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Coronavirus

- Publicada em 05 de Maio de 2020 às 21:01

Pandemia reforça desigualdades e coloca pobres em maior risco

Curva de contágio entre os mais pobres está em ascensão

Curva de contágio entre os mais pobres está em ascensão


SEBASTIAN ENRIQUEZ/AFP/JC
Que é preciso achatar a curva de contaminações pelo novo coronavírus para evitar uma corrida aos hospitais e, por consequência, um colapso do sistema de saúde, pouca gente discorda. Mas que curva é essa?
Que é preciso achatar a curva de contaminações pelo novo coronavírus para evitar uma corrida aos hospitais e, por consequência, um colapso do sistema de saúde, pouca gente discorda. Mas que curva é essa?
Pesquisadores brasileiros sugerem que, na verdade, são duas curvas: a dos mais ricos, já algo mais controlada, e a dos mais pobres, em franca ascensão. Isso faz com que as medidas de isolamento tenham menos apoio na elite e que haja uma pressão maior para se afrouxar as restrições, colocando os mais pobres em risco.
É isso que sugerem os pesquisadores Guilherme Lichand (professor da Universidade de Zurique, na Alemanha), Onício Leal-Neto (pós-doutorando em Zurique) e Guilherme Prokisch (matemático pela Universidade de São Paulo - USP) em artigo no qual analisam dados de uma plataforma que tenta captar o avanço do vírus de acordo com sintomas relatados pela população.
Os pesquisadores usaram informações de usuários do Colab, startup que faz parcerias com governos e, em épocas normais, é usado mais como um aplicativo de celular para ajudar na zeladoria urbana, onde os usuários indicam problemas na cidade, como lixeiras quebradas e buracos na rua.
A empresa se juntou com a Epitrack, uma companhia especializada em detectar epidemias. Da junção saiu o Brasil Sem Corona, que reúne e analisa as respostas dos participantes. A análise feita pelos pesquisadores usou informações de usuários da cidade paulista de Santo André, onde o app tem parceria com a prefeitura e os resultados seriam mais consistentes.
Do total de cerca de 1,5 mil usuários da cidade, os pesquisadores analisaram as respostas de 350 deles, grupo do qual tinham dados socioeconômicos. "O dado não é perfeito. Qualquer aplicativo vai ter uma amostra mais jovem e com renda maior do que a população, mas tudo isso foi levado em conta", afirma Linchand, doutor em economia política e governo pela Universidade de Harvard.
Os dados mostram que as pessoas de classes sociais A e B (com renda domiciliar acima de R$ 8.159,00) relatam ter cada vez menos sintomas. Já as pessoas de classe D e E (renda abaixo de R$ 1.892,00) relatam mais sintomas ao longo das semanas.
O aplicativo mostra uma concentração maior de casos sintomáticos em regiões mais vulneráveis da cidade. "É natural esperar que, diante disso, a pressão das classes mais altas para reabertura da economia se tornem mais fortes, com custos potenciais bastante altos para aqueles que ainda estão expostos à curva em fase de crescimento do número de casos, e sem as mesmas condições de acessar equipamentos de saúde com capacidade suficiente para atender demanda elevada", conclui o relatório dos pesquisadores.
"Quem é de classes mais pobres é forçado a sair com um pouco mais de frequência, não tem a mesma condição de pedir delivery, por exemplo. Mas quando faz isso, o tem feito só para fins essenciais - tem se atentado mais a quarentena", afirma Linchand.
"A gente começou com essa história de que a doença era democrática, que não respeitava limites ou fronteiras. Mas é inegável que acaba sendo um desafio maior para as pessoas de renda mais baixa. Não é uma vantagem do coronavírus, existe uma série de doenças negligenciadas por não terem uma prevalência em pessoas com renda maior", diz Leal-Neto, doutor em saúde pública e epidemiologia pela Fundação Oswaldo Cruz.
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