Nos primeiros 17 dias de dezembro, Caxias do Sul contabiliza 3.244 novos casos confirmados para covid-19, o que representa 18% do total de pacientes positivos desde o início da pandemia, em 2 de março, quando foi notificado o primeiro infectado. A rápida expansão comprometeu o atendimento hospitalar, com o crescimento exponencial de internações.
Na manhã desta sexta-feira (18), o painel www.covid.caxias.rs.gov.br, que atualiza automaticamente a inserção de novos casos registrava ocupação de 90% dos leitos de unidades de terapia intensiva na rede privada e de 82% pelo SUS. Em números absolutos, 157 pacientes em toda a rede, pública e privada, dos quais 79 com a doença confirmada ou suspeitos de contaminação, representando metade do total. Os pacientes têm origem em 48 municípios da região, além de Caxias.
A cidade registra 265 óbitos de residentes, sendo 57 neste mês. O total de pacientes ativos é de 1.338, dos quais 1.227 estão em isolamento domiciliar, 71 internados em enfermarias e 40 em UTIs. Outros 869 aguardavam resultado de exames.
O aumento é atribuído à desmobilização da população para as práticas de prevenção contra o vírus. A fiscalização da Prefeitura, acompanhada de policiais militares, têm agido fortemente na contenção de aglomerações, especialmente nos fins de semana, de festas clandestinas e de práticas esportivas em quadras particulares. Decreto atual do Município proíbe o funcionamento do comércio e serviços das 22h às 5h, liberando somente indústrias e estabelecimentos vinculados à saúde e hospedagem.
No meio da semana, os gestores dos hospitais reuniram-se com gestores do poder público estadual e municipal para expor a situação muito próxima de colapso da estrutura, pois em determinados dias a oferta de serviços não suporta a demanda, o que determina atraso em atendimentos urgentes e emergenciais. A diretora do Hospital do Círculo, Isabel Bertuol, lembrou que os profissionais da saúde estão em constante atuação há nove meses e sofrendo com sobrecarga. Afirmou que mal há recursos humanos para a operação das atuais UTIs, defendendo que somente a ampliação de unidades não resolverá o quadro.
Pessoas têm enfrentado filas no atendimento ambulatorial para doenças respiratórias. FotoAndréia Copini//Divulgação/JC
A diretora do Hospital Virvi Ramos, Cleciane Simsen, informou a existência de oito unidades de tratamento intensivo prontas para uso, mas sem ocupação por falta de equipe. O diretor técnico do Hospital da Unimed, Vinicius Lain, comentou que a unidade está no nível quatro de contingenciamento interno desde a semana passada. Existiria um nível cinco, mas não foi adotado por falta de quadro. Ele cobrou ações, alertando que, em breve, salvar algumas vidas pode ficar condicionada a morte de outras pessoas.
Desde o início da pandemia, a Prefeitura de Caxias do Sul elevou em 153% a capacidade de internações em UTIs, de 34 para 86 leitos, para atendimento regional. Conforme o secretário da Saúde, Jorge Castro, não são os equipamentos ou a estrutura física que preocupam, mas a mão de obra. Outro agravante foi o aumento de pedidos de demissões e dificuldade na substituição de profissionais experientes. "Os profissionais estão exaustos, físico e mentalmente. Não adianta abrirmos constantemente leitos se a população não colaborar. Não é o momento de fazer festas clandestinas e aglomerações”, cobrou.
Entidades clamam por conscientização
A Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e os 25 sindicatos e associações afiliados emitiram nota pedindo atenção da comunidade. Para o presidente da CIC, Ivanir Gasparin, os números de aumento de contágio, de mortes e de hospitalizações estão relacionados com a desmobilização de parte da população sobre as práticas de prevenção contra o coronavírus. O líder empresarial defende que, como cidadãos, todos devem se conscientizar sobre a necessidade de seguir os protocolos de saúde e, principalmente, de distanciamento social.
O prefeito Flávio Cassina (PTB) considera que o Poder Público está em situação de impotência, citando o baixo efetivo à disposição para a fiscalização de restrições. No entanto, adianta que se o vírus não for contido, já nesta sexta a Prefeitura pode adotar postura mais dura.
Para recompor os quadros de médicos e de enfermeiros para o tratamento da covid-19, o prefeito defende um esforço da Associação dos Municípios da Encosta Superior Nordeste para a busca de profissionais. Comenta que o trabalho também deve contar com o apoio da Coordenadoria de Saúde e que a contratação de pessoas de fora da região é analisada.