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Indústria

- Publicada em 23 de Março de 2020 às 03:00

Indústria gaúcha muda rotina com a pandemia

Tramontina anunciou o fechamento de todas as suas fábricas

Tramontina anunciou o fechamento de todas as suas fábricas


/DEBORA ZANDONAI/DIVULGAÇÃO/JC
Desde o início da semana passada, a atividade industrial de Caxias do Sul e da Região da Serra passa por período de estresse elevado, que tem provocado redução drástica na produção, aliada à necessidade de adotar medidas para ajustar as jornadas de trabalho ao momento atual de crise provocada pela propagação do coronavírus (Covid-19).
Desde o início da semana passada, a atividade industrial de Caxias do Sul e da Região da Serra passa por período de estresse elevado, que tem provocado redução drástica na produção, aliada à necessidade de adotar medidas para ajustar as jornadas de trabalho ao momento atual de crise provocada pela propagação do coronavírus (Covid-19).
Principal segmento industrial da região, o metalmecânico já tem definido um acordo entre empresas e trabalhadores para reduzir a atividade usando mecanismos como férias coletivas, banco de horas, flexibilização e trabalho remoto, entre outros.
As duas maiores empresas da cidade, Marcopolo e Randon, definiram férias coletivas de 20 dias, a partir desta segunda-feira, para todos os trabalhadores. Mesmo caminho foi seguido pela Soprano, de Farroupilha, e Tramontina, que optou pelo fechamento de suas fábricas.
"Neste momento, o mais importante para todos é a preservação da saúde dos colaboradores. Imaginamos que boa parte das empresas adote férias coletivas e siga as recomendações dos órgãos públicos. Além disso, muitas companhias já aplicaram a modalidade de home office nas áreas administrativas", ressalta Paulo Spanholi, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Rio Grande do Sul (Simecs, entidade representativa da classe empresarial, que definiu uma convenção coletiva de trabalho extraordinária em conjunto com o Sindicato dos Metalúrgicos e a Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia.
Ele afirma não ser possível projetar uma parada geral do setor, mas reforça que o foco do momento é garantir que todos estejam seguros e que as medidas de prevenção sejam seguidas. Manifesta preocupação especial com as micro e pequenas empresas, que têm no fluxo de caixa seu maior desafio, considerando que, em geral, já têm limitação financeira.
Ainda sem qualquer perspectiva de como as próximas semanas se desenrolarão, Spanholi já estima dificuldades, principalmente em relação à queda de produção e vendas. Segundo o dirigente, com o funcionamento limitado de todas as atividades, será inevitável administrar um período desafiador até o mercado estabilizar. "Justamente por não se ter uma previsão de quando isso irá ocorrer, não temos como projetar o cenário do futuro", reforça.
O presidente do Simecs enfatiza que o período é de riscos, que exige o fortalecimento de ações preventivas para inibir a proliferação da Covid-19. "Precisamos estar cientes que a situação é grave e seguir as medidas de segurança e orientações determinadas pelos órgãos de saúde. Neste momento, o foco principal é a saúde da população", salienta.

