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Coronavirus

- Publicada em 21 de Dezembro de 2020 às 11:58

Por que os homens morrem mais por Covid-19 do que as mulheres?

Comportamento e fatores genéticos explicam maior mortalidade masculina

Comportamento e fatores genéticos explicam maior mortalidade masculina


LUIZA PRADO/JC
Juliano Tatsch
O Sars-Cov-2, vírus que causa a Covid-19 e que transformou 2020 em um ano que ficará para a história, não distingue a quem contagia. Dizer que o vírus é democrático não é de todo correto, na medida em que estudos já provam que a doença mata mais pobres e negros, por exemplo. Outra característica da pandemia diz respeito ao fato de, apesar de serem minoria no número de casos, os homens são maioria do de óbitos. Mas o que explica isso?
O Sars-Cov-2, vírus que causa a Covid-19 e que transformou 2020 em um ano que ficará para a história, não distingue a quem contagia. Dizer que o vírus é democrático não é de todo correto, na medida em que estudos já provam que a doença mata mais pobres e negros, por exemplo. Outra característica da pandemia diz respeito ao fato de, apesar de serem minoria no número de casos, os homens são maioria do de óbitos. Mas o que explica isso?
No Rio Grande do Sul, os homens são responsáveis por 47,2% dos casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus e por 55,1% das mortes relacionadas à doença. Já as mulheres são a maioria dos casos: 52,8%. No entanto, elas são minoria quando se analisam os óbitos causados pela pandemia no Estado: 44,9%.
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Em Porto Alegre, o cenário é o mesmo. Os homens correspondem a 46% dos casos e a 52% dos óbitos, enquanto as mulheres são 54% dos casos e 48% das mortes.
O Ministério da Saúde não divulga dados relativos ao perfil demográfico das pessoas afetadas pela Covid-19 no País. A reportagem do Jornal do Comércio solicitou esses dados para a assessoria da pasta, mas não obteve retorno do pedido. A Secretaria Estadual de Saúde (SES-RS) foi procurada pela reportagem do JC para comentar os dados do Rio Grande do Sul, mas também não retornou o contato.
Em São Paulo, estado mais afetado pela crise sanitária no Brasil, as mulheres são 53% dos casos, enquanto são 42% dos óbitos. Já os homens são 47% das contaminações, e 58% das mortes.
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Ainda não existe uma razão clara para que eles morram mais do que elas de Covid-19. Os estudos são incipientes a respeito da questão, mas apontam para algumas possibilidades que podem ou não serem confirmadas com o aprofundamento das análises científicas.
O professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jair Ferreira, aponta duas possibilidades para o cenário de maior letalidade masculina. Para ele, o número de casos não tem muita importância, pois a população de mulheres é um pouco maior do que a de homens. “No caso dos óbitos, sim, isso faz diferença. Uma das possibilidades é que, como as mulheres são sempre mais cuidadosas do que os homens, pode ser que se submetam mais a exames e esses diagnosticam mais casos brandos da doença. Então, têm mais diagnósticos de casos menos graves em mulheres e, por causa disso, elas acabam tendo uma letalidade menor”, destaca.
A outra possibilidade para explicar o maior risco de morte entre os homens levantada pelo acadêmico está em os homens terem mais comorbidades que podem levar a quadro mais graves da doença. “Como as mulheres, em média, vivem mais do que os homens, podia-se até esperar que tivessem mais casos em mulheres idosas, mas isso não está acontecendo. É possível que os homens tenham mais comorbidades negligenciadas, uma diabetes negligenciada, por exemplo. Os homens se cuidam menos. De modo geral, vão menos ao médico, fazem menos exames periódicos. Então, eles estão tendo um risco de morrer entre 33% a 34% maior quando diagnosticados com a Covid-19”, afirma Ferreira.
Para o médico, os dois pontos, inclusive, podem estar concorrendo: mais diagnósticos brandos em mulheres e homens com mais comorbidades.
Estudos também buscam diferenças do organismo entre homens e mulheres para explicar a maior letalidade do novo coronavírus entre os homens. É da cultura popular dizer que as mulheres são mais resistentes a doenças do que os homens. A mesma gripe que derruba o pai, o deixando de cama, afeta menos a mãe, que mantém sua rotina diária.
Estudos médicos corroboram a impressão popular. Um trabalho publicado no ano passado na revista científica Human Genomics indica que o cromossomo X possui um número maior de genes relacionados com a imunidade. Como as mulheres tem dois deles enquanto os homens têm um só, elas contam com uma vantagem natural.
Além disso, a relação entre o sistema imunológico e o hormônio masculino testosterona já é conhecida pela bibliografia médica. Uma pesquisa de 2013 da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostrou que a testosterona ativa genes das células de defesa que enfraquecem a resposta imunológica.
Mais especificamente em relação ao novo coronavírus, uma pesquisa alemã realizada em abril apontou que um gene específico facilita o trabalho do Sars-Cov-2 em sua missão de infectar uma célula. O gene TMPRSS2 é regulado por hormônios masculinos, o que fez os cientistas levantarem a hipótese de que tratamentos que inibem hormônios masculinos poderiam colaborar no combate à doença. A tese é de que, com a inibição dos hormônios, o TMPRSS2 teria menos atividade, dificultando a infecção.
A maioria das pesquisas já realizadas acerca do tema ainda são iniciais, indicando hipóteses que carecem de mais tempo de análise para que os resultados sejam considerados definitivos. Ou seja, os caminhos estão indicados, mas ainda falta trilhá-los com mais certeza.
Para o professor da Ufrgs, os fatores que influenciam na maior mortalidade masculina existem há muito tempo, o que dificulta que ações específicas para esse público possam ser adotadas pelos gestores públicos visando diminuir a letalidade da Covid-19 entre eles. “Há mais tabagismo entre homens, há mais alcoolismo também. Os homens também estão mais expostos a doenças de trabalho insalubres e, se tratando de uma doença respiratória, tudo isso pode contribuir. É difícil que, agora, agudamente, em poucos meses, se mude algo que é crônico há muitos anos. É difícil mudar esse tipo de cultura”, conclui o epidemiologista.
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