento da pandemia e ao surgimento da variante P1 do coronavírus.
Mário aponta que a secretaria tem trabalhado junto aos serviços de atenção básica e orientado sobre a necessidade da triagem das gestantes para o diagnóstico da Covid-19, com monitoramento e fluxos de encaminhamento ágeis e adequados. Ainda de acordo com ele, estão sendo feitas capacitações e atualizações nos serviços de internação para a qualificação do manejo no atendimento de gestantes. “(Elas) necessitam de um serviço de internação com mais peculiaridades em relação ao público em geral”, destaca.

Relação entre gravidez e tromboses aumenta risco de gestantes

Uma das razões para que gestantes sejam consideradas um grupo que merece atenção especial em relação à Covid-19 diz respeito às alterações que ocorrem no organismo da mulher grávida e a relação dessas alterações com uma das características da doença causada pelo novo coronavírus. No período da gestação, há uma tendência à ocorrência de hipercoagulação, o que aumenta o risco de tromboses, principalmente em mulheres que já possuem fatores hereditários para isso.
Paralelamente a isso, cada vez mais, ciência enxerga a Covid-19 como uma doença trombótica. Em um artigo publicado em abril deste ano na revista científica Memórias do Instituto Osvaldo Cruz, da Fiocruz, um grupo de dez pesquisadores brasileiros defende que o Sars-Cov-2 seja considerado o primeiro agente reconhecido por atuar aumentando a formação de coágulos (também chamados de trombos) que podem obstruir a circulação sanguínea.
Considerando as evidências de hipercoagulação na doença, os autores propõem que a Covid-19 seja a primeira infecção classificada como febre viral trombótica. Atualmente, o agravo é classificado como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). “Em pacientes internados, vemos manifestações trombóticas a despeito da prática clínica usual de tromboprofilaxia (terapia para prevenir a formação de coágulos). Também há descrição de eventos tromboembólicos após a alta hospitalar, e a formação excessiva de coágulos é observada nas análises histopatológicas em casos de óbito por Covid-19”, afirma o coordenador da UTI do Hospital Pró-Cardíaco e primeiro autor do artigo, Rubens Costa Filho. “Avaliar os parâmetros de coagulação é, pelo menos, tão importante quanto avaliar os parâmetros respiratórios nos pacientes com Covid-19”, aponta o chefe do Laboratório de Patologia do Instituto Osvaldo Cruz e autor do artigo, Marcelo Pelajo Machado.
A relação da Covid-19 com as tromboses já havia sido constada no início da pandemia. Ainda em março de 2020, a médica pneumologista Elnara Negri, que trabalha no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Sírio Libanês, também de São Paulo, havia percebido o caráter trombótico da doença, e artigos nas revistas Nature e Science já tratavam da questão.

No Brasil, mortalidade materna pela doença é 2,5 vezes maior que taxa geral

O quadro de alta na mortalidade materna em razão da pandemia não se restringe apenas ao RS. O aumento ocorre em todo o Brasil. A taxa de mortalidade da Covid-19 entre mulheres grávidas e puérperas é de 7,2% no Brasil. O percentual é 2,5 vezes maior que a taxa nacional geral, que é de 2,8%. O dado consta no último boletim editado pelo Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado no final de junho. Segundo o relatório assinado por pesquisadores e epidemiologistas da instituição científica, o Brasil é o país com o maior número de mortes maternas causadas pela doença.
O boletim coloca as gestantes e puérperas como um grupo de preocupação que deve ser priorizado na vacinação, diante da evolução da morte materna a níveis extremamente elevados. Em 2020, o país relatou 560 óbitos pela Covid-19 entre esse público. Em 2021, até o momento da publicação, já eram 1.156, mais do que o dobro do ano anterior.
"Partimos do pressuposto de que este cenário está relacionado às alterações morfológicas da gestante, quando ocorre uma alteração das estruturas circulatórias para atender à demanda de crescimento fetal", registra o boletim. Em uma edição anterior, os epidemiologistas da Fiocruz já haviam alertado para os riscos de gestantes, sobretudo aquelas que estão em torno de 32 ou 33 semanas de gravidez, evoluírem para formas graves da Covid-19 com descompensação respiratória.