Desde 14 de julho, Porto Alegre não tinha números tão baixos na ocupação de leitos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) por pacientes com diagnóstico confirmado do novo coronavírus. Nesta terça-feira (13), eram 234 pessoas com Covid-19 em UTIs na Capital.
O pico de internações em UTIs em Porto Alegre se deu nos dias 2 e 4 de setembro, quando um total de 347 pessoas estavam em leitos intensivos. Depois disso, uma queda nas hospitalizações passou a ocorrer até o dia 18 de setembro, quando voltou a subir e atingir 315 no dia 20.
Passado o feriado da Revolução Farroupilha, mais uma vez se percebeu uma mudança na curva de internações, dessa vez mais intensa e, aparentemente, mais consolidada, chegando às 235 pessoas no domingo, 11 de outubro.
No todo, considerando os pacientes que sofrem de todas as doenças e acidentes, o percentual de ocupação das UTIs de Porto Alegre ainda é alto - 83,1%. Em pelo menos um hospital, o da Restinga, 100% dos leitos intensivos estão ocupados. Em outras cinco instituições (Conceição, Moinhos de Vento, Ernesto Dornelles, Cristo Redentor e Vila Nova), a lotação é igual ou superior a 90%.
Além dos 234 pacientes com Covid-19, outros 23 com suspeita da doença também estavam hospitalizados em UTIs. Outras oito pessoas contaminadas estavam na manhã desta terça-feira em emergências hospitalares
O doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e professor da universidade Paulo Petry aborda com cautela os números positivos.
“Podemos saudar, mas não comemorar. Ainda é muito cedo para comemorar. A pandemia não acabou. Os números estão diminuindo, isso é bom, mas ainda são altos. Deixemos para comemorar quando ela acabar”, afirma o especialista.
A notícia é boa e aponta para dias ainda melhores logo adiante. Entretanto, por outro lado, a melhora os indicadores de saúde pública pode acabar gerando um efeito contrário e negativo. O final de semana de calor e sol na cidade levou os porto-alegrenses às ruas, muitos deles sem máscaras.
“Isso está ocorrendo, as pessoas estão começando a achar que o pior já passou, que a pandemia acabou. Mas não é verdade. Outro ponto é o cansaço. De fato, a população cansou já. Estamos desde março convivendo com essas normas. Mas é importante e necessário que os cuidados se mantenham. Até por respeito e consideração aos trabalhadores da linha de frente do combate ao vírus, que estão se desgastando muito nesse período”, observa Petry.
Com o fim do inverno e a chegada da primavera, os dias mais quentes trazem uma impressão de que doenças respiratórias, como a Covid-19 perdem força. No entanto, o que é correto se falar sobre a gripe, não é certo quando se trata do novo coronavírus. “Esse vírus não respeita clima. Vemos na Europa, no verão europeu, como os números cresceram com uma segunda onda que eles estão vivenciando lá”, destaca o doutor em epidemiologia.
Por isso mesmo, nem a melhora nos indicadores nem o calor são motivo para que a população deixe de manter as práticas de higiene e cuidados que adotou: lavar as mãos, manter o distanciamento social, evitar aglomerações e usar máscara.
"Não vislumbramos uma segunda onda porque ainda estamos na primeira", diz epidemiologista
Os motivos do prolongamento da pandemia no Brasil são diversos. O epidemiologista da Ufrgs lembra que, diferentemente do que foi feito em vários países europeus, no Brasil não ocorreu um fechamento total (lockdown). “Aqui nós fizemos distanciamento social, não lockdown.
Na Europa, foi feito, fronteiras fechadas, enfim. Isso resultou em uma queda mais brusca. Aqui, no início, tivemos boas ações dos entes públicos o que resultou em mortes evitadas. Mas houve uma reabertura e é necessário que os cuidados sejam mantidos”, destaca o professor.
Enquanto na Europa países se veem em meio a uma retomada da pandemia, com casos de infecção maiores, inclusive, do que no início da crise sanitária, no Brasil ainda não é possível falar em uma segunda onda. “Não vislumbramos uma segunda onda porque ainda estamos na primeira”, enfatiza Petry.
A variação dos indicadores da pandemia segue um padrão quando de uma nova escalada: primeiro sobem os casos, depois sobem as internações e mais tarde sobem os óbitos. Por isso, é importante estar atento aos índices de novas contaminações.
Em Porto Alegre, na última semana houve uma diminuição no ritmo de novas confirmações em relação à semana anterior. Ainda assim, o percentual de aumento é maior do que aquele observado há duas e há três semanas atrás (confira na tabela). Ou seja, o número de novos casos não vem caindo da mesma forma que as internações.
Como, em boa parte dos casos, a Covid-19 é uma doença com longo período de hospitalização, os óbitos podem ocorrer semanas após a internação ao paciente. Em razão disso, os índices de óbitos variam de modo distinto do de casos, demorando mais para subir quando as contaminações crescem e para cair quando elas diminuem.
A Capital já vem há quatro semanas com quedas consecutivas no percentual de novas mortes causadas pelo coronavírus. Na última semana, entre os dias 5 e 12 de outubro, o acréscimo foi de 4,5%, enquanto na semana anterior, entre 28 de setembro e 5 de outubro, foi de 5,4%.