Restrições financeiras agravam situação dos pequenos negócios

Presidente da Microempa, entidade que representa mais de 2,6 mil empresas associadas de micro e pequeno portes de Caxias do Sul e Região Nordeste, a empresária Luiza Colombo Dutra assinala que o primeiro setor prejudicado foi o de eventos, comunicação e turismo, a partir da suspensão de atividades programadas. Ela destaca que o trabalho tem sido tentar evitar o cancelamento e a devolução de recursos recebidos. "Se não houver essa compreensão, poderemos ter sérios problemas em muitas empresas", projeta.
Já para empresas de outros setores, como de Tecnologia da Informação, a crise está trazendo oportunidades. Boa parte das pequenas empresas está adotando o regime de home office, o que tem gerado demandas adicionais. Mas há movimentos de avaliação de uma parada total nas próximas duas semanas, acompanhando demais segmentos da sociedade. "Neste momento, a prioridade é a pessoa, na sequência, o negócio. Existe a expectativa de dificuldades pós-crise e precisamos nos preparar para este momento, inclusive para reajustes nas matérias-primas, que já são sinalizados", alertou.
Outro aspecto positivo é o encaminhamento de uma nova cultura no empresariado, que verá, no trabalho remoto, uma possibilidade de reduzir espaços, partindo para o uso de videoconferências em lugar de reuniões. Também avalia como saldo positivo a ajuda que assessorias têm oferecido às empresas para dirimir dúvidas. "Com essa mobilização, está surgindo uma relação diferente, de mais empatia, com o associativismo sendo efetivamente praticado", assinala.
Além da preocupação com os colaboradores, com adoção de medidas preventivas e de mudanças no formato de trabalho, a presidente aponta para o cenário de restrição financeira dos pequenos negócios em razão da falta de capital de giro e dificuldades para contrair empréstimos. Revela, no entanto, que bancos de menor porte e cooperativas têm criado linhas para amenizar a situação, mas nada tem sido tratado em relação a limites e cartão de crédito. Ela ainda cita a questão dos impostos como outra preocupação. "Existem muitas incertezas se devemos ou não fechar tudo até que a situação fique mais clara. Os reflexos dessa situação sendo avaliados por meio de assessorias jurídicas", comenta.

Doença frustra expectativas no setor moveleiro

A crise do coronavírus derrubou as expectativas promissoras que a indústria moveleira de Bento Gonçalves tinha para o ano. De acordo com Vinicius Benini, presidente do Sindmóveis, as empresas estavam investindo e apostando nos resultados da Movelsul, que ocorreria na semana passada, mas foi suspensa. "Agora, teremos que readequar e achar alternativas para sobreviver como nas crises passadas", observa.
Benini afirma que, desde as primeiras informações sobre a doença, as empresas adotaram medidas, como férias coletivas, redução na jornada e flexibilização, além do uso de home office em boa parte dos setores administrativos e adoção de escalas nos refeitórios para distanciar mesas. Na semana passada, foi fechado acordo com o sindicato dos trabalhadores para que essas medidas fossem oficializadas.
O presidente avalia que ainda é cedo para avaliações mais profundas, mas salienta que as providências adotadas visam reduzir os impactos.

Indústria do plástico e construção civil reduzem quadros em atividade

A indústria de transformação de plástico de Caxias do Sul deve reduzir entre 30% e 40% o número de trabalhadores na produção por meio de medidas como férias coletivas, individuais ou flexibilização de jornada. Gelson Oliveira, presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Nordeste Gaúcho, assinala que será priorizada a dispensa daqueles que estão nos grupos de risco. "Vamos manter os mais jovens que podem vir para o trabalho com locomoção própria, sem uso de ônibus", observou.
O regime de home office será usado na área técnica, enquanto, no administrativo, a tendência é pela flexibilização, com escalas e rodízios, reduzindo as pessoas trabalhando em um mesmo horário e local. "Não dá para planejar nada neste momento. O ideal seria todos ficarem em casa e um integrante da família, fora do grupo de risco, assumir as funções externas."
Oliveira adianta que as medidas serão tomadas com a evolução da doença, destacando que pode chegar o momento de paralisar tudo. Mas ele reconhece que o estrago financeiro será grande, com recessão enorme e endividamento de pessoas físicas e jurídicas. "Agora, a preocupação é com a vida", assinala. Oliveira salienta que os insumos petroquímicos estão sendo entregues em prazos mais longos, ao mesmo tempo em que houve queda drástica na demanda por pedidos.
A indústria da construção civil de Caxias do Sul estima reduzir em até 80% as atividades na cidade pelas próximas semanas. Entre as medidas para dispensar a presença de funcionários estão uso de banco de horas e férias coletivas. De acordo com Rodrigo Postiglioni, presidente do Sinduscon, a tendência é parar o maior número possível de obras em andamento, além de não dar início a novas. O home office também está sendo usado pela maioria das construtoras em suas áreas de administração e projetos.