A
pesquisa que monitora a presença do coronavírus no esgotamento sanitário e em arroios da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) registrou, entre o final de fevereiro e a primeira semana de março, a mais alta quantidade de carga viral desde o início do levantamento, em maio do ano passado. Amostra coletada em Canoas apontou a presença de mais de 3 milhões de cópias genômicas do SARS-CoV-2 por litro, comprovando o aumento progressivo de casos de Covid-19 no município, que nesta quinta soma 25.358 casos da doença.
O resultado foi obtido em amostas coletadas na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Mato Grande, na Semana Epidemiológica 9, que perdurou entre 28 de fevereiro e 6 de março. Ao longo de fevereiro, segundo o estudo, o local apresentou oscilações semanais nos registros do novo coronavírus, mas surpreendeu ao ultrapassar a marca de 3 milhões (3.164.410 ) de cópias genômicas por litro. "Esse foi o maior resultado que já obtivemos em toda a pesquisa, e comprova que, sem dúvidas, tivemos a fase mais crítica da pandemia", avalia a chefe de Vigilância Ambiental em Saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul(CEVS), Aline Campos.
De acordo com o levantamento, desenvolvido pela Feevale, em parceria com o CEVS e instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e a Fiocruz, o volume mais alto de cópias genômicas por litro havia sido registrado em estudos semelhantes feitos em outros países - como Holanda, Estados Unidos, Austrália e França-, que apontaram 1 milhão de cópias genômicas por litro, três vezes menos do que o encontrado na ETE de Canoas. "Esse resultado demonstra que a vigilância epidemiológica é importante e está no caminho certo", enfatiza a técnica.
Em seu oitavo boletim, a pesquisa comprovou crescimento acelerado da diseminação da Covid-19 a partir da segunda semana de fevereiro, e tem se consolidado como ferramenta de suporte e embasamento às decisões administrativas da pandemia. Na
edição anterior, divulgada em fevereiro, a cidade de São Leopoldo, no Vale do Sinos, havia registrado aumento de mais de 2000% na carga viral e, graças ao monitoramento, intensificou medidas de enfrentamento à Covid-19. O município manteve valores de carga viral bastante elevados no último levantamento, mas já registrou queda nos números.
Pesquisa analisou, desde maio, 491 amostras de água de esgoto e arrroios da RMPA. Foto: Lisiane Trombin/Cevs/Divulgação/JC
Nesta fase do estudo, foram analisadas 86 amostras de 19 pontos de coleta ativos da RMPA, em 10 ETEs, três Estações de Bombeamento de Esgoto (EBE) e seis arroios. Desde o ano passados, 491 amostras foram alvo da pesquisa. Entre outros pontos, o relatório mais recente mostra crescimento acelerado da Covid-19 a partir da segunda semana de fevereiro, e diminuição nos períodos seguintes, oscilação que acompanha a tendência da curva de casos positivos da doença.
Em Porto Alegre, três estações foram monitoradas, a ETE São João Navegantes, a ETE Serraria e a EBE Restinga. Na primeira, a carga viral registrada vem apresentando aumento gradual desde a segunda semana de fevereiro, atingindo o ápice na última semana de análise, quando apresentou maior valor detectado nesta ETE (acima de 2 milhões de cópias genômicas por litro). Na segunda, a partir da segunda semana de fevereiro, notou-se crescimento acelerado e maior quantidade de vírus detectada desde o início do monitoramento, ocorrendo uma diminuição na semana seguinte, seguindo a tendência da curva de casos positivos da Capital. Já na Restinga, houve aumento na carga viral, chegando ao maior valor neste ponto de coleta desde o início do monitoramento, seguido de elevação acentuada no número de casos.
No Arroio Dilúvio, a carga viral maior foi detectada no ponto mais próximo ao Lago Guaíba, mantendo a tendência de alta. Na Semana Epidemiológica 9, inclusive, o local apresentou valor muito acima da média histórica registrada na pesquisa, com aumento de 1400% na carga viral encontrada nas amostras.
Ao comentarem os resultados obtidos, os pesquisadores esclarecem que não há risco no consumo de água para a população. "A água para consumo humano é tratada em Estação de Tratamento de Água, onde passa por processo que elimina o risco da contaminação. Ou seja, a água que chega em sua casa pode ser consumida sem nenhum risco à saúde".
Outros pontos analisados nas cidade próximas da Capital, como as ETEs de Alvorada e Cachoeirinha, também mantiveram valores de presença do coronavírus acima do observado em etapas anteriores. A exceção foi em Gravataí, onde houve diminuição significativa nas semanas pesquisadas.
Os dois pontos do
Litoral Norte, que começaram a ser monitorados em janeiro, registraram queda na análise de carga viral no período, acompanhado o final do veraneio e retorno de boa parte da população para suas cidades de origem. "Era aguardada essa diminuição, em acordo com o movimento de migração da região, e a tendência é cair ainda mais até o final do mês, o que deverá determinar a suspensão da pesquisa no Litoral a partir de abril", comenta Aline.
Ela complementa ainda que, devido ao
recrudescimento da pandemia, a pesquisa evoluiu de um monitoramento da presença da Covid para a vigilância sobre a quantidade de cópias genômicas encontradas. "Neste mometo o vírus está presente e todos os lugares, então, a pesquisa passou da fase de encontrar o vírus para intensificar o estudo da quantidade dele nas amostras" , complementa.